O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

448 DIÁRIO DAS SESSÕES - N.º 82

Não os acho adequados- à idade dos alunas nem vejo que se parta, como o exige rigorosa mente o primeiro princípio da verdadeira pedagogia, do mais simples para o mais complexo, do geral para o especial.
Sobre este assunto D que eu tinha a dizer!...
E apavora-me também pensar que até já na instrução primária se exige das crianças de menos de 10 anos uma rapidez do cálculo e de raciocínios que não podem deixar de ser condenados pela psicologia infantil.
Tenho a absoluta certeza do que nunca teria triunfado com um sistema destes. A ideia do tempo marcado sempre me afligiu se não havia então a série de problemas que hoje há a resolver.
Nunca desperdicei o tempo nem fui vagarosa nos meus cálculos, mas gostava de tirar a contraprova, de empregar, por vezes, mais do que um processo, de ler a certeza de que entregava os pontos bem.
Agora os alunos, com receio de que o tempo lhes falte, nem verificam as operações!
Tenho visto que a criança raciocina hoje mais depressa, mas raciocina, pior, ou, se mo é permitida esta expresão, que raciocina automaticamente, porque está habituada à velocidade e nem tempo tem para raciocinar de outra forma.
E não é só nas matemáticas e nas ciências que isto se verifica, é em tudo: as redacções são também menos cuidadas (quase nunca há tempo de fazer o rascunho), as palavras repetem-se, as ideias poucas vezes são felizes.
Qual é o proveito que se tira de uma velocidade assim?
Se é corto que a moleza dos alunos nos enerva e que é preciso fazê-los saber aproveitar o tempo, devemos ter respeito pelos raciocínios da criança e dar-lhe tempo para os formular.
Porque será que um aluno excepcional nos liceus se não salienta, em regra, nos cursos superiores?
Sei que há muitos factores que podem contribuir para isso, mas estou convencida de que somos nós, os professores, no nosso desejo de apresentar os alunos, muito bem, fazendo-lhes ingerir uns programas que são contra a sua própria natureza, os principais responsáveis, por este estado do coisas.
O cérebro da criança satura-se e a reacção vem depois.
Os alunos que fizeram os seus cursos médios com doses iguais de inteligência e de cabulice, que tendo capacidade para serem os «ursos» se contentaram com o não faltar às aulas e estudar o suficiente para garantirem a passagem, são, em geral, os que mais triunfam depois.
E porquê? Porque não estão exaustos, porque tem ali, quase intactas, todas as forças vivas a que podem recorrer mais tarde.
Sr. Presidente: as nossas crianças de hoje estão sobrecarregadas demais. Têm um trabalho inútil e violentíssimo.
Sei bem como devem ser aproveitadas cedo as boas condições, de um cérebro que tudo regista, e é claro que é bom que a criança tenha desde pequenina hábitos de trabalho; é indispensável que vá compreendendo que a vida não é só brincadeira. Mas que a essa criança, em pleno desenvolvimento físico, cheia nas primeiras idades da necessidade de brincar e pular, se negue o que é, afinal, a sua vida e se permita que tenha todas as noites os olhitos a fechar-se com sono e uma série infinita de problemas por fazer, a redacção por passar, regras frios do gramática para meter na cabeça, porque a História e a Corografia lhe levaram o pouco tempo livro durante o dia, é o que se chama, penso eu um crime!
Obrigam-se hoje crianças de 9 e 10 anos, naquilo que aprendem, a um rigor que dantes nem aos 15 se exigia.
E para quê? Para meses depois já nada saberem.

A História de Portugal, por exemplo, só torna a dar-se, se seguem o liceu, no 6.º ano, e a memória das crianças, sem as repetições necessárias, vai perdendo também, pouco a pouco, os conhecimentos adquiridos, não levando talvez mais tempo a esquecê-los do que tinha levado a armazená-los.
Todo o dispêndio do energias é um dispêndio de vida.
Ora, não se entende que se tenha ensinado senão uma coisa útil; se o é, e levou trabalho a reter-se, será positivamente antipedagógico deixar a criança perder o seu esforço, obrigando-a anos depois, sem necessidade, a uma nova despesa de energias.
Sr. Presidente: com estas largas considerações, que ião pouco valem, quis também oferecer à grande causa da nossa educação o meu insignificantíssimo tributo.
Tenho pena da não dar mais, e sobretudo melhor.
Possam estas simples considerações, filhas de uma já bem longa prática de ensino, contribuir para que sejam melhoradas as actuais condições da educação da criança portuguesa
Disse.

Vozes : - Muito bem, muito bem!

A oradora foi muito cumprimentada.

O Sr. Marques de Carvalho:- Sr. Presidente: pedi a palavra, como relator da Comissão de Educação Nacional e no intuito de esclarecer devidamente a Câmara, para me referir às considerações de alguns dos nossos colegas que possam envolver contradição com as afirmações por mim produzidas aquando da abertura deste debate.
A primeira coisa a marcar, Sr. Presidente, é que eu não sou, do qualquer forma, um defensor oficioso da proposta.
Trouxe aqui, como regimentalmente me cumpria, o pensamento da Comissão de Educação Nacional, que, considerando a proposta como digna de aplauso, defende & sua aprovação na generalidade e apresenta, para a discussão na especialidade, várias propostas de alteração e substituição.
Sempre que eu não traduzi objectivamente o pensamento da Comissão tive o cuidado de salientar que estava a exprimir opiniões de carácter pessoal.
Vem isto a propósito da pretensa contradição que o ilustre Deputado Moura Relvas julgou ver entre o meu discurso de agora e as minhas afirmações de Março de 1935, aquando da discussão do plano de estudos que propus para o ensino secundário. Defendi então, por sinal contra a opinião do Dr. Moura Relvas, que me orgulho de haver conquistado para o meu ponto de vista, que o 1 .º ciclo de cultura geral a ministrar nos liceus deveria ser de três, e não de dois anos. Pergunta-me ele agora como é que eu venho defender a duração de dois anos para o ciclo preparatório a criar pela reforma.

O Sr. Moura Relvas: - Eu não protestava contra B, duração do curso de três anos; eu protestava contra a orgânica desse curso, o que é diferente.

O Orador: - Não esteja V. Ex.ª a misturar problemas.

V. Ex.ª acusou-me de contradição e eu estou a dizer que não houve contradição e a felicitar-me por em 1930 ter conquistado V. Ex.ª para o meu ponto de vista.
É evidente que não há qualquer contradição. Os objectivos, num caso e noutro, são totalmente diferentes. Eu mesmo marquei a discordância minha e da Comissão de Educação Nacional com u pensamento que a Câmara