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816 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 96

Mas, já que chegamos a esta posição - por urgência premente -, creio haver necessidade de colocar o problema no plano em que ele pode ter solução útil, compatível, oportuna e lógica.
A esta situação que desfrutamos há cerca de vinte e cinco anos é garantida pela orgânica da actual lei fundamental uma provável continuidade? Ouso arriscar, Sr. Presidente, que ninguém nesta casa ou alguém neste país pode responder, em verdade, com uma afirmação.
Então a nossa tranquilidade, o nosso livre direito ao trabalho, o progresso da nossa vida social estão ameaçados?! Claramente que sim. E se ela não está ainda em movimento, a ameaça, verifica-se que se encontra no estado potencial.
Não é necessário abrir muito os olhos para a bem mirar em toda a sua extensão.
Não é necessário ter um apurado sentido das realidades para a ver ocupar posições.
Não são necessárias faculdades de larga previsão em ordem a que não possamos imaginá-la instalada e a comandar.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Então concretizemos.
Sr. Presidente: os homens nascem, vivem e morrem. Os chefes desaparecem e há necessidade de os substituir. A história dos povos não pára enquanto esses povos vivem.
É inteligente improvisar chefes sob pressão de circunstâncias emergentes, resultantes de factos irremediáveis? Não o creio.
Convém rectificar doutrinas e métodos, mudando de comandos?
Também não creio.
Se assim é, tenhamos a coragem, de cara a cara, com alma de fortes, simples, sem temor nem arrogância, proclamando: a política do bem da Nação, quando houver, pela fatalidade natural do destino, impossibilidade de se manter o statu quo, só nos pode conduzir a entregar os rumos de Portugal nas mãos de um homem apenas. Eu desenvolvo: a actual situação política nasceu sem uma doutrina que a estruturasse. Foi o génio político desse homem que lhe deu corpo. Foi a sua clarividente visão que lhe deu horizontes.
Apoiados.
Foi a renúncia permanente de si próprio que a tornou nacional. Foi a sua firme coerência entre as atitudes e os princípios que a tornaram compreendida e amada por todos nós. Ninguém neste país pode negar estas verdades, iluminadas pela realidade dos factos.
Remediar-se-ia assim, quando necessário, o que actualmente está consignado na Constituição. É a resposta à primeira pergunta formulada.
Sr. Presidente: viveu-se em Portugal um século de pronunciamentos e desordens. Militares que os promoveram ou civis que os orientaram não imprimiram com uns ou com outras maior grandeza a Portugal. Por culpa deles se derramou sangue, muito sangue inocente, injusta ou ingloriamente sacrificado. Durante esses tempos tivemos más contas, crédito nulo e impossibilidade de progresso. Houve o desrespeito máximo pelas pessoas, pelas coisas, pelas instituições e pela tradição.
Viveu-se na meia-água. Realmente não mergulhámos definitivamente no fundo, mas não houve maneira de aflorar à superfície. Fomos um povo em submersão político-social. Alvejados pela troça internacional, fomos tratados como indesejáveis, em muitos, senão em todos, os lugares do Mundo onde pretendemos fazer ouvir o nosso direito de existência.
Apoiados.
Abro, Sr. Presidente, um parênteses para mostrar a minha admiração por aqueles bons portugueses que durante essa agonia quiseram, e alguns conseguiram, mercê do seu talento e iluminado patriotismo, manter-nos na verticalidade humana, perante a opinião dos estrangeiros que nos detestavam e maltratavam.
E assim foi, como atrás digo, Sr. Presidente. Infelizmente assim foi. Mas deixou de o ser.
Apoiados.
Admito pois, Sr. Presidente, e o contrário seria loucura, que um doente que assim sofreu e já não sofre, esteja disposto a aceitar e a desejar ardentemente a aplicação da terapêutica que o salvou. É a resposta à segunda pergunta.
Sr. Presidente: tudo parece um sonho. Não houve mais revoluções. Cada qual trabalha segundo é capaz e em plena liberdade.
Nós assistimos, estamos assistindo. Homens de 50, 40 e 30 anos, vemos passar um feliz e aliciante filme onde se desenvolve, em beleza, a realidade de todas as grandes realizações desta época áurea do engrandecimento nacional.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Mais e melhor. Sim, mais e melhor se pede. Mas muito e bom se encontra já realizado. Mais e melhor se pede. Mas, para tal, o doente tem que receber a terapêutica própria. Ela é eficaz, porque os factos o demonstram. Ela é oportuna, porque, tendo começado de urgência, provou-se vantajosa e necessária na continuação. É a resposta à terceira pergunta.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Como se deverá aplicar o remédio?
Duas posologias: a do projecto e a que me permito apresentar.
A primeira serve-nos: eleições por tudo e por nada - sufrágio directo para eleição do Chefe do Estado; e eleição directa para os Deputados à Assembleia Nacional; eleição directa para as juntas de freguesia. Santo Deus! Que euforia de votos e de votações!
Para quê? Mais balbúrdia? Novos motivos de desordem? Escrever de novo com sangue nas paredes?! Não foi bastante o que se viu? Pretende-se destruir o sossego de vinte e cinco anos de são juízo?! Ou pretendemos fazer teatro para o exterior?
Ninguém me venha dizer que isto deve ser assim mesmo. Isso seria caminhar contra a trajectória actual da filosofia política que se desenha no Mundo.
Que tenha de ser, ainda eu concebo, embora o não queira admitir. E não o quero admitir porquê?
Porque nós temos as nossas fórmulas. E, se não desejamos exportá-las, também não temos necessidade das que existem lá por fora. Pelos vistos... fiquem lá com elas. Não nos seduzem nem as invejamos.
Podíamos, em verdade, aplicar a muitos as nomenclaturas com as quais, em tempos de desgraça nossa, tiveram a gentileza de nos achincalhar.
Agora, graças a Deus, somos nós a rir, e quase todos nos dão farto motivo para isso.
Lições, somos nós que as damos. E, por caridade, não levamos nada pelo ensino. Porta aborta. Podem ver o que lhes aprouver. Aqui não há e cortinas», nem de ferro nem das outras. É tudo transparente.

Vozes: - Muito bem, muito bem!