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912 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.° 74

De ponderar é ainda que, dentro da Universidade ou à sua ilharga, a preparação de quadros técnicos médios poderá vir a ocupar uma posição de segundo plano. O ensino tecnológico ficaria assim minimizado. E deve pretender-se que ele se agigante, como ensino fundamental que deve ser.
Uma subalternidade dos ensinos tecnológicos poderia vir a comprometer a eficiência de uma função cuja- importância social e económica nada tem de secundário, antes se apresentando como uma necessidade basilar do desenvolvimento e do progresso colectivo.
A conclusão semelhante se chegará quando se reflectir sobre as diferentes características, quer de organização, quer do teor do ensino a ministrar ao nível médio e ao nível dos ensinos superiores.
A distinção entre um e outro não ó apenas, nem é fundamentalmente, a do maior ou menor número de anos de duração dos cursos. Trate-se antes de dois tipos de adestramento e formação mental que visam fins que não coincidem e que por isso postulam métodos diferentes. Mesmo nos casos em que o objecto do estudo (e, portanto, o programa escolar) pudesse, por hipótese, ser o mesmo, o ensino teria de ser diferente, dominado num caso pela preocupação da aplicação prática e da acção, no outro pela indagação teórica e da compreensão profunda, como ponto de partida do pensamento criador, que, em última análise, se pretende despertar e educar. Esta diversidade de orientação e metodologia depõe contra a solução a que já se fez referência, e que consistiria em considerar como cursos médios os primeiros anos dos cursos superiores.
A primeira vista parece que foram adoptadas soluções deste tipo nos bacharelatos ultimamente criados. A justificação de tais providências deve procurar-se na necessidade de aproveitar o elevado número dos que, tendo realizado parte dos cursos superiores, não conseguiram, por circunstâncias várias, chegar ao fim dos respectivos "curricula". Não se deve considerar um bacharelato como curso médio porque lhe faltam completamente as características deste nível de ensino. E, nos sectores ligados ao ensino, um curso superior incompleto, ocasionalmente aproveitado em face das necessidades da docência da parte complementar do ensino obrigatório e até das deficiências dos quadros de mestres para os ensinos secundários.
Mas importa acentuar que os primeiros anos das licenciaturas (que dão direito a um título universitário) constituem a parte geral dessas licenciaturas, por vezes comum a algumas delas.
Nessa parte geral predominam es disciplinas fundamentais e formativas. As matérias de especialização e as de aplicação, concentradas nos últimos anos das licenciaturas, são aquelas que de facto, pelo seu carácter misto de formação e de informação, apresentam características de um ensino técnico.
E aqui o momento azado para um exame crítico: até que ponto se justificam o intelectualismo, a especulação teórica e o pronunciado pendor doutrinal que, na sequência de tradições medievais, continuam a inspirar, numa época de intensa mutabilidade cultural, todo o ensino universitário?
Os saberes técnicos impregnam toda a convivência entre os homens e dos homens com as máquinas. Pois não será indispensável que as elites universitárias, mergulhadas como quaisquer homens em ambientes "artificiais", saibam como esses saberes (têm transformado os ambientes "naturais"?

18. Os métodos educativos (qualquer que seja o âmbito da palavra educação) constituem sempre uma técnica que tem por fim o desenvolvimento do homem, como animal racional e como pessoa.
A educação é, de facto, uma técnica de cultivo que pretende forjar a vontade, disciplinar o homem em face de uma lógica e de certos valores morais, permitindo-lhe a adaptação ia sucessivas formas de vivência e de convivência. Onde buscar os cultivadores?
Talvez se possa dizer com mais propriedade que a educação é uma sucessão de técnicas de aperfeiçoamento humano que se vão aplicando à medida que o homem sobe a escada etária, subindo de facto a sucessivos níveis culturais até atingir o estado de adulto - etimològicamente adulta, o que cresceu. Assim se justificaria que se falasse de ensino infantil, de ensino primário e por aí fora, até ao ensino pós-universitário. Compreender-se-ia deste modo que as metodologias dos ensinos clássicos diferissem das metodologias dos ensinos artísticos; que a educação física não use os mesmos processos que a educação política, etc. Cada fase de cultivo exige um cultivador eficaz.
Nas primeiras idades do homem - esse caniço pensante de Pascal! -, as metodologias preocupam-se, antes do mais, com a transmissão de gestos habituais e de significados úteis para a vida própria das crianças, como elementos da sociedade. Essa educação infantil foi, durante milénios, como já ficou dito, encargo da família, até ao momento em que os pedagogos criaram o ensino pré-primário, que, indo mais além, se preocupa já com a compreensão de experiências simples, a realizar pelas crianças. Como preparar as jardineiras da infância?
Logo com esse primeiro grau de ensino se revelou a influência da escola sobre a família, influência que se foi acentuando à medida que outros ensinos se revelaram aos jovens. Nos níveis culturais baixos pode a criança - repete-se! - ensinar os adultos insuficientemente formados. A escola, unificadora, tem-se empenhado no sentido de eliminar barreiras entre as camadas sociais.
A reforçar as preocupações já expressas neste parecer, no que respeita à preparação de professores para todos os graus de ensino, evoca-se o pedagogo francês Roger Gal, que escreve numa das suas obras 12:

... [o problema] que condiciona todos os outros ê o dos métodos que presidem à formação dos próprios mestres.

E acrescenta:

Do recrutamento dos futuros mestres, dos métodos empregados na sua formação e no seu aperfeiçoamento durante todo o tempo que exercem o magistério dependem a orientação e a eficácia da pedagogia escolar e pós-escolar. As profissões, cada vez mais numerosas, sentem a necessidade de racionalizar as suas técnicas de formação e de aperfeiçoamento. Em nenhum domínio, porém, essa adaptação é mais necessária do que na pedagogia, onde mudam incessantemente todos os dados: as crianças, que hoje não são iguais às do nosso tempo de crianças, as ciências e as artes, as técnicas, as condições locais, as necessidades de vida, tudo mudou e muda.

O Ministério da Educação Nacional tem-se preocupado com este problema pedagógico, que, segundo Gal, con-

12 Roger Gal, Où en est la Pédagogie!, Buchet-Chastel, Paris, 1961.