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926 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.° 74

O "Corpo Cathedrático de Lisboa", formado pelos vinte e dois lentes nomeados para o Instituto, apresentou à Câmara dos Deputados um requerimento pedindo a discussão da matéria.
Contra tal requerimento se pronunciou a "Comissão da Instrução Pública" da Câmara. O extracto da acta de 30 de Janeiro de 1836 termina assim:

Ia discutir-se este parecer, mas moveu-se sobre ele um vivo debate, em que tomaram parte os Srs. Barjona, Passos (Manuel), Seabra, Leonel, etc., que o Sr. Presidente, vendo os espíritos da Assembleia irritados; e perdendo as esperanças de a poder tranquilizar, levantou a sessão; eram 11 horas e meia da noite.

Houve, de facto, larga discussão no Parlamento e fora dele. Nela tomou Alexandre Herculano parte muito honrosa.
O visconde de Sá da Bandeira, Ministro interino da Guerra, e Vieira de Castro, Ministro interino da Marinha no Governo que estava no Poder em 11 de Janeiro de 1837, criaram, na dependência do Ministério da Guerra, a Escola Politécnica 22, tendo como fim principal "habilitar alunos com os conhecimentos necessários para seguirem cursos das escolas de aplicação 22 do Exército ou da Marinha, oferecendo ao mesmo tempo os meios de propagar a instrução geral superior e de adquirir a subsidiária para outras profissões científicas".
Lembre-se que o primeiro director da nossa Escola Politécnica foi (e até 1851) José Feliciano da Silva Costa, que, embora diplomado pela Academia de Fortificação, Artilharia e Desenho, fora enviado em 1824 para Paris, a fim de obter o diploma de engenheiro "de ponts et chaussées", com o qual regressou de França em 1831.
Foi, já general de divisão, o primeiro chefe do Estado-Maior do Exército.
E, para se vincar bem a influência que a orgânica escolar francesa teve sobre a nossa, relembra-se ainda que a Academia Politécnica do Porto, criada em 13 de Janeiro de 1837, para substituir a Academia de Marinha e Comércio, foi dotada com um curso de "engenheiro de pontes e estradas".
No preâmbulo do Decreto de 11 de Janeiro de 1837 acrescentava-se:

Ela [a Escola Politécnica] pode fornecer os subsídios necessários às diversas ciências e artes, como à ciência do engenheiro civil e construtor; à Medicina; à Cirurgia; à Veterinária; à ciência da Administração e comércio; à agricultura; à ciência do mineiro e ao estudo de artes e ofícios.

Apesar dos cursos preparatórios serem, considerados superiores, a admissão à Escola fazia-se após aprovação num exame cujo programa era de Gramática e Composição nas Línguas Portuguesa e Francesa, Aritmética, Lógica, e Desenho.
Mas logo que apareceram os nossos liceus, decalcados também sobre os liceus criados por Napoleão, como escolas superiores, o figurino da Escola Politécnica francesa foi-se impondo entre nós. A diferença era a seguinte: não havendo em Portugal as secções universitárias dos liceus franceses (Mathématiques Spéciales) era na nossa Escola Politécnica que se fazia todo o ensino preparatório. O prestígio da nossa Escola Politécnica afirma-se nos artigos que Herculano escreveu sobre ela em 1841 e 1843. No fim do século passado e nos princípio deste século XX, as preparatórias para, as nossas "armas científicas" ocupavam na nossa Escola Politécnica e na nossa Academia Politécnica (Porto) três anos, enquanto em França ocupavam quatro: dois de Mathématiques Spéciales e dois de Escola Politécnica após um concurso de entrada considerado como a mais alta barreira do ensino francês.
Ora o prestígio do nome "Escola Politécnica" (só do nome!) era tão grande que em França davam equivalência do nosso curso ao francês para a entrada sem prestação de provas nas grandes Escolas de Paris.
Uma plêiade de ilustres engenheiros portugueses, desde Ressano Garcia a Freire de Andrade, entraram sem concurso mais grandes Escolas francesas, como se fossem franceses oriundos da Escola Politécnica de Paris. E quando a nossa Escola Politécnica passou a designar-se Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa os seus diplomados deixaram de usufruir dessa vantagem!
As designações têm sua importância... e podem, só por si, dar prestígio.
A Câmara considera que não se deve induzir em erro seja quem for pela junção a palavra ensino do vocábulo "politécnico" tão prestigiado internacionalmente.

40. Seria die facto inadequado vir transformar um antigo "ensino médio" em "ensino politécnico".
A Câmara propõe a designação de ensino tecnológico, de resto muito honrosa.
Este nome adapta-se às exigências do tempo em que se vive.
Tem sido aliás essa, desde sempre, a evolução histórica das instituições escolares. Quando os Estudos Gerais deixaram de corresponder às necessidades culturais que nasceram com a Idade Moderna, surgiram as Universidades renascentistas. Com a crise em que estas mergulharam e o ocaso do humanismo clássico, vimos aparecer as Universidades da Reforma e da Contra-Reforma. O intelectualismo foi servido por novas escolas, no tempo do iluminismo esclarecido, e foi ainda a relutância da Universidade napoleónica em acolher no seu seio os saberes técnicos, tornados indispensáveis pela revolução industrial, que levou à criação das grandes escolas superiores francesas que serviram de modelo às mais célebres escolas superiores do continente europeu - repete-se.
O ensino tecnológico, nesta nossa época, em que a produção se faz em série por máquinas não apenas automáticas mas até controladas, minuto a minuto, por outras máquinas, nesta época em que a automatização se tornou automação, nasce espontaneamente como um novo ensino. Nasce da necessidade premente de difundir os conhecimentos necessários às classes superiores. Virá a ser uma expressão histórica, característica da época da sociedade da abundância.
A denominação para um ramo novo que procura servir para o futuro não deve procurar-se no passado.
As técnicas da produção nesta nossa "sociedade de consumo" são dominadas por preocupações de gestão administrativa que muito pouco tem de comum com o "escritório comercial" da pequena empresa do primeiro quartel deste século e quase relação alguma tem com os "serviços administrativos" da empresa média dos anos cinquenta.
Mergulhamos efectivamente numa revolução tecnológica que abarca todos os sectores económicos clássicos: o primário que tanto interessa à agricultura, à pecuária e à

22 As duas designações "Escola Politécnica" e "Escolas de Aplicação" foram importadas de Paris...