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288-(158) DIÁRIO DAS SESSÕES - N.º 132

anos, monòtonamente, nuns mais do que noutros, conforme as contingências das colheitas ou dos preços nos mercados externos. A vida financeira anda assim a balouçar, ao sabor de acontecimentos ou de variações climáticas, numa dolorosa e ansiada perspectiva de realidades mais ou menos favoráveis.
O nosso nível de vida tem de ser necessàriamente baixo, porque para ser mais alto há que importar bastante mais ou produzir internamente o preciso. Para elevar, por consequência, esse nível só duas alternativas aparecem, e as duas, em última análise, reduzem-se a uma: que é produzir bastante mais do que agora. A produção terá de ser feita em bens de consumo ou serviços. Não parece possível acalentar grandes esperanças sobre o aumento dos últimos, a não ser talvez no turismo; há, por consequência, necessidade de cuidar dos primeiros.
O problema português neste aspecto é conhecido e não valeria a pena insistir constantemente sobre uma coisa que já hoje parece ser do domínio público, se não fossem as demoras que se manifestam no sentido de a remediar ou, pelo menos, atenuar os seus maiores males.
E deve dizer-se que não é apenas uma questão de governo. De nada poderão valer as recomendações, ou até as medidas governamentais, se o País não compreender o seu significado e não as cumprir integralmente.
Há necessidade de tomar medidas no sentido de modificar a estrutura económica existente. Elas afectarão profundamente certos hábitos inveterados durante muitas dezenas ou centenas de anos, como o caso do latifúndio no Alentejo e o parcelamento da propriedade no Centro e no Norte, e irão alterar ideias retrógradas em matéria industrial.
Na maior parte dos casos a sua aplicação trará o reforço no rendimento líquido dos detentores dos instrumentos de produção. Contudo, é notória a indolência ou inércia nas tentativas feitas no sentido de modernizar a produção - e sem isso a vida económica do País há-de ser o que tem sido no passado -, agravada agora pelo desenvolvimento demográfico, que dentro de uma década elevará a população para nove milhões de almas, sem contar com a natural tendência para a melhoria do nível de vida.
Assim, a tarefa que se põe diante de nós é gigantesca. Não compreende apenas o mundo material das coisas, tem de ir ao fundo dos nossos próprios hábitos e modos de pensar, modificar a própria mentalidade em quase todas as esferas sociais.

110. A balança comercial, já se disse, tem sido sempre fortemente negativa. Com relativamente poucos países temos saldos positivos e quando os temos são quase sempre bastante diminutos. Nalguns casos nota-se neles a influência dos portugueses que emigraram.
Surpreende até certo ponto a análise minuciosa dos saldos, tanto positivos como negativos. Neles vemos onde e como se consomem as economias e os rendimentos de capitais acumulados, as remessas dos que trabalham no estrangeiro, às vezes em circunstâncias bem precárias e difíceis.
Não podemos ter a veleidade de apagar da estatística de um momento para outro saldos negativos, que, no conjunto, em 1946 totalizaram cerca de 2.957:000 contos, e nem isso era até vantajoso para o comércio internacional e para as nossas relações com outros povos. Mas há vantagem e possibilidades de reduzir os saldos negativos apreciàvelmente ou, pelo menos, substituir muitas mercadorias que os compõem por outras de maior interesse e utilidade para o bem comum. O simples exame dos números que seguem sugere logo a ideia de que existe um tumor maligno na vida económica nacional:

QUADRO LXXXVII

Saldos negativos e positivos

[Ver Quadro na Imagem]

(a) 65:066 contos ouro. (b) 15:061 contos ouro. (c) 50:005 contos-ouro.

Saldos negativos

111. Quais são os países que alimentam o déficit da balança comercial portuguesa? Ou, fazendo a pergunta de outro modo: para onde enviamos nós o excesso dos cambiais, necessários para pagar o excesso das importações?
Valeria a pena publicar aqui a longa lista dos saldos negativos da nossa balança comercial, pelo menos para os dois anos de 1938 e 1946. Mas ocuparia grande espaço, embora seja curiosa no seu aspecto geográfico e até político.
Dá-se apenas a nota dos países que nos dois anos citados mostram maiores saldos positivos em relação a Portugal. Verificar-se-á que os países industriais, como os Estados Unidos, a Inglaterra e a Alemanha, são aqueles com quem temos maior déficit. Um, os Estados Unidos, acumula a sua característica de país industrial com a de agrícola, e assim dá-se o paradoxo de ser o país mais rico do Mundo aquele que está a absorver os nossos excessos de cambiais.
Para os dois anos de 1938 e 1946 os deficits repartem-se assim:

QUADRO LXXXVIII

[Ver Quadro na Imagem]