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Diário das Sessões do Senado

uma mata que se desbasta, cousa que se não íaz em parte alguma do mundo.

Ainda há pouco, em França, depois da Grande Guerra, estudou-se a maneira de reconstituir as matas que se tinham destruído durante esse período e notou-se nas conclusões a que se chegou que, a não ser nas regiões devastadas pelos combates, apesar de se ter de acudir às necessidades d"e toda a ordem, resultantes do estado de guerra, o desbaste nas árvores foi de tal maneira metódico que as matas não sofreram com isso e, portanto, todos os esforços convergiram para a re-constituíção das matas destruídas pela guerra.

Em Portugal nada disto se faz, atendendo ao feitio' português de deixar correr, e no Algarve tem-se assistido ao desbaste de quási todo o arvoredo.

A serra de Tavira, há 400 anos, era constituída por grandes quantidades de árvores, a ponto de ter sido publicada uma ordem no tempo de D. João III1, proibindo o corte das árvores na Serra de Tavira, corte destinado a construções navais.

Pois hoje, quem percorrer a Serra, de Tavira não encontra uma árvore, sequer, com o porte necessário para poder ser aproveitado para aquelas construções.

Todas as árvores desapareceram pela acção combinada de três causas.

Uma pela seara feita pelos pastores, não por processos scientíficos, mas ún:ca e simplesmente arrasando para terem o terreno desembaraçado, para poderem pastar à vontade os seus gados.

Outra ocasionada pelo dente da cabra, que não deixa crescer a árvore que nasce, e ainda uma terceira causa, quando isso se fazia, a destruição das árvores adultas para as construções navais, para a obtenção de lenha e carvão.

E claro, desde que se conheçam as causas, torna-se necessário e natural destruir a sua acção « é por isso que se encontra no Senado esta proposta de lei, que procura obstar a esses inconvenientes e que deve merecer de todos nós o maior carinho.

O Sr. Lima Alves referiu-se a um facto que é realmente para ponderar: a mão de obra que hoje é cara para fazer as mo-reas que é uma cousa que deve custar hoje muito dinheiro quando se trate de

grandes extensões de terreno o que se não dá ali, onde cada indivíduo tem o seu bocadinho, fá-lo por suas mãos, ou com dois ou três homens a quem paga para isso.

E por isso que eu apresentei este projecto de lei e entendo que deve ser aprovado.. Contudo,. eu não ouvi o princípio das considerações do Sr. Lima Alves e por isso peço a V. Ex.a me dê a palavra em ocasião oportuna para poder prestar qualquer informação a dúvidas suscitadas.

O Sr. Lima Alveâ: — Eu tinha compreendido as boas intenções do meu colega apresentante do projecto de lei e ouvi com muita atenção, como merece, as suas considerações., e devo declarar que essas considerações não me levam ainda a mudar de opinião.

S/ Ex.a trouxe aqui uns apontamentos qae são efectivamente muito interessantes a respeito das quantidades de água caídas entre Faro e o Oíuadiana.

Desde umas dezenas de anos para cá tem sido sucessiva a diminuição da queda de água naquelas regiões.

S. Ex." atribuía este facto à desarbori-zação e é aí que vejo uma certa contradição.

O Sr. Silvestre Falcão (interrompendo}: — Na minha qualidade de algarvio é natural que conheça o Algarve um pouco melhor do que V. Ex.a

A arborização das serras faz-se espontaneamente. Basta fazer uma moreia e sem que se proceda a qualquer arborização dentro em pouco crescem espontaneamente azinheiros, alfarrobeiras, etc.

Estabtlere-se diálogo entre os /Srs. Lima Alves e Silvestre Falcão.

O Orador:—Eu tive ocasião de atravessar todo o Algarve- é vi extensões imensas de matos.

O Sr. Silvestre Falcão: — Pertenciam a muitos donos.

O Orador: — Não vi quaisquer indícios de que pertencessem a donos diferentes-essas extensões de matos.