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14 DE DEZEMBRO DE 1946 155

ela amassada com o suor e com o sacrifício da Nação inteira.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Por isso, contra a paranóica obstinação dos optimistas e contra os sádicos desejos dos elementos das alfurjas, queremos a Revolução permanente!
Não queremos parar!
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Águedo de Oliveira: - Sr. Presidente: peço hoje uma excepcional benevolência para comigo.
Vi-me forçado a estudar esta madrugada uns hieróglifos difíceis e ressinto-me disso.
Na verdade a minha situação é embaraçosa.
O Sr. Dr. Pacheco de Amorim, com o seu monetarismo quantitativista, deixou aqui ontem enorme impressão. E discutiu brilhantemente a situação monetária, ligada ao orçamento; a situação económica geral, que pede largos desenvolvimentos; a situação corporativa, que há-de ser ventilada quando lidos os resultados do inquérito; e a política, cujo debate transcende ainda estes quadros.
O Sr. Dr. Pacheco de Amorim atirou a luva aos seus contrários, reptou-os, ao mesmo tempo que se dizia juiz no torneio - porque, no fim, justará com a adaga ou com a lança, conforme entender da dignidade da argumentação.
Este processo parlamentar de responder acto continuo a detalhados estudos, longas exibições estatísticas, recortes de antigos escritos, eriçados ainda com nomenclatura e posição inédita de problemas, não é muito conveniente a qualquer cavaleiro andante do fracas posses e fracas armas como eu.
Por outro lado, a inteligência matemática, a grande cultura, a simpatia irradiante e até a sua delicada posição afectiva intimidam-me e enleiam-me, a mim, apagado escolar de leis de há vinte e tal anos, quando o Dr. Pacheco de Amorim ora já famoso lente da Faculdade de Matemática naquela melancólica e lendária Coimbra.
Dá-se ainda que grande parte do discurso ontem proferido, tocado de shopenhauerismo económico, entrou no caminho franco das negras profecias, anunciando catástrofe quase final-a catástrofe final sendo outra na literatura económica!
Devo dizer: não me assustam as catástrofes económicas quando anunciadas e à vista. Delas podemos resguardar-nos, abrindo o chapéu de chuva ou abrigando-nos, os governos transferindo capitais e trabalho dos tempos bons para os maus tempos.
Assusta-me, sim, uma crise como a de 1929 - a Grande Depressão -, que caiu inesperadamente como um raio o fez abalar, sem que ninguém o previsse, os fundamentos da própria civilização.
O ano passado também aqui foi anunciada grande e tenebrosa borrasca para Março ou Abril de 1945 e... o barómetro permaneceu, um pouco cèpticamente, com o ponteiro onde estava!

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente: posto este intróito, entremos na matéria.
Em outro debate, ao que consta, uns timoratos, assustados com o caminho da discussão parlamentar, foram para as bolsas, especialmente a do Porto, desfazer-se de alguns bens e valores que possuíam, e o fizeram com grande perda de interesses.
Esporemos, apesar de tudo, que este ano já não aconteça o mesmo!
Também outros timoratos, quando eu versei o problema da alta do custo da vida, que era indispensável travar, se lançavam à porfia em compras e especulações maciças de ouro.
Esperemos que ao desenganarem-se nesta altura com a baixa do preço do ouro, a qual os ameaça ainda, se encontrem capazmente arrependidos!
Não podem contestar-se certos aspectos deflacionistas - não baixou o preço do ouro apenas: baixaram os preços do ferro, carvão, gasolina o outros combustíveis, cobro o outros metais.
Os nossos barcos, já ao serviço, trazem os fretes para a bandeira nacional.
Certos produtos coloniais, abolidos os navicerts e facilitado o frete, chegam ao mercado com possibilidades mais económicas do que anteriormente.
Rodam pelas estradas camionetas com tarifas mais vantajosas do que através do monopólio de facto do caminho de ferro durante a guerra.
Certas importações batem em preço e qualidade as ofertas do mercado.
Um impermeável inglês de 600-5 ombreia com o produto nacional mais elevado.
Mas estou de acordo com o Dr. Pacheco de Amorim em reconhecer os dramas o destruições da inflação monetária - a nova redistribuição injusta da riqueza.
Nada devo acrescentar às muitas vezes que neste lugar versei o assunto.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Também estou do acordo em ter como agravada a situação agrícola, em relação aos grandes sectores bancário, industrial, comercial e, menos, porque não são altos os fretes, ao grande sector do transporte. Mas desejo explicar-me melhor.
Sr. Presidente: certos preços agrícolas têm sido sujeitos a uma deflação legal.
Desde 1931, que é quando se inicia a repercussão da crise mundial no nosso País, que se acentuava o desequilíbrio agrário-industrial. O produtor agrícola entregava por um preço moderado os resultados da sua exploração o pagava as outras mercadorias em nível mais alto, sujeito ainda a regime ascensional.
Ora as necessidades de adaptação dos salários à perda de valor da moeda, a política de abastecimento às grandes massas e o ter de se acudir às necessidades primordiais da classe trabalhadora com barateza levaram a agravar este desequilíbrio, já antigo, dos preços agrícolas com os preços da indústria, da construção civil, das importações e do transporte.
Resultou daqui debilidade e penúria do poder comprador nos campos e desafogo relativo nos meios urbanos, os quais crescem em número a olhos vistos e em potência económica e em cómodos.
Ora eu suponho que se deviam ter levantado alguns preços anormalmente baixos, não sòmente para manter um certo equilíbrio, como para se conservar o ritmo de benfeitorias agrícolas, plantações e construções, tão necessárias ao aumento dos resultados produtivos nacionais.
Devo ainda focar um segundo aspecto. O regresso ao comércio mundial está-nos arrastando para uma mentalidade de todo o ponto indefensável, que poderá agravar-se na medida em que os armadores portugueses disponham de belos barcos mercantes.
As deficiências, as faltas, as escassezes resolvem-se do pronto importando e pagando com os escudos amealhados parcimoniosamente nos últimos anos.