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14 DE DEZEMBRO DE 1946 153

Os mesmos métodos, os mesmos desejos de fazei mais e melhor, os mesmos princípios, a informam.
E as fontes de receita são também, pouco mais ou menos, as mesmas.
Quer dizer: parece que não haverá desvios na trajectória há muito traçada, e tudo leva a crer que se manterá o ritmo de marcha até agora seguido.
Deverá ser assim?
Observando a curva ascendente da nossa política financeira, pode afirmar-se afoitamente que o aumento das despesas públicas tem tido uma contrapartida nu aumento crescente de prosperidade. Obras em curso ou em projecto, já largamente dotadas, como os gigantescos planos de electrificação, hidráulica agrícola e outros, hoje uma esperança, até mais do que isso, uma realidade, demonstram, sem esforço, que tem sido preocupação constante da Revolução Nacional valorizar quanto possível o que havia de riqueza desaproveitada e económicamente sem utilidade efectiva ou potencial.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Ao saneamento das finanças públicas, ao pagamento integral dos nossos compromissos externos, à restauração do crédito em bases amplas foi sucedendo, paulatinamente, a acção reconstrutiva, que ainda está em movimento.
Os do 28 de Maio sabem bem que a nossa administração financeira não tem descurado um só momento o interesse nacional e, por ser uma administração inteligente e segura, soube a tempo impor aqueles princípios indispensáveis de segurança, de justiça, de cultura e de honra dos quais resultou o ensejo de defender externamente as bases da nossa política imperial ao longo destes últimos seis anos de convulsão e ruínas.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Mas o equilíbrio financeiro, louvável e indispensável em determinado momento histórico da vida nacional dá ao País a sensação de bem-estar e de conforto?
Mas terá realmente o aumento das despesas públicas beneficiado as principais, as indispensáveis fontes do rendimento nacional?
Terá havido correspondência entre as despesas feitas e os serviços prestados?
Haverá realmente um bem-estar - fruto da acção grandiosa e quase nirvânica do Chefe do Governo?
A nossa observação diária das coisas nacionais escapa, por vezes, a visão grandiosa da reconstrução gigantesca levada a cabo nestes vinte anos de Revolução.
Tem-se a impressão de que se parou!
É que, na verdade, o nível de vida do nosso País, embora muito mais alto do que há vinte anos, encontra-se em franco contraste com aquela prosperidade que parece depreender-se das contas públicas, da administração financeira do Estado, das colunas de números copiosos fornecidos por estatísticas pacientemente elaboradas por técnicos, de ordinário competentes e que vivem mesmo a paixão dos números que apuram e arrumam.
É que o País não dá ainda a sensação de bem-estar e de conforto por que anseiam os homens de 1926; antes, pelo contrário, se verifica um ar de cansaço, de renúncia à vida digna, de aumento de vício e de ambição desregrada.
É que não escapa à nossa observação o quadro pouco satisfatório de algumas das nossas fontes produtoras. Assim: a agricultura, o comércio honesto, a pequena e média indústria, vivem horas difíceis, não só por dificuldades provenientes das consequências da crise geral do Mundo, mas também como resultado da política tributária excessiva e asfixiante, deixando, por esse facto, de constituir, como nos demais países, aquelas fontes de riqueza que estimulam e despertam a actividade dos povos e engrandecem a sua prosperidade e o seu bem-estar.
É que, finalmente, o mais valioso património nacional parece ter sido relegado para um plano secundário.
Mal se compreende, na verdade, que os portugueses ainda morram, numa proporção assustadora, à míngua de uma assistência rápida, humana e eficaz, por essas províncias de Portugal, quando os bancos e a Caixa Geral de Depósitos, Crédito e Previdência abarrotam de copiosas disponibilidades, talvez simplesmente por falta de uma política inteligentemente definida, de sólida confiança no futuro.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - O combate às chamadas doenças sociais devia incrementar-se por tal forma que, em lugar de morrerem de tuberculose 20:000 portugueses anualmente, este número descesse a uma percentagem mínima e que se aproveitassem os saldos para prestar-se assistência eficaz a centenas de milhares de doentes que estão privados do mais pequeno tratamento.
As condições de habitabilidade do nosso povo, pela criação do lar confortável e higiénico em grande escala, estão ainda longe também dos desejos dos homens de 26

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Quando se olha para as condições fisiológicas dos portugueses, cujo índice de robustez, por demais inferior, põe em sério risco a integridade futura da raça; quando se medita nas considerações há bem pouco ainda expendidas pelo Sr. Dr. Santos Bessa sobre mortalidade infantil; quando nos debruçamos sobre deficiências encontradas em exames recentes feitos às crianças portuguesas (com frequentes assimetrias, incorrecções respiratórias e importante número de doenças determinadas e indeterminadas); quando se analisam as estatísticas fornecidas pelos serviços de recrutamento do exército, não podemos deixar de dizer que desejamos ver o Governo caminhar na resolução destes pungentíssimos problemas com mais rapidez e pedir-lhe que os considere primaciais, procurando assim refazer os males que a Revolução Nacional herdou e que tão profundamente abalaram os alicerces da Pátria.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Ainda hoje cerca de metade do País vive em «crise», sem condições humanas de uma existência feliz, digna e decente, embora as contas do Estado estejam certas e haja importantes saldos.
Dantes era pior, é certo - nem saldos havia. Mas esse argumento não basta.
Resumindo:
A administração financeira do Estado parece não ter sido realizada de modo a sentir-se correspondência entre as despesas feitas e os serviços prestados naquilo que mais profundamente pode interessar à vida da Nação.
Geffcken, com iguais preocupações, afirmava «que a administração financeira deve proceder como a natureza, que tira à terra a humidade por meio da evaporação para lha restituir sob a forma de orvalho e chuva fecundante».