444 DIÁRIO DAS SESSÕES - N.º 82
sos oficiais de preparação técnica para monitores de Educação Física especializada para raparigas.
Também à Obra das Mães pela Educação Nacional se devem cursos técnicos de vários misteres caseiros, para não falar nas entidades particulares, que mantêm cursos técnicos de educação profissional feminina e dos quais apenas o Instituto de Serviço Social de Lisboa e a Escola Normal de Coimbra, segundo creio, têm alguns diplomas oficializados.
Qual será a orientação futura que esta proposta prevê para o seu trabalho e como o integra no quadro das outras actividades técnicas profissionais? E uma pergunta que gostaria de ver satisfeita e à qual já há pouco me referi por me parecer que a resposta- deveria ser considerada desta reforma.
O Sr. Marques de Carvalho: - Está na Mesa uma proposta de aditamento que naturalmente dará satisfação a V. Ex.ª; foi apresentada ontem pelo nosso colega Cerveira Pinto.
A Oradora: - Não ouvi o que disse esse Sr. Deputado e ainda não recebi o Diário das Sessões de ontem, de maneira que não sabia. Agradeço a informação de V. Ex.ª
Sr. Presidente: termino as considerações que desejava fazer à Assembleia.
Besta-me agradecer a todos V. Ex.ªs a imerecida atenção com que me escutaram e certificá-los de que confio absolutamente no trabalho de todos V. Ex.ªs para que a Assembleia possa encontrar a o solução nacional» do grande problema que neste momento estamos a discutir.
Tenho dito.
Vozes: - Muito bem, muito bem!
A oradora foi muito cumprimentada.
A Sr.ª D. Virgínia Gersão: - Sr. Presidente: ao subir pela primeira vez à tribuna quero prestar a V. Ex.ª a homenagem da minha profunda admiração, compartilhada, aliás, por todos os meus ilustres colegas, a quem neste momento renovo as minhas cordiais saudações.
Sr. Presidente: mais uma vez me convenço de que é bem preciso, antes de criticarmos os outros, tomar todas as precauções para que não sejamos injustos; e é bem necessário que meçamos as nossas forças antes de declararmos guerra seja a quem for.
Ora quem, como eu, habituada ao ensino secundário, precisando das mais pequeninas informações sobre o ensino técnico profissional, o estuda como eu o estudei, segue um caminho errado.
Não me poupei, contudo, a esforços, procurando informar-me conscienciosamente perante várias entidades dos estabelecimentos, de ensino técnico elementar e médio nas suas três modalidades: industrial, comercial e agrícola. Levou-me isto muitas horas durante alguns dias, e vi com desgosto que, como membro da Comissão, de Educação Nacional, nas nossas reuniões prévias não podia medir o meu saber pelo dos meus ilustres colegas, limitando-me muito mais a pedir esclarecimentos do que a fornecer ideias.
Porque o não hei-de confessar? Pois bem: analisando a proposta do Governo e o parecer da Câmara Corporativa, tive também a impressão de que se não tratava de nada extraordinário e parecia-me impossível que pessoas inteligentes, encarregadas há tantos anos de uma reforma destas, tivessem produzido tão pouco.
Sr. Presidente: é que eu também queria que o primeiro trabalho fosse o de fixar radicalmente um plano geral de estudos, em que, partindo-se do ensino infantil, seguido do primário, bem caracterizado, bem definido, os outros graus- do ensino fossem ocupando devidamente os seus lugares, com um encadeamento lógico, com programas limitados, que em grau nenhum (embora isto parecesse um contra-senso) pudessem depender do arbítrio dos mestres, para que, entre outras razões, se evitassem rivalidades de escolas, em que os sacrificados directamente são sempre os alunos e indirectamente o Estado. O que é útil aos alunos de uma escola tem fatalmente de ser também útil aos de todas as outras de funções iguais; o supérfluo a nenhuns convém. Era isto que eu queria ver e era a falta de tudo isto que queria condenar.
Tive a felicidade de poder trocar impressões com o ilustre Prof. Dr. Sousa Pinto, que tanto considero) e tanto admiro, e que teve a bondade de me mostrar o relatório da comissão da reforma do ensino técnico, cuja leitura não só me deixou absolutamente elucidada como profundamente comovida.
Com uma adoração inata pelas modernas revoluções pedagógicas, que muitas vezes tenho seguido com desalento, estava convencida de que, apesar dos bons desejos dos legisladores, a actual reforma do ensino técnico, como se estava a empreender, devia ter pouca importância; mas depois da leitura desse trabalho de incontestável valor não posso deixar de dizer que, feitas algumas alterações, ela merece os maiores, elogios da Nação. Assim o Estado possa fazer face às pesadíssimas despesas, que essa reforma acarreta.
Tenho a impressão de que, se muitos dos meus Exas colegas daqui da Câmara -cujas opiniões respeito profundamente, porque tudo quanto é sincera é grande- tivessem tido a Aventura, que eu tive, de lhes- ter sido chamada a atenção para esse esplêndido relatório, teriam talvez alterado, pelo menos em parte, muitas das suas afirmações.
Sr. Presidente: tenho a maior veneração por todo o trabalho honesto, ainda que esse trabalho esteja cheio de erros. E que, se é honesto, devemos ver que se procurou nele acertar. Não se pouparam esforços para o conseguir; representa muitas angústias, muitas torturas, muitas horas de sacrifício, porque quando nos colocamos em frentei de um problema desconhecido a tarefa de nos adaptarmos a ele e de o adaptarmos a nós mesmos até obtermos uma solução satisfatória é um trabalho bem árduo.
Li, pois, com o maior entusiasmo, como já disse, o relatório da comissão encarregada da reforma do ensino técnico; há nele, como é natural, ponto» que se não ajustam com a minha forma de ver, mas nem por isso deixo- de o considerar um trabalho muito bem feito sobre o ensino industrial e comercial, lamentando apenas que o agrícola não tivesse sido estudado com igual profundeza.
Se o ensino técnico elementar e médio, nas suas três modalidades, está tão mal, como se reconhece, penso que se não pode voltar as costas a quem honestamente procura resolver os seus múltiplos problemas.
Rejeitar a proposta do Governo -perdoem-me os meus Exa. colegas que forem dessa opinião - sem sequer procurar ajudar os que pretendem uma solução urgente para o que se reconhece que está num estado tão calamitoso é contribuir voluntariamente para que essa triste situação não melhore.
Parece-me por isso mesmo que, feitas algumas alterações à proposta, só se deve ter pena se o Estado não puder tentar a prova.
Sr. Presidente: um programa geral de estudos tem de assentar, necessariamente, em determinados princípios filosóficos que regem, mais ou menos, todo o Mundo. É desses princípios que devem surgir as linhas gerais da educação da Humanidade, fazendo delas irradiar