930 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.° 74
Da França nos têm vindo muitas das inspirações pedagógicas das nossas reformas. Da Alemanha nos vieo a reforma do Prof. Jaime Moniz que instituiu o regime de classe.
Bastante menos temos importado da Grã-Bretanha no que respeita, ao ensino e à pedagogia considerada como ciência.
Aconteceu, porém, que, a partir de 1930, algumas centenas de graduados universitários portugueses foram à Grã-Bretanha em busca de especializações. Actualmente frequentam as Universidades inglesas uns cinquenta bolseiros já licenciados pelas Universidades portuguesas.
Deste contacto académico, que dura há quarenta anos, advieram para o nosso país ideiam mais assentes sobre o valor das Universidades britânicas e dos seus laboratórios de investigação, e até do nível cívico da grande nação, que no princípio deste século foi cabeça do maior império que jamais houve no mundo.
O grande exemplo de coragem colectiva que a Grã-Bretanha deu ao mundo no decorrer do último conflito mundial criou, por toda a parte, um ambiente de admiração pelo sistema escolar que se julgou estar na, base da reacção do povo britânico perante a adversidade.
Por outro lado, o podar de rápida adaptação britânica e a resolução inabalável dos governos de conservar para o seu país um lugar relevante no mundo da produção industrial, mão deixou de reforçar a admiração mundial por um ensino completo e urgentemente inovado ao ritmo da mutabilidade da tecnologia.
Inovar não é apenas mudar, mas sim progredir num sentido escolhido com base num propósito deliberado.
Não se inova em educação sem inquéritos, sem grupos de trabalho, sem inúmeros, sem intentos assentes.
Nada é mais difícil do que reformar o ensino num mundo que parece frívolo, onde desvairadas gentes buscam novidades que são apenas modas e não inovações.
Um ensino que prepara a inovação é aquele que pode servir o futuro.
A Grã-Bretanha fundamentou as suas reformas dos ensinos superior e universitário em doze relatórios organizados por grupos de trabalho.
O mais famoso desses relatórios foi o Report of the (Robbins) Commitee on Higher Education (H. M. S. O., 1963), que partiu de uma estoutra emaranhada (quando olhada do continente), onde Universidades e escolas normais (teacher training colleges) se misturavam com uma coorte de colégios de educação avançada (colleges of furthor education), os mais importantes dos quais eram os colégios de tecnologia, alguns ligados a Universidades e agora designados por politécnicos.
Não há dúvida de que esta palavra foi agora importada da Inglaterra por pedagogos portugueses.
Relembremos que a Grã-Bretanha teve até ao século XIX apenas sete Universidades. Além das celebérrimas Universidades medievais de Oxford e de Cambridge, das quatro escocesas (St. Andrews, 1411; Glasgow, 1451; Aiberdeen, 1494; Edimburgo, 1583) e do Trinity Gollege de Dublim (1592), só no século XIX apareceram outras, e não mais de quatro: Durham (1832), Londres (1836), Belfast (1849), Manchéster (1880).
Estas quatro Universidades novecentistas eram, aliás, resultados de fusões de alguns colleges de ensinos avançados. A de Londres, por exemplo, é hoje uma união de meia centena de instituições educativas, entre as quais brilham o University College (1826), o King's College (1829), a London School of Economias and Political Sciences (1895) e o Imperial College of Science and Technology (1907).
Em 1960 já havia na Grã-Bretanha (e Irlanda do Norte) vinte e duas Universidades e hoje existem quarenta e seis, muitas das quais uniões de antigos colégios de ensinos avançados.
Tendo em vista o imobilismo das velhas Universidades britânicas, pode-se classificar de revolucionária a modificação verificada. A razão única de tanta inovação é apenas a convicção geral ide que a Inglaterra só poderia não apenas manter mas desenvolver o seu poderio industrial "produzindo", em elevado número, engenheiros, tecnólogos e administradores de empresas.
Isto não quer, porém, dizer, que a Grã-Bretanha tivesse abandonado os ensinos tradicionais humanistas, em que as suas célebres escolas superiores e secundárias tanto se salientaram. Continuam esses estudos, mas a principal preocupação das escolas primárias e das escolas secundárias de hoje é ensinar bem a Matemática e a língua inglesa. Ensinar a língua vincular da cultura e ensinar a língua da ciência de hoje!
Até ao final da 2.a Guerra Mundial as Universidades e colégios avançados tinham como fim principal a formação do "gentleman".
Para além disto, hoje existe na Grã-Bretanha, como por toda a parte a preocupação de se tentar a educação de todos.
Para 1972-1973 está prevista a escolaridade obrigatória até aos 16 anos. Para isso, virão a ser necessários fundos públicos que ultrapassem os 190 milhões de contos anuais, que é aquilo com que o Estado concorre, hoje, para a manutenção das escolas.
Logo depois da guerra criaram-se, em elevado número, colleges of advanced techonology e escolas normais 24. Depois, tem sido uma impressionante sucessão de novos estabelecimentos de ensinos avançados, dedicados à formação de especialistas variadíssimos, como iremos ver.
Existem hoje mais de 7200 colégios médios e superiores, abrangendo ensinos de cerca de 150 especialidades e frequentados quer em regime de tempo integral quer em regime de tempo parcial, uma vez em cursos nocturnos, outras em cursos diurnos. A população escolar de todos estes estabelecimentos é de cerca de 3 milhões de estudantes, incluindo neles cerca de 2,2 milhões de adultos, em ensinos nocturnos.
Algumas destas instituições asseguram ensinos por correspondência, muitos dos quais concedem diplomas reconhecidos pelo C. N. A. A. (Council National Academic Awards).
O grande problema das escolas de further education tem sido a valorização dos seus diplomas pelo C. N. A. A.
46. O Relatório Robbins é o primeiro documento oficial que pretende organizar o ensino superior britânico, tendo em vista a pressão demográfica, sobre as Universidades e o conceito, já mundialmente aceite, da igualdade ás possibilidades para todos os estudantes oriundos quer das Grammar Schools, quer das Modern Schools ou das Júnior Technical Schools.
Como é sabido, existia no Ministério das Finanças (a "Tesouraria") britânico, desde 1919, uma comissão permanente (U. G. C. - University Grants Committee) encarregada de distribuir as subvenções do Estado pelas Universidades. Esta comissão, com outra designação, já existia no Board of Education desde 1889. Nesta data, a verba total a distribuir era de 16 000 libras. Hoje, a verba aproxi-
24 Na Grã-Bretanha todos os futuros professores têm de passar 1 a 4 anos por um teacher training college da Inglaterra ou por um college of education da Escócia.