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364 DIÁRIO DAS SESSÕES - N.º 78

É o caso do médico rural, que geralmente carece de ser policlínico, porque os especialistas convergem para os grandes centros.
Bem sei que a conveniente organização das indústrias dispersas e uma boa rede de comunicações podem, até certo ponto, concorrer para a garantia da presença de técnicos especializados sempre que venha a ser precisa.
Mas isto levará ainda bastante tempo, e há que caminhar quanto antes.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - As considerações feitas sobre actividades industriais aplicam-se à lavoura, onde a tendência para a constituição de casais médios é bem notória. O feitor e, particularmente no que respeita à região nortenha, o caseiro, que é geralmente quem dirige a faina agrícola e que, juntamente com o proprietário, são os melhores mestres dos seus jornaleiros, só viriam a lucrar habilitando-se no emprego racional de produtos utilíssimos que a ciência lhes faculta e na utilização económica de máquinas hoje postas à sua disposição, as quais não deixarão de vir a generalizar-se quando a energia eléctrica se tornar acessível em preço, como é fundamental para não ficarmos para trás em relação a outros povos.
Sem falar nas deploráveis produções, de insignificante rendimento e de qualidade inferior, causa dó verificar em algumas quintas de proprietários progressivos os grandes prejuízos causados por inexperientes em motores e outros maquinismos de alto preço, que deveriam ser vantajosíssimos se convenientemente utilizados.
E o calvário dos que recorrem a certos produtos químicos para fertilização da terra e desinfecção de pomares e de muitas outras culturas?
Salvo no que respeita a olivais e vinhas, onde as podas têm melhorado bastante, a carência de podadores causa sérias arrelias aos que, após despenderem somas avultadas na plantação de fruteiras e outras plantas, vêm depois a lutar com a quase impossibilidade de obtenção de pessoal idóneo para os indispensáveis tratamentos, tendo-se registado estragos irremediáveis por se ter sido obrigado a recorrer a pessoal inexperiente, à falta de outro melhor.
No importante sector da pecuária registam-se com frequência autênticos fracassos.
E até acontece vir a sofrer seriamente a saúde pública em consequência da crassa ignorância dos mais rudimentares preceitos de higiene, o que importa evitar sem demora.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Não obstante, certas regiões do continente são particularmente dotadas pela natureza para lucrativas explorações zootécnicas.
Como excelentemente dotadas para a vitivinicultura se mostram vastas regiões portuguesas, sendo, porém, de registar que, salvo alguns vinhos de grande categoria, destacadamente os produzidos na afamada região duriense, acontece não serem convenientemente tratadas (com grandes prejuízos para a nossa economia, que vai assim perdendo lucros consideráveis) muitas massas vinárias excelentes, devido à ignorância de elementares preceitos de enologia.
Notòriamente nos vinhos brancos, a falta da aplicação de cristais de enxofre e de tanino, agravada pela teimosia de os demorar na «mãe», revela-se na sua turvação e noutros defeitos que lhes diminuem o valor, quando os não condenam para o consumo, males a que também não escapam os vinhos tintos quando indevidamente tratados.
São assim incalculáveis os prejuízos devidos a insuficiente preparação técnica dos operários, em máquinas inutilizadas ou diminuídas na sua duração por desgaste anormal, em rendimento imperfeito ou insuficiente, bem como na produção de géneros do baixo valor ou impróprios para o consumo, e, desta fornia, incapazes de vencerem na luta com produtores estrangeiros, devidamente apetrechados com as melhores máquinas, conhecedores das fórmulas mais eficientes e aos quais não faltam, geralmente, recursos técnicos adaptados às condições particulares das regiões onde o trabalho deve realizar-se.
Sr. Presidente: estas graves lacunas não têm escapado, desde há muito, a vários governantes e outras entidades, que, duma maneira geral, só tom esforçado por evitá-las, ordenando diversas providências com vista ao ensino técnico, mas quase sempre de resultados precários.
Remontando a épocas distantes, começarei por citar as escolas dos mesteirais, onde artífices célebres aprenderam, em ambiente familiar, o manejo das indústrias fundamentais naqueles tempos remotos ou os segredos de delicadas artes, de que ainda se conservam relíquias preciosas.
Ao ilustre investigador A. L. de Carvalho devemos o estudo, desenvolvido e muito documentado, Os Mesteres de Guimarães, concelho onde nasci, no qual se lêem notícias interessantíssimas sobre as diversas artes ali exercidas com subida competência durante séculos, génese do actual e importante centro industrial daquele concelho e das vastas e conhecidas zonas do Ave e do Vizela, que o cercam, e onde laboram indústrias fundamentais da economia portuguesa, entre as quais se destacam a fiação o tecelagem, as cutilarias e os curtumes, lado a lado com as de marcado cunho artístico, como a marcenaria e também a ourivesaria, na qual -quem sabe?- talvez tivesse, na era quinhentista, praticado o genial Gil Vicente, que alguns dizem natural da terra onde nasceu a nacionalidade e a quem devemos, além dos monumentos literários que formam os alicerces do teatro português, a famosa custódia de Belém, construída com as primeiras pepitas auríferas trazidas pelos nossos grandes navegadores.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente: no que respeita ao importante sector da agricultura, entendo dever referir-me aos monges-agrónomos, como lhes chama Vieira Natividade no seu belo trabalho sobre o convento de Alcobaça, os quais, naquele e noutros mosteiros espalhados pelo País, muito contribuíram para difundir bons ensinamentos, como para melhorar e seleccionar castas, variedades e raças, que muito vieram a valorizar a lavoura e a desenvolver a pecuária.
A alienação, por tuta e meia, da quase totalidade dos conventos privou a economia nacional de alguns centros úteis do instrução, que muito conviria ter continuado, após a sua conveniente adaptação às necessidades do ensino, pois dificilmente poderão agora ser supridos, pelo custo elevadíssimo de variadas instalações para alunos, aulas, laboratórios e outros fins e áreas amplas de boa terra apropriadas ao ensino e aos múltiplos ensaios de que as actividades agrícolas carecem continuamente de ser ajudadas para acompanhar o progresso.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente: no valioso parecer da douta Câmara Corporativa sobre esta proposta de lei alude-se com inteligente oportunidade à conjugação (para se ir ganhando tempo na execução do programa de progresso industrial) do recurso aos que noutros países tomaram a dianteira, para começar a criar com eles a função, com a norma de se mandarem técnicos aos