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15 DE JULHO DE 1971 925

Depois de tal preparação em secções universitárias (embora funcionem nos grandes liceus...), só se apresentam concurso de admissão aqueles que os professores considerem suficientemente habilitados.
De toda a França concorrem, para 300 lugares, cerca de 300 jovens de escol. Em geral só são aprovados 800, mas só entram os 300 primeiros da lista ordenada por classificação.
Aqueles que ficaram aprovados mas não conseguiram entrar têm várias alternativas: concorrer a outras "grandes escolas", apresentarem-se aos certificados de licenciatura das Faculdades de Ciências ou voltarem às "Mathematiques Spéciales" dos "grandes" liceus para se apresentarem novamente ao concurso "de l'X" no ano seguinte.
A Escola Politécnica de Paris depende do Ministério da Defesa. A sua orgânica é militar. Os alunos são considerados cadetes, recebera soldo e a. frequência da Escola ó contada "mo de bom e efectivo serviço nas suas futuras carreiras profissionais nos Corpos de engenheiros do Estado francês. São submetidos a um regime de internato, com horários tão rígidos e sobrecarregados, que só um escol intelectual pode suportar.
O ensino nesta escola é considerado de muito alto nível e diferente de todos os outros ensinos. Só também uma élite seleccionada o pode seguir. Ensino teórico e de investigação não conduz - apôs dois anos de estudo - a nenhum diploma. E composto de cadeiras de Matemáticas, de Mecânica dos Sólidos, de Metrologia, de Estatística e Cálculo de Probabilidades, de Química, de Física, de Química-Física, de Electrónica, de Análise Operacional e de várias outras matérias em regime de opção.
À saída da Escola Politécnica os alunos escolhem, por ordem de classificação e até às vagas existentes, os estudos que desejam prosseguir. À cabeça da lista vêm as duas velhas "grandes" Escolas: Ponts et Chaussées e Mines. Os alunos oriundos da Politécnica entram sem concurso no 2.º ano das grandes escolas de aplicação.
Mas uma vez diplomados por qualquer delas o primeiro título que um engenheiro dos corpos de Estado evoca é o de "antigo aluno da Escola Politécnica". Um francês pode ser engenheiro civil de pontes e calçadas sem passar pela Escola Politécnica, mas mão poderá ingressar no corpo de engenheiros do Estado do Serviço de Ronts et Chaussées, sem ser "antigo aluno da Escola Politécnica".
As escolas politécnicas que surgiram em vários países procuraram decalcar os seus estatutos pela de Paris, viveiro inconfundível do escol francês.
Embora com o título de "escolas superiores técnicas", os politécnicos alemães não deixaram de seguir o que durante mais de século e meio se fez na École Polytechnique, na Ponts et Chaussées e na École de Mines, de Paris.

39. É possível que a designação ensino politécnico tenha, sido buscada para trazer ao novo ramo proposto o lustro que advém do título francês de "polytechnicien" e é, porventura, possível que fosse adoptado, mercê do prestígio que durante o fontismo e depois na construção dos nossos partas e dos massas caminhos de ferro, tiveram entre nós os engenheiros franceses que vieram trabalhar para Portugal oriundos da Escola die Pontes (e, portanto, da Escola Politécnica).
Este prestígio foi tal que muitos portugueses foram estudar nas duas escolas parisienses, e que as nossas Escola Politécnica, Academia Politécnica, e Escola do Exército procuraram (dentro do possível, pois ainda não havia liceus no nosso país) decalcar os seus regulamentos sobre os delas.
Tem-se repetido à saciedade que o Instituto de Ciências Físicas e Matemáticas criado no Diário do Governo de 12 de Novembro de 1835 (mas que nunca funcionou), foi uma tentativa, para estabelecer entre nós uma escola politécnica com escolas especiais, n maneira francesa. Vejamos:
O Ministro Rodrigo da Fonseca, que fazia parte de um dos ministérios do então marquês de Saldanha, no preâmbulo do decreto apresentado à Rainha (com data de 7 de Novembro), refere-se ao seu decreto dá obrigatoriedade do ensino primário (datado de 7 de Setembro), e escreve:

Este passo era sem dúvida o mais difícil em matéria de instrução, e o que naturalmente devia preceder a todos os outros; mas, para que estas salutares medidas tenham completo efeito é necessário que os conhecimentos superiores, e principalmente as Ciências Físicas e Matemáticas, de cujas luzes está pendente todo o progresso da indústria e riqueza nacional, sejam facilitados e vulgarizados o mais que ser possa.

Refere-se em seguida, o Ministro do Reino à insuficiência das aulas e das academias existentes, bem como ao reduzidíssimo número de estudantes que frequentavam as Faculdades de Matemática e Filosofia da Universidade.
O instituto a criar absorveria todas as aulas e academias existentes (que eram extintas) e compor-se-ia de cinco escalas especiais (Engenharia Civil, Engenharia Militar, Marinha, Pilotagem e Comércio), para cujos diplomas seriam necessários determinados agrupamentos das 24 cadeirais expressamente designadas no decreto. Os cursos de Engenharia teriam cinco anos, o da Marinha e Comércio três e o de Pilotagem dois.
Nada se diz sobre preparatórios, mas o artigo 11.° do decreto é curioso:

Três anos depois do estabelecimento dos liceus, ninguém poderá matricular-se no Instituto como aluno de qualquer das Escolas Especiais, sem apresentar certidão de aprovação em. Gramática Geral e Particular da Língua Portuguesa, Francês, Elementos de Matemática, Desenho, Geografia e História Geral e Particular de Portugal.

Parece, de facto, curioso este antigo, porque os liceus só vieram a ser criados por Passos Manuel um ano depois (em 17 de Novembro de 1836). 0 primeiro liceu português (o de Lisboa) entrou, porém, em funcionamento só em 1839, o segundo (o do Porto) em 1840. Outros se seguiram a partir de 1845.
Como é sabido, nesses tempos agitados dos Governos dos marechais, os Ministérios sucediam-se, a meses ou a semanas, uns dos outros. É sabido também que o ilustre pedagogo Luís Mouzinho de Albuquerque, que a 2 de Dezembro sucedeu a Rodrigo da Fonseca, publicou um decreto suspendendo os diplomas de 7 de Setembro (Regulamento da Instrução Primária Obrigatória e Criação do Conselho Superior de Instrução Pública) e o decreto citado de 7 de Novembro (extinguindo aulas e academias e criando o citado Instituto de Ciências Físicas e Matemáticas).
A razão de tão infelizes decisões do distinto autor das "Ideias sobre o estabelecimento da Instrução Pública" só pode assentar na cegueira política.
Notemos, no entanto, que em nenhum dos sessenta artigos deste decreto de 7 de Novembro de 1835 aparece a palavra técnica ou a palavra politécnica.