924 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 74
O helenista e pedagogo Alfred Croiset na sua L'Éducation de la démocratie escreveu, nos fins do século passado: "Chamo educação técnica à que permite a cada um exercer o seu ofício, o melhor possível."
Isto escrevia um francês ilustre nos finais do século passado, quando os operárias manifestavam as suas ferramentas e as máquinas eram engenhos que poucos sabiam dirigir. Escrevia-o ainda na esteira do pensamento de Cournot que admitiria a identidade de técnica e prática.
Foi à sombra deste sentido da palavra que em França se estruturou o ensino técnico que era apenas um ensino de "artes e ofícios", ou seja um ensino sistemático de ofícios manuais destinados a classes inferiores da sociedade burguesa.
Não havia pejo em o filiar no aprendizado die artífices treinados para uma destreza de mãos. E evocavam-se as corporações, os corpos de ofícios, as hansas e as guildas que, efectivamente, tinham sido, noutras eras, verdadeiras escolas de artesãos, de oficiais, de mestres, de mercadores. E evocaram-se também, em seguimento à fase do ensino doméstico de mestre a aprendiz, as manufacturas, onde os aprendizes, ainda sem saberem ler e escrever, se adestravam, colectivamente, a tingir as lãs, a fundir as ligas metálicas, a preparar o velame e a cordoaria.
E como as manufacturas se fossem encarregando de grandes fornecimentos, e de grandes construções para as cortes, para as marinhas e para os exércitos, vá de justificar por elas a constituição de aulas e de academias paira a preparação daqueles que deviam constituir os corpos de mestres e de oficiais régios que, esses, já deviam ter instrução e educação necessárias à orientação superior dos projectos do Estado.
Os homens de engenho tinham sido aqueles que com boa habilidade e destreza de anãos também tinham espírito inventivo para engenharem maquinistas. Delas as mais úteis... eram os engenhos die guerra.
E assim a palavra engenheiro é, no século XIV, título sem categoria que designa o chefe dos carpinteiros, ferreiros e pedreiros que se aplicam no ataque e na defesa das fortificações.
Entre nós havia os mestres das ferrarias, os mestres das ferrarias e os mestres das obrais reais, só mimoseados com o título de engenheiro no segundo quartel do século XVI.
E apesar de alguns deles - muito poucos! - terem sido agraciados com a Cruz do Sant'Iago ou com a Cruz de Cristo, a nobreza tinha sobre a sua categoria social a mesma arreigada convicção já expressa por Platão: "Se lhe chamas homem de engenhos é para o injuriar, pois não darás a tua filha ao seu filho."
Os nossos tracistas - era assim que correntemente chamavam aos que traçavam os planos da construção, do ataque ou da defesa de praças fortes - começaram nos princípios do século XVII a adquirir o ensino teórico dado na Aula da Esfera: a Aritmética, a Geometria, a Astronomia, o Desenho.
Entre nós é criada, a 13 de Julho de 1647, a Aula de Fortificação e Arquitectura Militar orientada pelo engenheiro-mor do Reino, e durante quase dois séculos é um fervilhar de criações de aulas e academias, para a formação dos oficiais do corpo de engenheiros ou da marinha.
C) Passe-se agora ao conceito germânico da evolução da palavra técnico identificada, a partir de Kant, como aproximada do conceito de cientifico e teórico.
É o que significa uma frase tal como: "Este insecto tem por nome técnico Deuterosminthurus", já de uso corrente nos países latinos.
Este conceito kantismo de aproximar a técnica à ciência permitiu que na Alemanha os institutos superiores técnicos alcançassem ràpidamente a categoria social das Universidades.
38. É em face da interpenetração, durante mais de um século, das dualidades técnica-prática, de origem latina, e técnica-ciência, de origem germânica, que devemos buscar o actual sentido do termo politécnico ligado ao ensino de várias técnicas.
Em França, as estradas e as pontes foram, durante séculos, traçadas e construídas sob a orientação de frades e monges de algumas ordens beneditinas, que, por isso, se chamaram frades (e ipadres) pontífices. No século XVII criou-se um serviço público, o "Gabinete dos desenhadores do rei", transformado no dia 1 de Fevereiro de 1716 em "Corpo de Pontes e Calçadas".
Este Corpo foi alargando sucessivamente os seus fins à elaboração e desenho de cartas topográficas e à construção de obras públicas.
A necessidade de melhorar a formação teórica dos engenheiras, subengenheiros e condutores do Corpo levou, em 1747, à criação da mais antiga das Escolas de Engenharia Civil do mundo: a Escola de "Ponts et Chaussées".
As funções dos engenheiros saídos desta Escola foram, ao decorrer dos anos, alargadas sucessivamente a domínios técnicos que pouco tinham com a engenharia civil.
Apodada de aristocrática, a Escola esteve para desaparecer na Revolução Francesa, sendo, porém, defendida por Mirabeau na Assembleia Constituinte, em 1790, e conservada sob condição de consentir na admissão dos seus alunos por concurso realizado em todas as províncias francesas.
A Escola passou a chamar-se Nacional e, pela Lei de 19 de Janeiro de 1791, a recrutar os seus alunos não por atestado por parte dos "grandes" do Reino, mas por concurso público para um número de vagas anunciado prèviamente.
Nesta época já existiam em Paris duas outras grandes escolas: a Escola de Minas, criada em 1778, e a Escola Real Militar, criada em 1751, destinada a oficiais das armas que já então se chamavam cientificas (savantes) ou sejam a artilharia e a engenharia. Ambas estas Escolas adoptaram em 1791 o regime do concurso da Escola de Pontes, regime que ainda é hoje o adoptado em França para todas as grandes escolas.
A preparação para os concursos realizava-se dentro das próprias escolas e era feita por alunos do último ano, que se chamavam monitores. Reconhecida como insuficiente a tal preparação dada por monitores, propôs o director da École Nationale des Ponts e Chaussées (Lamblardie) que fosse criada uma escola preparatória que se encarregasse de ministrar durante dois anos os conhecimentos de base indispensáveis aos cursos de aplicação que eram os das três grandes escolas então existentes.
Assim se criou, em 28 de Setembro de 1794, a École Centralle des Travaux Publiques, um amo depois cognominada Escola Politécnica.
Em sucessivas adaptações, a Escola Politécnica de Paris tornou-se na mais cotada das grandes escolas francesas. O título de "ancien élève de l'École Polytechnique" (ancien X) foi sempre dos mais categorizadas da França.
Há mais de um século que só podem aspirar a apresentarem-se ao concurso de admissão à Escola (à l'X, diz-se em francês) os alunos mais distintos que se sujeitam, durante dois anos, a uma intensiva preparação de Matemáticas Superiores, de Física, de Química, de Ciências Geológicas, etc.