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122 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 69

Pelo que respeita aos adubos, deu-se um caso semelhante, com a diferença de que aí já estão empatadas algumas dezenas de milhares de contos em duas fábricas ainda em montagem, mas que há que acabar, embora creio que se saiba os Srs. Deputados Proença Duarte e Botelho Moniz, melhor o podem dizer do que eu - que a produção de adubos azotados com base no hidrogénio electrolítico fica sensivelmente mais cara do que quando os mesmos são produzidos com base no hidrogénio químico - obtido por gasificação do coque, do fuel-oil ou de lignites, por exemplo, do tipo das nossas de Rio Maior -, com a vantagem ainda, a favor deste último processo, de necessitar apenas de um quinto da energia eléctrica do primeiro e a poder pagar sensivelmente ao dobro do preço, ou até talvez um pouco mais.
Todavia, quer num caso quer no outro destes dois exemplos, os estudos para o esclarecimento completo de tão importantes problemas parecem ter deparado, pelo menos de início, com uma certa frieza ou desconfiança das repartições ou instâncias oficiais competentes - a quem competia logicamente facilitá-los e impulsioná-los -, desconfiança essa que compreendo, mas que não louvo, por motivos que VV. Ex.ªs todos bem compreenderão.
Além destes exemplos poderia ainda dar outros, em que deles ressalta bem cruamente sempre a necessidade de se efectuarem, antes de nos abalançarmos a realizações em grande escala, importantes estudos prévios, quanto mais não seja para nos não enganarmos muito no montante das verbas necessárias para esse efeito.
Vem-me à ideia, a esse propósito, o caso bem expressivo e de tão transcendente interesso nacional como é o da electrificação rural, a que a proposta em estudo bem explicitamente se refere num dos seus artigos.
Sabe-se, com efeito, que qualquer empreendimento desse género, em escala já de certa ordem, para poder interessar a todo o País, importará em qualquer coisa como 1 milhão a 2 milhões de contos. Uma economia que se fizer de uns 20 a 30 por cento nessa despesa - e julgo-a perfeitamente possível quando confronto os nossos processos caros de trabalho com os usados por outros países mais ricos que o nosso, como os Estados Unidos da América - representará, com certeza, bastantes centenas de milhares de contos, que muito jeito nos farão para outros empreendimentos.
Sobre o assunto tenho até aqui à mão um exemplar do Distribution Line Construction Contract, usado pela Rural Electrification Administration do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos da América, que constitui um tal modelo de simplicidade, economia e bom senso do orientação, que, creio, teríamos toda a vantagem em mandar alguém competente à América, quanto antes, estudar in situ o assunto, e com o que aí víssemos, ou noutros países, e aquilo a que aqui pudéssemos também nós chegar com os nossos laboratórios e especialistas do assunto - que também os temos bons - tentarmos elaborar qualquer coisa de parecido, mas aplicável às condições particulares do caso português.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Poderia continuar a dar toda uma série de exemplos como estes, que serviriam para demonstrar que, quando aspectos de pormenor - mas tão importantes e fundamentais - estão ainda neste estado de atraso de estudos, não parece realmente fácil nem aconselhável estarmo-nos a preocupar demasiadamente - pelo menos por enquanto - com a ideia de qualquer plano grandioso de realizações, que é capaz, afinal, de a cada passo vir a acabar por precisar de sofrer importantes modificações.
Não esqueçamos principalmente que a vida de uma nação, por isso que de um ser vivo só trata, deve sempre evoluir harmonicamente e em função das características próprias de cada um dos seus órgãos e das condições funcionais ou do meio ambiente em que os mesmos necessariamente têm de trabalhar.
Não nos precipitemos, por isso, num excesso de mal ponderados entusiasmos ou dinamismo, querendo colocar «o carro adiante dos bois», porque tal processo de trabalho pode dar maus resultados - e receio que alguns já nos tenha dado - e não é certamente o melhor para alicerçar a confiança da opinião pública, de cujo apoio moral ou material imprescindivelmente necessitamos.
Em minha modesta opinião, por isso - volto a insistir - o que há que fazer e quanto antes, através de todos os serviços oficiais, daquém o além-mar, é um apanhado das mais salientes ou urgentes necessidades nacionais nos próximos cinco a dez anos, período em que se esclarecerá, certamente, muita coisa, até mesmo internacionalmente; ter uma noção quanto possível exacta da posição relativa, e das razões que a justificam, que a satisfação dessas necessidades deve ocupar numa escala hierárquica de prioridades ou urgência do realização; e estimar com cuidado os meios ou recursos de que efectivamente se poderá dispor para o efeito, ainda que com as contingências que não dependem da nossa vontade.
Com fundamento nesse trabalho de triagem e coordenação preparatória das grandes linhas de elementos, que só o Governo está à altura de conhecer - não qualquer particular, por mais ilustro ou estudioso que seja -, conviria então que fosse elaborado um relatório semelhante a este que está em nosso poder relativamente ao que se fez, mas que seria agora sobre o que de mais urgente ou mais importante falta fazer.
Em face da realidade bem expressiva dos números nele contidos e da consciência, principalmente, da grandeza e dificuldades reais da tarefa sobre que temos de nos pronunciar e que urge executar é que eu julgo que a Câmara Corporativa e esta Assembleia poderiam então, com mais completo conhecimento de causa, estar habilitadas a emitir qualquer voto relativamente aos grandes princípios ou directrizes gerais que em seu parecer devem vir a orientar a administração pública nos próximos anos em matéria de fomento ou reconstituição económica. Até lá eu prefiro continuar a dar, totalmente, o meu voto de confiança ao Governo para proceder como entender mais conveniente ou melhor.
Dir-me-ão alguns que isso é pouco para a ideia geométrica ou de disciplina com que eles vêem o problema; dir-me-ão outros que tal solução levará a uma demora da definição de um plano que as prementes necessidades do País já não consentem.
Responderei aos primeiros que foi qualquer coisa do género que aponto -se não estou em erro- que, juntamente com muita fé e coerência de atitudes, salvou o País e lhe tem permitido singrar, pela forma disciplinada que todos conhecemos, num mar que não tem sido positivamente um mar de rosas...
Lembrarei aos segundos que só os impossíveis se fazem às vezes depressa; os milagres... esses... exigem as longas e dolorosas caminhadas pelos trilhos pedregosos da fé, e o milagre português -embora começado há alguns anos - ainda está muito longe de terminar...
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Sousa de Meneses: - Sr. Presidente: parecerá estranho que a minha juventude em lides parlamentares me despertasse o desejo de subir a esta tribuna para tomar parte na discussão da lei basilar para o Go-