30 DE JANEIRO DE 1947 423
surgem no decorrer do século XVIII as primeiras tentativas de especialização. No início do século XIX as conquistas da física e das ciências naturais tornam viável um ensino de carácter genérico.
Mas datam de poucos anos as formas mais modernas do ensino.
Na Dinamarca, onde o ensino agrícola foi elevado a um alto grau de eficiência, data de 1799 a primeira escola de agricultura e de 1820 as primeiras tentativas da Real Associação de Agricultura. Em 1923 temos a adaptação dos processos americanos da Internacional Education Board para a instrução da juventude agrária
Curioso é notar que a iniciativa particular desempenha neste país o principal papel no ensino rural.
Na Holanda é de 1843 a primeira escola agrícola. Os trabalhos da comissão de estudo do ensino rural são de 1886; as escolas elementares de- agricultura apenas se desenvolvem desde 1921.
Na Suíça a primeira escola agrícola, inspirada nos trabalhos de Pestalozzi, com uma granja de 70 hectares, data de 1809 e acaba obscuramente em 1852. Podemos marcar o ano de 1885 como o do início do desenvolvimento do ensino agrícola.
As cátedras ambulantes e escolas de Inverno francesas são de 1908.
Servem apenas- estas citações para mostrar que o desenvolvimento da ensino agrícola em qualquer país não foi tarefa fácil mesmo onde os recursos financeiros eram bem mais abundantes do que os nossos.
A nossa lei de 16 de Dezembro de 1852, embora inspirada na reformar francesa de Tourret, de 1848, distingue três graus: o ensino elementar da aprendizagem, feito nas granjas particulares aprovadas pelo Estado. o ensino profissional, de carácter prático, e o ensino superior. É sabido que desta reforma apenas saiu o ensino superior, na Escola da Cruz do Tabuado e seus anexos.
Não é minha intenção percorrer em piedosa romagem o caminho que levar o ensino superior desde a Quinta da Bemposta até à Tapada da Ajuda. Estaria fora da ordem do dia.
Nem tão pouco tentarei seguir as vicissitudes do ensine secundário desde Sintra até Coimbra, Santarém ou Évora.
Seria inútil recordar as escolas práticas de agricultura de Torres Apedras, da Bairrada e de Viseu e as escolas móveis, que, por razões desconhecidas, se transformaram sempre em fixas.
Séria, contudo, curioso confrontar todas estas reformas sucessivas, para. lhes encontrar certo ar de família e absoluta parecença no seu destino. Parece que nos princípios fundamentais se está mais ou menos de acordo, apesar das divergências pedagógicas. As ideias mais interessantes da legislação estrangeira encontram-se nas nossas leis. As verbas inscrevem-se mesmo nos orçamentos, mas a seguir tem de ser cortadas, por excessivas talvez. Entra-se na era das economias. Assim, em 1887 criam-se seis escolas de agricultura; em 1891 uma fúria de insensata poupança fez retrogradar, diz o Prof. Rasteiro, de muitos lustros o estado da nossa instrução, agrícola. O agrónomo vai para o distrito e ali tem de fazer tudo: ensinar, prestar assistência técnica, realizar investigações e, ainda por cima, administrar por forma, lucrativa a propriedade que lhe foi confiada.
Assim, a Escola de Portalegre nunca chegou a funcionar; a Escola de Évora, com o título grandioso de nacional, nunca; chegou a sair das ruínas do velho convento de S. Bento de Castris.
Uma reforma, dizia com uma certa melancolia Ferreira Lapa, nunca pode pretender a perfeição absoluta, visto a perfeição não pertencer a nenhuma obra humana.
O defeito mais grave das escolas é a sua ambição. É difícil resistir à tendência de programas cada vez mais vastos, destinados a elevar o nível do ensino. O aluno, deslumbrado, regressa a sua casa e esquece quase tudo o que aprendeu. A escola não lhe ensinou aquilo que seria fundamental no meio rural.
Quantas vezes os discípulos da escola se afastam do equilíbrio mental dos seus antepassados, do sentimento das realidades da terra e das suas riquezas, de tudo quanto assegurou durante gerações sucessivas a continuidade do trabalho e a ordem nos campos.
Não seria a verdadeira finalidade do ensino criar agricultores ligados profundamente à terra pelos vínculos de um amor esclarecido e com o espírito preparado para aceitar as novas técnicas de trabalho rural?
O ensino agrícola parece, portanto, que se deve, em primeiro lugar, adaptar à vida e às realidades. O seu quadro tem de ser o da mentalidade dos seu alunos. Os programas de ensino franceses dizem que o ensina deve ser essencialmente prático e utilitário, e não especulativo e ideológico.
Tem de se basear, não sobre experiências, mas sobre resultados seguros que possam vencer o espírito crítico do rural.
Deixemos ao ensino superior nortear-se pelas normas da experimentação, base indispensável para formar bons técnicos e investigadores. O ensino profissional tem de se colocar em plano muito diferente.
O ensino elementar. - Uma ideia que surge em vários países é a de utilizar a escola primária para o ensino elementar da agricultura. Não parece viável, contudo, que esta escola possa ter funções profissionais. Os seus fins já são suficientemente vastos para que se possa sobrecarregar ainda os programas. Se conseguir desenvolver a sensibilidade do aluno, despertar a sua inteligência e formar o seu carácter, já terá feito muito. Nos meios rurais não parece, todavia, descabido aquilo que se pode chamar uma certa orientação agrícola dos programas. E o sistema seguido em França, Bélgica e Finlândia.
Não se trata, portanto, aqui de instrução profissional, mas de uma questão de programas especiais para os meios rurais. Contudo, não faltam os críticos que receiam que se inferiorize a escola rural. Além disso, como a agricultura não consegue, em regra, absorver todos os excedentes de população, os elementos que fatalmente irão procurar o caminho de outras actividades estarão em condições de inferioridade.
Estas reacções, bastante curiosas, motivaram já o abandono do sistema na Irlanda e na Noruega.
Este aspecto não foi contudo tocado na proposta nem a ;ele se alude, por ser objecto de legislação especial.
Existe ainda outro sistema, que se pode chamar talvez a escola superior popular e que representa uma ampliação do programa do ensino primário. Nalguns países deu-se a este ensino carácter agrícola. As diferenças parecem ser mínimas neste caso com um verdadeiro curso profissional.
O sistema de ensino elementar preconizado na proposta, é o da escola agrícola móvel, que já vimos ter origens bastante antigas entre nós. Julgo que se deseja instituir os chamados cursos de Inverno, que tem dado bons resultados nalguns países. A primeira dificuldade que encontramos é a da realização de demonstrações práticas.
As populações rufais não aceitam em geral com facilidade os cursos puramente teóricos. Por outro lado, é natural que os cursos tenham mesmo de ser nocturnos, exigindo um número avultado de professores e um serviço de inspecção difícil. Será certamente complicado,