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14 DE DEZEMBRO DE 1946 157

E, mais que tudo, falam os números e os cofres a linguagem dos milhões.
Mas eu desejaria - havendo ali ama comissão de estabilização - que se dissesse: lutamos!... e que fosse acrescentada outra palavra sobre o período singular de 1928 a 1931.
No meio de tanta coisa oscilante, discutida, naufragada, a nau dourada emerge mais refulgente, navegando nos sete mares com todos os seus pavilhões desfraldados.
Qualquer de nós que tivesse milhões iria decerto levá-los à Rua do Comércio, e esse gesto não poderia ser trocado, no momento actual, por qualquer das ruas célebres da banca mundial.
Daqui, desta tribo na, louvo, Sr. Presidente, os que, desde D. Maria II, sofrendo, inquietando-se. vigiando apuradamente, sempre alerta, prescrutando os horizontes, fizeram do Banco de Portugal uma instituição notável que projecta o seu perfil no plano mundial.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente: durante séculos os portugueses, como nenhuns outros, enriqueceram o património de filosofia social e jurídica do Mundo inteiro.
Entre nós e na vizinha Espanha se desenvolveu a doutrina de que existe uma sociedade natural dos Estados, tão natural e anterior como a sociedade dos homens.
Resultou daqui o enriquecimento étnico de uma concepção que alargou os seus horizontes ao mundo inteiro.
Não há pactos, nem métodos diplomáticos, nem estratégias políticas que alterem o vigor desta ideia, riqueza da Humanidade, tirada da razão natural, confirmada pela civilização cristã, propugnada pelo mais belo escol de jurisconsultos.
Por isso as relações internacionais se hão-de basear não só na existência natural da sociedade das sociedades como na unidade moral do género humano, e todo o esforço consistirá em converter uma unidade inorgânica numa unidade orgânica.
Se existem organizações ou tentativas de organização em nome da sociedade natural das sociedades, elas terão de ser abertas, genéricas, e englobar os respectivos Estados.
Por isso se enganam famosamente os que para atacar o Governo consideram ser um favor a entrada na O. N. U. ou em qualquer organismo de carácter internacional.
E mais se enganam quando supõem que é preciso conquistar complacências brandas para o fazer.
Estamos aqui vários que fomos doutrinados nesta matéria por um dos mais notáveis internacionalistas do Mundo, glória do Direito - o Prof. Machado Vilela.
Pouco se me dá que alguns opositores possuam noções tão falsas. A inversa do que patentearam é que é a verdade do Direito.
Como se diz no preâmbulo da Carta das Nações Unidas, há direitos fundamentais das nações grandes e pequenas.
Nós somos um povo sério e digno!
Nós somos um povo épris de paix, um peace loving state, uma nação amante da paz, a qual nunca perturbámos!
Nós temos a maior tradição jurídica de universalismo!
Nós temos um Estado limitado não só pelo direito como pela ética!
Não temos nenhum favor a mendigar!

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Se existe uma sociedade de Estados digna de tal nome, teremos um lugar por direito próprio e anterior.
Suarez afirmava: «Todos os Estados são membros de uma família humana universal».
Os textos emanados de S. Francisco obrigam a quem os subscreveu.
Ao discutir a nomenclatura e os textos pôde escrever o professor Beveridge:
«Contra esta pôde arguir-se que uma organização para a paz mundial não será completa enquanto não abraçar todas as nações».

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Parece-me deplorável, Sr. Presidente, o que se tem passado com as discussões havidas lá fora em torno do crédito aberto à Inglaterra e as cláusulas do acordo monetário, ou, melhor, dos dois acordos - o de liquidação dos 80 milhões de libras e o do liquidações comerciais correntes. Hei-de vencer natural relutância em abordar este problema. Não é primor de elegância quando o devedor é mais que solvável, honrado como poucos e o primeiro rico do mundo que o discreto credor se dê ares de cuidadoso excesso.
Tem-se dito que os nossos créditos vão sendo bloqueados, quando podem ser utilizados para compras em Inglaterra nu reembolsados em valores-ouro.
Já se pretendeu atirar o câmbio para uma margem de descrédito, que para pouco serviriam os nossos haveres e representaria uma tal penalidade às nossas exportações que daqui nada sairia para a área do esterlino.
Não se esqueça que as nossas relações comerciais com o continente europeu eram de toda a Europa agrária as menos importantes. A intimidade das relações comerciais com a Inglaterra depois de 1642 estava nisto - levava-nos pouco menos de um quarto da totalidade das exportações e deixava-nos pouco mais de um quarto das importações.
Em tempos escrevi que certas permutações das economias luso-britânicas não só representavam a consagração de tendências seculares de especialização como o resultado de aptidões naturais bem definidas.
Falou-se na gravidade da crise inglesa, que toldava e escurecia o seu futuro, mas já pode a esta hora garantir se a segurança e firmeza da recuperação do país aliado.
Até se disse mais: que o bloco esterlino, distendendo-se sob uma Inglaterra nuclear, individada, ameaçava pulverizar-se.
Esta observação não é válida, a nossa posição financeira permite-nos assentar arraiais onde bem quisermos, mas temos boas razões para permanecer onde estamos.
Portanto não vale a pena acompanhar tal discussão. É preciso acreditar na capacidade que Deus deu aos ingleses de suplantar as suas dificuldades, no potencial económico do seu império, na validade dos acordos feitos que desimpedem o caminho e na consagração das tradicionais amizades e preeminência do ético sobre o económico, do político sobre o material, que não repugnam às mental idades ocidentais.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente: a formula reinante, na maioria dos autores, em matéria de «poder comprador» é a equação geral de trocas, expressa algèbricamente pelo célebre Irving Fisher nos seguintes termos:

M V + M' V' = P T

Toda a gente a conhece e dispensa explicações. A ela aderiu um professor francês notável que está agora dando as suas lições em Lisboa.