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938 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.° 74

Estes números indicaram, aos peritos do Ministério da Educação Nacional francês que as Faculdades de Ciências não estavam organizadas para assegurar o ensino superior das tecnologias com extensão bastante para corresponder às necessidades da produção.
A maior dificuldade revelada foi a da falta de professores, porquanto a Universidade exige títulos da carreira docente: "agregação", "doutoramento", "obras publicadas".
O problema "número um" é - já ficou dito! - o da formação adequada do professorado habilitado para os diferentes graus de ensino. É evidente que será mais difícil equacioná-lo para os ensinos superiores e será grande erro preencher novas vagas com pessoal sem as qualificações bastantes.
Como a França dispõe dos seus tradicionais "Corpos de Engenheiros do Estado" (Pontes e Calçadas, Minas, Telecomunicações, Engenharia Naval, etc.), escolheu a solução de criar os institutos universitários de tecnologia com quadros docentes constituídos em grande parte por engenheiros oriundos das grandes escolas e com larga prática de realizações técnicas.
O corpo docente dos I. U. T. franceses é hoje formado por professores universitários para as cadeiras de base e por professores eventuais ("maîtres de conférences" e "maîtres assistants"), que, se forem engenheiros, acumulam as suas funções nos "corpos" com a docência de disciplinas técnicas ligadas às suas actividades. Estes professores não são titulares. São realizadores: são um misto de homo sapiens e de homo faber. Oriundos da escola politécnica e das "grandes escolas" que a prolongam, são considerados do escol francês, a nível equivalente aos dos professores universitários. Falta-lhes, porém, preparação pedagógica.

65. Haverá que fazer um apontamento sobre o que há poucos anos se chamou em França educação tecnológica.
Como é sabido, um decreto do Governo Francês datado de 6 de Janeiro de 1959 declarou que dez anos depois o ensino francês seria obrigatório até aos 16 anos. Discutiu-se muito sobre a exequibilidade da providência. É que a obrigatoriedade de um ensino é condicionada: o jovem só deve ser obrigado a ir à escola se houver escola apetrechada para o receber. Escola apetrechada quer dizer muito: edifício, mobiliário, orgânica... e professores. Na verdade, a obrigatoriedade do ensino tem de ser dupla: obriga em primeiro lugar o Estado ou a entidade pública encarregada de promover o ensino e só depois obriga o aluno.
Feitas as contas, verificou-se ser impossível elevar a obrigatoriedade dos 14 anos para os 16 anos dentro do curto prazo fixado no decreto. Deve acrescentar-se que, efectivamente, em 1968-1969 muitos departamentos franceses só tinham escolarizados 60 por cento dos seus jovens de 14, 15 e 16 anos.
Também se discutiu muito se havia possibilidade de um tronco comum de "disciplinas formativas" até aos 16 anos ou se se devia alargar o sistema de opções.
Lembremos que hoje em França se consideram fundamentais e obrigatórios os ensinos da língua pátria, da matemática e de uma língua estrangeira. Esta pode ser, aliás, escolhida entre sete (como é óbvio, nem todas as escolas secundárias têm os sete ensinos linguísticos).
Entre as matérias optativas considerou-se que se devia colocar uma disciplina pela qual, durante anos sucessivos, os alunos pudessem tomar conhecimento fundamentado das "realidades técnicas" que enchem o meio ambiente artificial.
Estas opções técnicas foram introduzidas desde a chamada "quatrième" 36, normalmente frequentada, por alunos de 14 anos.
Esta disciplina de propedêutica técnica seria a continuação dos "trabalhos manuais educativos" da instrução primária e das "lições de coisas" das classes 6.ª e 5.ª (correspondentes ao nosso actual ciclo comum).
Desde 1961-1962 até 1968-1969 (enquanto se preparava a execução da escolaridade obrigatória até aos 16 anos) escreveram-se muitas circulares e ordens de serviço para precisar o objectivo da nova disciplina de opção, principalmente porque urgia a preparação dos respectivos professores. Qual a formação de base a exigir-lhes? Engenheiros por escolas superiores não classificadas como "grandes escolas"? Condutores de obras públicas e agentes técnicos? Licenciados em ciências aplicadas?
Discutiu-se muito sobre a formação pedagógica desses professores e também sobre os programas da cadeira.
Tem-se debatido largamente se o ensino propedêutico técnico podia ser ou não formativo.
Haverá aqui que relembrar que não há formação sem informação e que, em geral, qualquer informação pode ser base de formação. Depende tudo da metodologia da transmissão de conhecimentos.
Os pedagogos que defendem a ideia (que parece aceitável) de que a nova disciplina pode ser formativa começaram nos seus escritos a falar em educação tecnológica 37 .
O reitor Jean Capelle, que foi director-geral dos Ensinos no período das discussões, escreveu, pela primeira vez, a palavra tecnologia a respeito da cadeira optativa designada nas instruções:

Introduzindo a tecnologia no ensino secundário, quis-se dar um lugar, entre as disciplinas de formação geral, aos "logos" da técnica, isto é, à metodologia das operações pelas quais a matéria é transformada, segundo o engenho dos homens, para servir à realização de determinadas funções.

O mesmo pedagogo francês foi de opinião de que tal disciplina devia ser escolhida pelos estudantes que se desejavam orientar para os ensinos clássicos, pois "teriam assim a única ocasião de adquirir alguma familiaridade com o mundo da técnica, que é, aliás, o da nossa existência".
No entender de Capelle, o ensino dessa "propedêutica técnica", que mostraria como pode ser transformada a matéria, não deve ser ministrado "com o espírito da produção".
Verifica-se, assim, que a nova disciplina foi incluída no ciclo de observação e de orientação que é o ensino obrigatório como centro de interesses tecnocognitivos para os alunos que optarem por ela (actualmente cerca de 25 por cento em "quatrième" e 20 por cento em "troisième").
É evidente que o ensino desta disciplina, integrado no 1.° ciclo secundário, nada tem de comum com qualquer das disciplinas dos conjuntos que conduzem a diplo-

36 Em França, depois de cinco anos de ensino primário (dos 6 aos 11, para terminar aos 12), existe um ensino secundário de quatro anos (dos 11 ou 12 aos 14 ou 15, para terminar aos 16) legalmente obrigatório. Este ensino é dado em colégios de ensino secundário, em colégios de ensino geral e também em liceus de 1.° ciclo. O ano mais baixo (o nosso 1.° ano do ciclo comum) chama-se "classe de sixième" a que se segue a "classe de cinquième e depois a de "quatrième".
37 Cf. Yves Deforge. L'Éducation Technologique, Casterman. ed. 1970; Ardoino- Propos actuels sur l'Éducation, Paris, 1969.