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16 DE DEZEMBRO DE 1963 435

secos por qualquer modo dependentes do arbítrio do cada indivíduo ou dos seus semelhantes, em termos de perderem a lazão do sei logo que, por deficiência de idade ou do inteligência, cada um seja inapto para os conhecer, ou logo que a satisfação dessas exigências pareça aos outros homens desprovida de interesse Fundados na vontade de Deus e intrinsecamente constitutivos da essência humana, impõem-se ao respeito do coda um e de todos os homens - são ditames das leis próprias do ser, por imposição das quais o para além do conhecimento ou do alvedrio, quando existam, cada ente reclama o bem que lhe é próprio e que constitui o complemento e realização da sua forma.
A firmar-se quo todos os «apetites» revelados pela natureza e enquanto conformes a esta se impõem ao respeito dou homens não significa, todavia, que todos eira devam ou, sequer, possam satisfazer-se paralelamente e em toda a extensão e plenitude.
A simples consideração dos tendências que se desenvolvem no homem nos demonstra que elas se orientam, em geral, para bens caducos e parcelares, incapazes de satisfazerem aos anseios profundos da alma humana, bens que muitas vezes silo contraditórios e, em alguns aspectos, chegam a mostrar-se nefastos, a luz de outras solicitações mais importantes Forque apresentam estes caracteres, tais bens silo vistos, normalmente, como meios para atingiu outros a quo se atribui maior valor, circunstância que, por si, Logo faz escalonai e hierarquizar os fins demandados pelo homem, e, por outra parte, à medida que pendemos do preferência para certos bens e os procuramos atingir como hm, mais nos apegamos a eles e nos sentimos inclinados a esquecer os outros tudo, no homem, se move por amor ao bem, e amar é optar e, por tanto, renunciar em verdade, por sobre todas as suas tendências parcelares e, quantas vezos, antagónicos, o homem aspira a um bem superior e unitário, que vê como ideal e considera o único apto para lhe proporcionai a felicidade.
Em tudo isto se evidencia, afinal, a unidade do ser humano, a qual há-de corresponder a uma forma único, cujo complemento representará, precisamente, a satisfação integral e harmónica de toda a personalidade.
A realização ou actuação do homem não reside, por conseguinte, na satisfação desordenada de todas as inclinações e energias que o animam, mas na conquista de um bem superior, capaz de preencher o forma que é lei do seu sei - um bem que constitui o fim para o qual tudo, no homem, se acho ordenado, e que por isso deve chamar-se fim último.
Na medida em que é livre e, por conseguinte, senhor dos seus actos e dos seus destinos, o homem tem de respeitar a hierarquia dos fins, através dos quais caminha pura o seu fim último sob pena de se negar e destruir a si mesmo, tudo nele - desde as tendências inferiores até o poder de «criar» por meio da realização das formas novas que concebo- há-de subordinai-se o coordenar-se em função de fim supremo.
Por isso Sertillanges adverte que a mais bela e nobre das criações humanas é o próprio homem, e que, aliás, a criação interior e exterior se acham ligadas entre si podendo agir sobre o mundo externo, agindo sobre nós mesmos, ó no trabalho interior que encontramos a melhor condição para o exterior, tal como o sentido humano das obras externas só pode ser dado pelo princípio imanente donde derivam K por isso a aite, que, pura Santo Tomás, é a recta ratio factibilum depende da moral, que é a recta ratio agibilium (...)
Assim se chega, pela interpretação metafísica do homem o do seu agir, à conclusão de que a ética - a ético que já Aristóteles fundava na noção de acto, como realização da forma de cada ser, e no de ideal, bem como na natureza divina das formas (...) - não constitui mera superstrutura sobreposto à natureza por convenção e rotina é, no campo da actividade racionai e livre, a expressão de exigência ontológica do completamento do forma pela realização do fim último, e mergulha, por conseguinte, as suas raízes no âmago do essência do homem e da própria origem dele - a criação por Deus, autor e ordenador de tudo quanto existe.
Estas verdades, que a razão natural pode alcançar, ficam, todavia, muito aquém daqueles estiemos de elevação e nobreza a que a Revelação cristã eleva o homem, ao mesmo tempo que desvenda a pequenez e caducidade de todas as realidades humanas e terrenas quando contempladas em si mesmas.
Pelos motivos acima expostos, é exactamente a concepção do homem inspirada por essa Revelação que, em especial, nos interessa desenvolver aqui Ti atando-se, porém, de fazer uma exposição objectiva do doutrina crista, vamos muito propositadamente seguir de perto os ensinamentos ao alguns especialistas autorizados, embora com a preocupação de os sistematizar e sintetizar por foi ma a pôr em evidência os aspectos de maior relevo paia o nosso tema
Segundo essa doutrina, Deus - Deus pessoal, omnipotente e eterno, uno e trino - criou todo o universo por um acto de amor Transbordando de amor pelo Bem infinito que n'Ele se contém melhor, que Ele pessoalmente e -, quis que esse Bem se manifestasse foro de si membro, e por isso criou seres que reflectissem e propagassem o mesmo Bem, e assim honrassem aquele Amor que os faz brotar do nada
Por tal motivo, os próprios seres inertes ou irracionais, por mais. insignificantes que pareçam, têm, no plano da citação, uma grande dignidade, pois se destinam a glorificar Deus e, encaminhados pelas leis causais por Ele ditadas, exercem essa missão com fidelidade e encontram nela a plena satisfação da sua essência e toda a felicidade de que são capazes.
Esses entes, todavia, cumprem o seu fim apenas objectivamente - não conhecem a razão sublime por que existem, nem podem, por consequência, saborear o Amor que lhes dou o sei Mas tão grande é esse Amor que Deus quis móis ainda quis criar seres dotados de razão e de liberdade, aptos para o conhecerem, amarem e servirem, em de, por essa forma, manifestarem consciente e livremente a glória divina e, como prémio, alcançarem a bem-aventurança de contemplar a Deus, face a face.
Do entre esses seres se destaca o homem, composto de corpo e de alma, e por isso especialmente dotado para pi estai a Deus a glorificação subjectiva no meio dos seres materiais do universo. Animado de alma espiritual e imortal, provido de razão e de liberdade, o homem é capaz de conhecer a Deus e de O amar e servir, e, pelo corpo material, enformado pela alma, vive no mundo e em contacto com ele e em condições, portanto, de contemplar nas coisas as grandezas divinas e de nelas fazer frutificar a irradiação de Deus, colaborando na glorificação objectiva que a Ele pi esta toda a natureza.
As exigências do Amor criador vão, contudo, ainda mais longe. Deus não é apenas a «causa primeira» ou «primeiro

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(...) Obra o volume citados, pp. 231 e 282
(34) Vide, sobre este e outros pontos versados atrás, Sertillanges, obra e volume citados, pp. 282 e segs o 175 e sega, e o vol I, pp 104 o segs