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25 DE FEVEREIRO DE 1944 67

mentário especial por mostrarem o alto interesse que o Estado Novo continua a manifestar pelo progresso cultural da Nação.
Antes de mais nada cumpre sublinhar, com o maior entusiasmo, o que pode bem definir-se como o acontecimento de maior alcance registado entre nós no último século no capítulo de belas artes. Refiro-me ao aparecimento do 1.° volume do Inventário Artístico de Portugal, a que está procedendo a Academia Nacional de Belas Artes. Facto de transcendentes consequências, ele ficará, só por si, a assinalar uma época histórica e uma orientação governativa em matéria de política de valorização espiritual.
Como V. Ex.ªs sabem, muito melhor do que eu, o conhecimento e classificação da riqueza artística do País, pública ou privada, profana, religiosa ou militar, era uma aspiração que vinha de muito longe. No tempo do rei D. João V, grande protector das artes e dos artistas, chegaram a esboçar-se algumas medidas nesse sentido, como se depreende do alvará de 20 de Agosto de 1721, em que se encarrega a Academia Real da História de recolher as antiguidades que possam interessar ao conhecimento do nosso passado. No século findo várias tentativas conhecemos, sem sequência, com intuitos semelhantes. E todas as juntas, sociedades, conselhos o comissões de belas artes que, através de muitas e variadas disposições legislativas, têm surgido e desaparecido inscreveram sempre o inventário artístico de Portugal como uma das suas fundamentais razões d.e ser. Mas foi necessário que o Estado Novo criasse a Academia Nacional de Belas Artes e - mais ainda - que a dotasse com os necessários meios financeiros para que a Inventário pudesse ser aquela realidade insofismável e magnífica que hoje estamos aqui a louvar bem merecidamente.
Como já afirmou quem tinha autoridade para o fazer, o Inventário Artístico de Portugal não é apenas - o que já seria muitíssimo - o cadastro do nosso património estético. E também a classificação e identificação das obras de arte existentes no País, acompanhadas de um complemento histórico e bibliográfico que as valorize. É, em suma - para me servir das palavras tam expressivas do presidente da Academia de Belas Artes, que - superiormente orienta os trabalhos do Inventário - o «dicionário da língua plástica portuguesa», onde ficarão recolhidos os vocábulos de uma evolução artística de oito séculos.
Da maneira como o Inventário se está a realizar dá conta o 1.° volume, recém-publicado, relativo ao distrito de Portalegre. Nele se exemplificam a competência, a dedicação e o zelo dos ilustres académicos encarregados de tam importante e exaustiva tarefa. Porque, convém acentuar, torna-se necessário, para levar a bom termo esta obra, possuir não apenas dotes naturais de inteligência e de sensibilidade, vastos e profundos conhecimentos da história e da técnica das artes, mas igualmente devoção cívica bastante para arrostar, gratuitamente, com os trabalhos, fadigas e percalços de quem percorre cidades, vilas e aldeias durante semanas seguidas, sofrendo as vicissitudes do clima, as surpresas rio alojamento e a irregularidade dos transportes. Superior, técnica e graficamente, aos seus congéneres espanhol, francês e italiano, o nosso Inventário Artístico não nos envergonha perante os que a Suécia, a Inglaterra e a Alemanha realizaram com largas dotações aos especialistas que redigiram os respectivos volumes.
Suponho, portanto, que está no ânimo de todos nós que fique consignado o louvor da Assemblea Nacional ao Governo que tornou possível tam notável acontecimento cultural, à Academia encarregada de o orientar e aos eruditos e artistas que o vêm realizando.
Desejo agora dizer duas palavras acêrca da próxima reabertura do Museu Nacional dos Côches. Tive, há pouco dias, ensejo de verificar pessoalmente a maneira como ali vai ficar alojada, depois das obras mandadas realizar pelo Estado Novo e em que se despenderam cerca de mil contos, a mais completa colecção de viaturas de gala que existe actualmente no mundo e com a qual não se podem comparar os escassos exemplares dos Museus de Munique e Viena, de Berlim, de Dresde, de Hanover, de Darmstadt e de Heidelberg, do Museu Estadual de Coburgo, os chamados carros de Verona, os coches da coroa inglesa ou os do Victoria and Albert Museum, os de Cluny, Carnavalet, Versalhes e Compiègne, os do Palais du Cinquantenaire, de Bruxelas, os do Palácio do Oriente, em Madrid, ou até os que se guardavam nos antigos palácios imperiais russos e nos arsenais de Petrogrado e de Moscovo.
Mais de sessenta viaturas, carros triunfais ou de aparato, coches, berlindas, seges, carruagens de gala e simples carrinhos, além de liteiras, cadeirinhas, selas, arreios e numerosos acessórios e atavios, uma série de fardamentos e librés de gala dos séculos XVIII e XIX. ricos exemplares de trajos civis e objectos de adôrno e de indumentária, pinturas, desenhos e gravuras relacionados com o núcleo principal, acham-se finalmente instalados, mercê das modificações e ampliações realizadas, com a dignidade e a largueza de que eram dignos. Acresce que importantíssimos e competentíssimos trabalhos de restauro se efectuaram em quási todos os carros, muitos dos quais se salvaram da total destruição a que estavam já condenados. Desta forma, a obra empreendida há quarenta anos pela Rainha D. Amélia encontrou, finalmente, os recursos necessários para a sua integral valorização. A acrescentar ao muito que o Estado Novo tem feito pêlos museus portugueses, o Museu dos Coches vai ficar como exemplo bem característico, em matéria de arte, do Século de Salazar.
E resta-me aludir ao Centro de Estudos de Arte o Museologia, criado no Museu de Arte Antiga pelo Instituto para a Alta Cultura, que se destina a coordenar os trabalhos dos bolseiros que àqueles assuntos se dedicam e a publicar as obras por eles realizadas ou por outras pessoas que o Centro entenda dever convidar. O Instituto - cujo papel na renovação intelectual do nosso meio já aqui pus em relevo - tem, assim, em vista enriquecer a bibliografia da arte portuguesa, dedicando também a sua atenção aos estudos estéticos e â nova ciência museológica, ainda pouco cultivada entre nós, mas cujo conhecimento é essencial, dado o desenvolvimento - repetimos - que, graças à Revolução Nacional, têm tomado os nossos museus. Na actividade do Centro tem parte importante uma comissão de iconografia, embrião, certamente, da futura Junta de Iconografia Nacional, cuja falta tanto se faz sentir nos nossos estudos históricos e artísticos. Da competência de quem orienta essa comissão muito há a esperar nesse capítulo quási virgem da nossa cultura, onde as mais importantes contribuições nos têm sido dadas por estudiosos de além fronteiras.
Assim, com firmeza e com saber, vai o Estado Novo cumprindo os seus deveres para com- a inteligência e a arte. Há talvez quem suponha ainda, confinado num estreito materialismo, que são de importância secundária estes problemas e que só valem as realizações que marcam pelo seu utilitarismo imediato e tangível. Enganam-se, todavia, por completo os que assim pensam. É pela irradiação do espírito que, verdadeiramente, as nações afirmam a sua independência e a sua personalidade, através de todas as vicissitudes da História. Proclamemo-lo com orgulho numa hora torva em que a fúria da destruição se compraz em aniquilar os tesouros de sensibilidade acumulados em muitos séculos de civi-