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14 DE DEZEMBRO DE 1946 151

Sr. comandante Gabriel Teixeira para proferir algumas palavras de louvor a esse distinto oficial da nossa armada.
À colónia de Macau prestou o Sr. comandante Gabriel Teixeira os mais assinalados serviços, governando-a durante um dos períodos mais difíceis da sua história. O seu patriotismo e as suas notáveis qualidades de inteligência e dedicação revelaram-no intérprete fiel da sábia política do Governo de Salazar, que salvou a Nação dos horrores da mais tenebrosa guerra da história.
Numa das muitas homenagens de agradecimento que este governador de Macau recebeu da população da colónia, durante o seu dificílimo governo, proferiu a referida autoridade as seguintes palavras na emissora dessa província ultramarina:
«Não sei se esta emissora levará a minha voz até Portugal; mas, se o não fizer, a minha fé suprirá a deficiência e em espírito alcança a Mãe-Pátria com certeza».
Com efeito, Sr. Presidente, estive em situação de poder testemunhar como, mesmo durante os períodos mais graves por que passou a colónia de Macau, nunca faltou a fé ao representante da soberania nacional.
A galhardia do seu espírito alcançava sempre a Mãe-Pátria através, é certo, da descolorida, e também algumas vezes eloquente, linguagem dos telegramas, que eu ora o primeiro a conhecer, como chefe do Gabinete do ilustre Ministro das Colónias de então, Dr. Vieira Machado, mas que o fazia vibrar na mesma intensidade patriótica, não se poupando a esforços e canseiras para que ao governador de Macau não faltasse a mínima parcela do auxílio que humanamente podia ser-lhe concedida. Promoveu a descentralização do governo que a situação reclamava e trabalhou continuadamente com o Sr. Presidente do Conselho nas diligências de ordem internacional que tantas vezes foram necessárias para só conservar aquele padrão glorioso da expansão portuguesa no Oriente e proteger as vidas e haveres de todos que se acolhiam à protecção da nossa bandeira.
E se, por motivo de alguma avaria na estação de rádio de Macau, ficávamos privados por dias das comunicações telegráficas, sempre decifradas com tanta emoção, reliam-se os últimos telegramas, para dos factos ocorridos procurar adivinhar a sua evolução, e, mesmo sem notícias, era com certeza o espírito do governador que alcançava a Mãe-Pátria.
Sr. Presidente: é-me impossível, no curto tempo de que disponho, dar a V. Ex.ªs uma pálida ideia das difíceis condições da vida da colónia de Macau durante a sombria quadra em que sobre ela se acastelavam as mais negras nuvens.
Situada em plena zona de guerra, esteve cercada por terra e por mar de forças militares nipónicas, que não hesitavam nos processos u adoptar, desde que eles servissem para alargar a sua hegemonia e mais vincadamente marear a superioridade de que ali disfrutaram durante a maior parte da guerra.
Mas ao mesmo tempo era indispensável proteger os nacionais e estrangeiros residentes na colónia, acolher os fugitivos de Hong-Kong socorrer os muitos milhares de refugiados da guerra da China e enviar auxílio aos portugueses de Hong-Kong e Xangai.
Pois a colónia de Macau não deixou de cumprir estes deveres cristãos de humanidade por forma digna dos maiores louvores.
Este quase milagre, é de elementar justiça acrescentar-se, não seria possível sem o concurso da população da colónia, que na sua quase totalidade se revelou disciplinada e sofredora, sem a colaboração dedicada de muitos servidores do Estado, sem o constante e inestimável apoio moral do clero missionário, e, principalmente, sem a base de uma política colonial com cerca de quatro séculos de tradição, orientada sempre pelas inatas qualidades dos portugueses, que não têm preconceitos de raças e têm sido sempre compreensivos para com os usos e costumes dos outros povos, sem deixarem de demonstrar a superioridade da moral cristã, tão abnegadamente expandida pelo Oriente.
A autoridade moral e o prestígio da Nação Portuguesa na zona de influência de Macau foram sempre tão grandes que já no período de domínio de Portugal por Castela os usurpadores da soberania portuguesa recearam destruí-los. Apesar de então também ali concentrarem todas as possibilidades de domínio militar, a bandeira das quinas nunca deixou de flutuar na colónia de Macau.
Honramo-nos, portanto, homenageando todos os que durante a última conflagração contribuíram para que Macau mantivesse as suas gloriosas tradições.
Sofreram as acções dos piratas, as pressões exteriores de toda a ordem, a desmoralização produzida pelos bombardeamentos aéreos, a falta de iluminação pública por carência de combustível, as faltas de alimentos e medicamentos, que motivaram a morte de dezenas de milhares de pessoas, principalmente entre os refugiados chineses, as consequências dos atentados pessoais, entre eles o que atingiu mortalmente a tiro o próprio cônsul do Japão, Sr. Fukui.
Enfim, o desassossego e a incerteza de todos dias, juntos a restrições de toda a ordem; nada, nada conseguiu quebrar por completo a capacidade de resistência daquele bloco, reunido sob o comando do seu prestigioso governador, em torno da acolhedora e sacrossanta bandeira da Pátria.
Antes da guerra, o arroz, base da alimentação daquelas populações, custava 8 patacas por pica; pois chegou a atingir em 1943 o preço de 320 patacas por pica, e o pior era que as tentativas para o mandar buscar à Indochina num barco que se fretou para esse fim - o Mashate - esbarravam com as maiores dificuldades da parte dos beligerantes.
Perante o recrudescimento de casos de cólera houve necessidade de obter vacinas e fazer revacinações.
E porque ocultá-lo? Perante os contínuos entraves da máquina administrativa o governador devia ter verificado com desgosto que nem todos manifestavam o mesmo zelo e desinteresse. Por vezes, é possível que sentisse unia ponta de desânimo ao ter conhecimento do boatos infundados e malévolos, perante a impossibilidade de corrigir todos os desmandos, a impossibilidade de recrutar pessoal para substituir o que não cumpria e, quantas vezes, por sentir o contraste entre as palavras e os actos de alguns.
As beneficiações que a máquina administrativa reclamava eram impossíveis e o governador teve de dirigir aquela barca em mar tão encapelado, quem sabe se nalgumas vezes aceitando como boas peças que haveria a necessidade de substituir.
Mas, apesar de todas estas dificuldades, Macau vibrou também com a tragédia de Timor, que tanto feriu o patriotismo dos portugueses, e esteve sempre atenta a todas as nossas preocupações.
E chega a causar verdadeira surpresa como se conseguiu manter sempre na colónia um espírito geral elevado em relação aos acontecimentos. Em Macau não deixaram de se organizar reuniões da Mocidade Portuguesa e desafios desportivos, cujo produto era destinado à beneficência. Foi notável a acção da assistência da Misericórdia e o auxílio proporcionado às numerosas escolas chinesas.
A correcção para com todos os estrangeiros no respeito por uma digna neutralidade, foi tal, que merecem ficar registadas as seguintes palavras que o Sr. Orkoff,