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15 DE JULHO DE 1971 919

trangeiros muito reclamados, surgiram, com êxito em escolas privadas, já que o Estado não adoptou o figurino. A margem dos ramos clássicos criaram-se cursos orientados para novas profissões, muitas das quais aceites por grandes empresas, ao jeito "do que se faz lá fora". O movimento impôs-se, dentro até de um regime de concorrência, e o Estado foi, como atrás se relembrou, até ao ponto de sancionar muitos dos cursos de escolas privadas, dando mesmo a algumas o estatuto de ensino superior.
A definição de novo ramo de ensino agora instituído como pós-secundário, como profissional e como terminal permitir-lhe-á englobar, pelo menos conceitualmente, muitos dos cursos particulares que surgiram. E, como é evidente, não convirá referir-se-lhes agora o título já concedido de instituições que conferem diplomas de grau superior - parece, portanto, que nada impede que dentro do ensino a criar, designado por politécnico, venta a haver escolas superiores.
Essa intenção resulta aliás com toda a nitidez da base IV, a qual estabelece que "os actuais estabelecimentos, públicos ou particulares que ministrem ensino pós-secundário que pela índole, natureza e duração dos cursos ou pelos títulos conferidos se correlacionem com o ensino politécnico, poderão ser integrados no âmbito deste".
Reconhece-se a necessidade e alcance de uma reforma desta natureza, que não deixará, aliás, de deparar com as maiores dificuldades.

27. Prevê-se no projecto a possibilidade de colaboração das empresas e dos órgãos da administração pública na instituição e gestão dos estabelecimentos do novo grau de ensino. Tal colaboração fica dependente de regimes a definir pelo Ministro da Educação Nacional, mas desde já se prevêm para ela dois aspectos: a participação na elaboração e actualização dos programas dos cursos e a prestação do serviço docente pelo (pessoal das referidas entidades, que para esse efeito disponha das convenientes qualificações. Deve esclarecer-se que desde o Estatuto do Ensino Técnico Profissional se tem procurado assegurar a colaboração da empresa privada com a escola, interessando as grandes unidades (fabris e as companhias que absorvem pessoal formado pelo ensino técnico secundário das comissões de patronato. A prestação de serviço docente por pessoal superior das empresas e o exercício da mestrança de oficinas escolares por técnicos das actividades produtivas (necessariamente em horários reduzidos) já estão previstos na legislação do ensino técnico profissional. O alargamento do mesmo regime ao novo ensino é de aplaudir.
Faz ainda o projecto alusão à cooperação das autarquias locais e das empresais particulares na criação e manutenção dos cursos, atribuindo-se prioridade para efeitos de criação oficial aos estabelecimentos que passam vir a dispor dessa colaboração. Encontra-se também uma menção a trabalhos práticos em unidades modelos ou a estágios orientados em empresas e serviços.
O número reduzido de empresas portuguesas de certo porte e o nível cultural médio dos dirigentes das empresas médias não permitem, porém, que se possa alimentar grandes esperanças sabre a generalização desse regime de colaboração que tão útil seria em todos os vastos territórios portugueses, principalmente nas regiões rurais no início de industrialização.
Não há dúvida de que uma articulação mais directa entre a actividade escolar e o ciclo das actividades económicas, bem como a possibilidade de actualização dos programas, métodos e equipamentos sob pressão directa da evolução tecnológica, seriam de grande alcance.
Procurar uma maior maleabilidade sob o ponto de vista da regionalização do ensino, aproveitando pessoal, oficinas e escritórios em funcionamento, seria experiência tentadora.
Tudo isto, porém, sem prejuízo das finalidades básicas do ensino: servir o bem comum e, as necessidades colectivas, e não os interesses de qualquer grupo ou sector económico nacional.

28. Instruir é transmitir conhecimentos. Instruir-se é adquirir, apreender e absorver conhecimentos.
Não conhecimentos quaisquer, avulsos, tumultuosamente descarregados a granel. Um ensino é um conjunto de factos não apenas encadeados e disciplinados, mas também correlacionados de maneira que um elo de determinada cadeia disciplinar se entrelaça com anéis de outras disciplinas.
Um ensino mão é um amontoado de pedras, de cal ou de saibro, mas uma construção estruturada, que se vai erguendo porque se põe em obra, dentro de uma forma prèviamente projectada, cada elemento pré-fabricado segundo determinado molde.
Ensinar é construir sem precipitações, de acordo com um projecto elaborado com tempo.
A instrução não nos aparece como um quadro de input-output em que as informações emitidas pelo corpo docente igualam as informações retidas pelo corpo discente.
E muito menos é captação de mensagens anónimas muitas vezes designada como "escola da experiência da vida".
Sem diálogo com um professor não há, em geral, ensino eficaz. As máquinas que transmitem frases e imagens ou mesmo as pessoas capazes de substituir tais máquinas não conseguem contribuir para a "formação" de um elemento construtivo.
Não há saber absorvido passivamente pela leitura, pela voz ou pela imagem.
De facto só se sabe quando se sabe fazer, isto é, quando se é capaz de transformar os conhecimentos em acções eficazes.
Isto só se consegue ouvindo e trocando impressões, meditando com tempo, relacionando, levando em conta os erros cometidos.
Mesmo um ensino programado usando computadores, embora faça reflectir crianças e adolescentes, exige professores à ilharga dos alunos que estão recebendo, por escrito, conhecimentos e problemas armazenados em bibliotecas de "memórias" organizadas por equipas numerosas de professores distintos.
Os pedagogos da Escola de Educação da Universidade de Harvard chegaram à conclusão 19 de que para aprender um programa de seis anos de Aritmética Elementar (dos 6 aos 11 anos, por exemplo) seriam necessários 50 000 esclarecimentos verbais por parte de professores ou monitores. Tal conclusão, a ser verdadeira, poria em causa os métodos usados no ensino actual, em todos os países e na quase generalidade das escolas de hoje.
Acresce - e nunca o devemos esquecer! - que o ensino de hoje se dirige a uma massa de crianças, de jovens e de adolescentes que vão elevando as suas construções educativas com uma rapidez que torna difícil a meditação e a correlação de factos.

19 B. F. Skinner, The technology of teaching, Meredith Corporation, ed. 1968.
Repare-se que è lícito o emprego da expressão "Tecnologia do ensino", pois o ensino assemelha-se hoje, de facto, a uma produção em sério que devia ser controlada.