934 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.° 74
Consegue-se mesmo avaliar o poder da instrução de determinado país criando um índice que poderia ser, por exemplo, um somatório de parcelas ponderadas por coeficientes que pretendessem dar a importância relativa dos vários níveis de educação. É possível, também, fixar o número médio de anos de instrução para as populações activas.
Todos estes números subiram em todos os países avançados e em desenvolvimento, a partir de 1960, e o aumento tem vindo a acelerar-se. O chamado "stock de instrução" à disposição da indústria americana, que aumentara em 1957 a roda de 3 por cento anualmente, passou a aumentar de 4 por cento de 1960 a 1970 30.
É evidente que tal acréscimo anual só é possível quando, ao lado do regime normal de ensino (tempo integral), existem regimes de tempo parcial (diurno e nocturno), ensinos por correspondência e métodos áudio-visuais com monitores formados.
A existência de todos estes meios ó indispensável se se quiser melhorar o nível do trabalhador.
A Câmara é de parecer que se devem, dar, não apenas no ensino tecnológico, mas em todos os ramos e graus de ensino, possibilidades de avanço educacional àqueles que estão empregados e a todos quantos se desviaram do trilho dos estudos normais, isto é, os adultos que em certa altura da sua vida escolar perderam a sequência de um curso e pretendem não perder oportunidades de retomar estudos, mesmo que sejam respeitantes a .especialização diferente daquela que procuravam quando crianças e adolescentes.
Diga-se de passagem que, sendo em número elevado os indivíduos que "deixaram de estudar" e que desejam retomar estudos, não tem grande significado qualquer dos índices que se baseiam nos anos de estudos passados em educação formal, porquanto, como se tem repetido à saciedade, os conhecimentos deixam ràpidamente de ser úteis na experiência profissional.
Os concursos de promoção que alguns organismos de Estado realizam sistematicamente têm por base a convicção de que a preparação paru os concursos obriga, pelo menos, a uma periódica renovação de conhecimentos.
55. Têm-se feito alguns estudos sobre o custo da educação 31, supondo-se que a educação é um bem produzido para durar e para servir à produção de outros bens.
É muito difícil estabelecer critérios rígidos e universalmente aceites para fixar o custo da educação e quase impossível comparar Custos determinados em épocas diferentes, mesmo que se apliquem as mesmas normas. Não é apenas o dispêndio dos estudos, mas também aquilo que se deixou de ganhar. No princípio do século, com um regime de ensino obrigatório completamente diferente do de hoje, as crianças podiam-se empregar (e houve milhões que se empregaram) com 12 anos. Aqueles que estudavam até aos 25 anos não ganhavam os salários que podiam ter obtido como tantos e tantos adolescentes que entraram nas actividades produtivas logo que deram os estudos por terminados ou quando os interromperam.
Contas bem feitas, bem podemos chegar a conclusões surpreendentes, tais como que qualquer operário especializado vale mais do que a máquina dispendiosa com que opera e que a tripulação de um avião militar tenha custado 'mais do que o aparelho que tripula.
E, dado o custo de uma produção tecnológica, bem se pode concluir que o investimento mais rentável seja o que uma nação faz no campo da educação 32.
Os recursos de um país não são apenas aqueles que o seu meio ambiente lhe pode fornecer, mas principalmente os humanos, capazes de criar e de aplicar os meios bastantes para transformar as matérias-primas em produtos e, ainda, capazes de inovar, de substituir o útil por um "mais útil".
As inovações tecnológicas só podem brotar dos cérebros dos homens formados, isto é, dos homens que, moldados por normas e por valores, possuem conhecimentos e métodos capazes de procurar e encontrar outros 33.
Como se disse, a educação não visa apenas transmitir uma herança e integrar uma geração nova no conjunto das culturas onde conviveram gerações anteriores, mas também criar as qualidades de adaptação a novas fornias, de vivência e de convivência, que as ciências e tecnologias farão surgir.
A aquisição de conhecimentos é hoje secundária na instrução. O fundamental é ensinar métodos capazes de orientar eficazmente a busca de conhecimentos.
E o que é preciso nas escolas técnicas é saber transmitir métodos para a busca de conhecimentos úteis para uma acção.
Isto quer dizer que cada indivíduo instruído pela escola toma uma atitude de expectativa (...) do inesperada. Tal atitude acaba por impregnar toda a sociedade e cria um ambiente de aceitação prévia das mutabilidade? dos vários elementos culturais 34.
A escola de hoje não se limita a transmitir as experiências passadas, nem a catalogação de conhecimentos encadeados em sucessões de causa e efeito. À saída da escola, cada indivíduo deve estar apto e ir depositando no ficheiro "História" muitas das fichas pacientemente elaboradas durante os seus estudos, e a substituí-las por outras que ele mesmo elaborou no decorrer da instrução permanente que tem de acompanhar qualquer actividade profissional.
56. O nosso país tem de reformar e inovar o ensino!
Tem de o fazer promovendo em conjunto toda a população, de aquém e de além mar!
Tem de prosseguir no trabalho insano de eliminar os níveis culturais mais baixos dos estratos sociais da nossa nação plurirracial.
Serão precisas, cada vez em maior número, pessoas conscientemente responsáveis para assegurar uma produção aumentada e para porfiar na promoção permanente, no sentido de se atingirem altos níveis de conhecimentos especializados.
Não é só da escola que depende vir a alcançar-se este desiderato. Se, infelizmente, se verifica que a família demissionou do seu papel de educadora da infância, outras instituições deverão tomar o testemunho da estafeta. É, sem dúvida, oportuno o alargamento do papel da escola para todos àqueles que têm menos de sete anos.
30 Cf. T. W. Schultz, Economic Value of Education, Columbia University Prese, Nova Iorque, 1963.
31 P. Salomon, Théorie Economia et Stratégie d'enseignement, Lib. Gl. de Droit et de Jur., Paris, 1966; M. Ferreira Leite. P. Lynch, K. Norris, J. Sheen and J. Vaizey, The Economics of Education Costing. Fundação Calouste Gulbenlkian, ed. 1968, 1969 e 1970.
32 Cf. F. Harbison and C. A. Myers, Education, Man Power and Economic Growth, Mac Graw Hill Ed., Nora Iorque, 1964.
33 Cf. L. Armand et M. Drancourt, Plaidoyer pour l'avenir, Calman-Levy Ed., 1961; dos mesmos autores, Le pari européen. Fayard, ed. 1968; D. Morse e A. M. Warner, Technological Innovation and Society, Columbia University Press, Nova Iorque, 1966.
34 E. B. Wesley and C. P. Wronsky, Teaching Social Studies in High School, Heath Ed., Boston, 1958.