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162 DIÁRIO DAS SESSÕES - N.º 65

O Sr. Pacheco de Amorim: - Há uma parte que é nacional.

O Orador: - V. Ex.ª tem carradas de razão quando se refere às dificuldades da vida que apoquentam todos aqueles lares de economia mais que moderada. Mas, se generalizarmos a afirmação de V. Ex.ª, se deixarmos de olhar apenas para aquilo que se passa dentro das nossas fronteiras e lançarmos os olhos pelo Mundo além, encontraremos em toda a parte tabelamentos, encontraremos em toda a parte dificuldades de vida, encontraremos em toda a parte milhares de operários cuja capacidade de trabalho está reduzida apavorantemente por insuficiência de alimentação.
Vencidos, vencedores, neutros - todos se consomem no rescaldo da última guerra!
De polo a polo arrasta-se unia humanidade que sofre, porque o mal é de ocasião, é mal da época, não é mal que se remedeie com um aditamento à lei de meios.
Falou-se, ou como se no Mundo existíssemos só nós, ou como se tivéssemos recuado cerca de quatro séculos na História, quando todos os caminhos do orbe apontavam a Lisboa e o Universo era partilhado a meias entre Portugal e Espanha, ou ainda como se com os nossos 9 milhões de habitantes e o nosso erário pudéssemos arrojar-nos a impor reformas às grandes potências financeiras mundiais.
Como é possível fazer-se hoje em Portugal uma estabilização sem conhecermos o que os outros países já fizeram ou se propõem fazer?
Não!
Na paisagem que nos rodeia, e em matéria monetária, a única atitude prudente é a de observação: velas içadas, mas manobra de capa, à espera da oportunidade de... «arribar». E o navio há-de seguir!
Há poucos meses, num país do Norte, imperativos da minha vida particular levaram-me a visitar de novo uma modesta vitória que, como tal, conhecera há dez ou doze anos. Deparou-se-me uma verdadeira cidade, onde a vida decorria num ambiente de conforto e de humanidade, boa iluminação, um perfeito oásis!
Procurei a explicação do súbito progresso. Era simples.
Determinado grupo de capitalistas aproveitara uma queda de água que havia próximo, electrificara a região, espalhara energia eléctrica a um preço mínimo, assegurara por pouco mais de um guinéu por mês ar renovado de verão, luz e aquecimento de inverno, águas quentes, energia, gastos de cozinha e económico conforto para cada família constituída.
Ouvi ontem ao Deputado Sr. Dr. Pacheco de Amorim, do alto desta tribuna e com uma sensibilidade patriótica que ninguém lhe põe em dúvida, considerações negras acerca do futuro de Portugal e das dificuldades que se aproximam dentro de dois anos se o Governo não tomar medidas prontas e drásticas.
Pois, por uma momentânea associação de ideias, passou pela minha mente a cidade a que me referi; lembrei-me de que, enquanto S. Ex.ª orava, no norte e no centro de Portugal centenas ou talvez milhares de homens trabalham afincadamente no esquema da electrificação geral do País, trabalho já em franco andamento e que dentro de alguns anos chegará a termo. Então veremos a situação das nossas finanças, o prestígio e o crédito que garantem milhões de libras que se encontram depositados em Inglaterra. Alegrar-nos-emos notando a nossa... «ruina», quando esse programa atingir a sua execução completa e quando o plano de reconstrução da marinha mercante tiver aproximado ainda mais a metrópole das colónias; e constataremos também, Sr. Dr. Pacheco de Amorim, como se liquidaram as suas profecias.

O Sr. Pacheco de Amorim: - Peço a palavra!

O Sr. Presidente: - V. Ex.ª dá-me licença?
Desejo esclarecer o Sr. Deputado Pacheco de Amorim de que regimentalmente só pode usar da palavra duas vezes, e V. Ex.ª já o fez. Faço esta observação para dar a V. Ex.ª oportunidade de com autorização do orador, prestar quaisquer esclarecimentos.

O Orador: - V. Ex.ª interrompe-me todas as vezes que quiser. Sobra-lhe autoridade para tanto.

O Sr. Pacheco de Amorim: - Se V. Ex.ª me dá licença direi ao ilustre Deputado que o estamos ouvindo com todo o interesse o que a todos encanta, mas que não pus a questão da electrificação nem a questão económica. Pus apenas a questão monetária, que vinha a propósito da lei de meios, pois não há orçamento sério sem uma moeda estável. Eu usei da palavra em face da ameaça, que pesa sobre os lavradores, do tabelamento do vinho.

O Sr. Cancela de Abreu: - A ameaça não tem fundamento.

O Sr. Pacheco de Amorim: - Oxalá. Dou-me por satisfeito com V. Ex.ª

O Sr. Proença Duarte: - A política do vinho já foi definida pelo Sr. Ministro da Economia e é norma do Governo não alterar a política iniciada no princípio do ano e aguentá-la até ao fim.

O Sr. Pacheco de Amorim: - Dou-me por satisfeito em que não haja tabelamento do vinho na adega do lavrador.
Também queria dizer a V. Ex.ª outra coisa. Não limito a minha ideia sobre a economia política portuguesa ao aspecto mo etário. O que digo é que a parte monetária é capaz de anarquizar tudo.
Admito a inflação como um remédio para uma doença, como a estricnina, como uma medida excepcional, mas não a admito como fenómeno permanente.
Agradeço a V. Ex.ª que traga aqui essa questão para debate.

O Orador: - Trago-a com certeza. E agora continuo. Aquele quadro de calamidades que teria ficado nos espíritos desprevenidos depois das últimas considerações do Sr. Prof. Pacheco de Amorim na sessão de ontem não chegou a preocupar por muito tempo a minha ansiedade patriótica, porque vivo na arraigada fé de que estes dois planos grandiosos de natureza económica terão eficiência mais que suficiente para contrapor ao agravamento do custo da vida um dique intransponível.
Nessa revolução económica está implícita a defesa da política financeira do Estado Novo.
Porventura haverá quem acredite que o remédio se descobre de preferência na fórmula simplista do tal camponês do norte: «deixem subir os preços dos produtos e subam depois os salários»?
Raciocinando policialmente, garanto desde já que este informador do ilustre Deputado Sr. Prof. Pacheco de Amorim é, ou era, filho de um fabricante de carros, carroças ou camionetas - pois se lhe seguíssemos à letra a «doutrinas todos esses veículos viriam a ser insuficientes para transportar as notas com que iríamos à capelista da esquina comprar e pagar... uma caixa de fósforos.
Entre o muito saber do professor consagrado que é o Deputado Sr. Pacheco de Amorim e o «faro» dos banqueiros internacionais não hesito. Opto pelos segundos.