O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

922 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.° 74

A descentralização de fábricas e empresas é evidentemente condicionada pelas disponibilidades em energia e facilidades dos meios de transporte.
Regionalismo e tradicionalismo dinâmicos que constituem - na expressão de Gilberto Freyre - um "passado utilizável" 21 não serão postos abruptamente de parte, mormente em tenras como as do ultramar português, onde as necessidades sociais s económicas têm, necessariamente, de se reflectirem no planeamento da cobertura escolar.

33. A formação dos quadros técnicos nas províncias ultramaritimas assume, de facto, particular importância que merece ênfase.
A vastidão geográfica dos territórios, comportando vários regiões a etnias, e a fraca densidade dos recursos humanos disponíveis para actuarem nos escalões secundário, médio e superior impõem indubitavelmente uma aceleração do esforço da formação daqueles que "sabem por saber fazer".
Até ao presente, tem sido quase exclusivamente com pessoal formado pelas escolas metropolitanas que se tem ocorrido às prementes necessidades de técnicos das províncias ultramarinas. A instituição dos estudos universitários em Angola e Moçambique representou um relevante progresso para a formação de mão-de-obra de alto nível, mas as necessidades de pessoal são tão intensas e tão vultosas que a metrópole terá de continuar a prestar importante contributo, postulado, de resto, pela própria integração espiritual dos territórios que, no seu conjunto, constituem a Nação Portuguesa.
O facto não pode deixar de ser ponderado no momento em que se procura programar uma política nacional de instrução técnica.

34. O número e a distribuição dos estabelecimentos de ensino médio em Angola e Moçambique são insuficientes: três Institutos Industriais (Luanda, Nova Lisboa e Lourenço Marques), outros três Institutos Comerciais (Luanda, Sá da Bandeira e Lourenço Marques), um Instituto misto (Industrial e Comercial na Beira), duas Escolas de Regentes Agrícolas (Tchivinguiro e Vila Pery).
Haverá, necessàriamente, que intensificar a cobertura escolar em sector tão primordial para as economias ultramarinas, de acordo com o previsto nas bases V e VI do projecto. E não se deixará de ser "modernista e progressista", se sempre, se tiver presente o que Gilberto Freyre escreveu em 1968:

Região e tradição, não são forças extintas: continuam vivas. Nos próprios Estados Unidos, onde as influências no sentido da uniformização de comportamento e de atitudes da população nacional pareciam vir destruindo quase por completo as diferenças regionais nesses sectores, recente inquérito sociológico, realizado pelos sociólogos Norval D. Glenn e J. L. Simmons, e de que um dá notícia no n.° 2, vol. 31, do Public Opinion Quarterly daquele país, indica pendores em sentido contrário.

Do inquérito referido por Gilberto Freyre parece poder inferir-se que as tecnologias mão têm a força bastante para só por si uniformizarem as culturas regionais. A tradição e o regionalismo oferecem grande resistência perante os impactos das técnicas.

35. É de facto muito grande a influência do ambiente sobre o homem.
Todos sabemos que as regiões do mundo apresentam uma diversidade sem limites e que a distribuição da população do globo é altamente influenciável pelos diversos meios onde o homem pode viver.
O homem vive actuando sobre o mundo que o rodeia. As sociedades estratificam-se em função dos recursos naturais que o homem extrai da terra e que depois vai transformando para satisfazer as suas crescentes necessidades. A extracção de matérias-primas, depois a sua transformação até aos produtos acabados, têm criado um desfalque tal no meio natural que se pôs em perigo o equilíbrio ecológico.
Em poucos milhares de anos o homem degradou a Natureza. O animal humano serviu-se da inteligência para intensificar de tal forma a pilhagem sistemática do seu meio ambiente que a Natureza se desnaturalizou. Pode de facto assegurar-se que o homem delapidou tão intensamente os recursos naturais que se aventa a hipótese de ter preparado a degenerescência e porventura o desaparecimento da sua espécie.
Patenteou-se que a annuência do homem sobre o meio pode vir a revestir aspectos tão trágicos como os das calamidades naturais.
No último século foi-se avolumando a convicção de que as técnicas, inovando continuamente, não apenas atacavam elementos culturais e tradicionais, mas também podiam destruir os próprios fundamentos económicos de sociedades instaladas em determinadas regiões. Hoje tem-se a certeza de que as técnicas mais avançadas alcançam muitos dos seus fins, prejudicando vastas regiões do globo.
Alarmado com a obra inconsciente levada a cabo em regiões industrializadas - onde o ar, o solo e as águas estão poluídos -, procura-se agora fazer reviver a Natureza enferma, pela aplicação judiciosa, de novas técnicas.
Quando se diz uma nova técnica referimo-nos, as mais das vezes, a uma técnica mais eficiente do que outra empregada anteriormente para atingir os mesmos fins.
Nunca se deve esquecer que os conhecimentos que um técnico aplica hoje mia sua actividade profissional foram absorvidos depois da sua saída da escola.
Um técnico deixaria de o ser se não dispusesse da técnica mais eficaz, pois a eficiência é a característica primordial de todas as técnicas.
Um técnico tem de renovar continuadamente o seu ferramental de teorias, de treino e de receitas. Pode fazê-lo recorrendo ao ensino especial a que chamámos já educação permanente. Mas as mais das vezes fá-lo recorrendo à possibilidade de adquirir por si só aquilo que não sabe.
As escolas são, paradoxalmente, produtores de autodidiactas. O que uma escola qualquer deve ensinar aos seus alunos é a técnica que permite a cada um renovar a sua preparação. Ora, só se remova aquilo que já existe. A escola transmite, de facto, um acervo de conhecimentos úteis e é a partir dele que o diplomado se vai actualizando.

36. Precisemos a nomenclatura. Lembre-se que chamamos disciplina a um subconjunto de conhecimentos em torno de um centro de interesse. Assina a Informática é a disciplina (muitas vezes se lhe chama ciência) que tem como centro de interesse o "tratamento lógico e automático dos dados da informação"; a Zoologia agrupa os conhecimentos que têm os animais como centro de interesse.

21 Gilberto Freyre, Região e Tradição, 2.ª ed., Gráfica Record Editora, 1968.