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27 DE ABRIL DE 1951 941

Doutor em Direito pela Universidade de Coimbra, abriu banca de advogado na sua terra natal e cedo encarreirou para a política, tomando assento nesta Casa entre os Deputados da legislatura de 1879.
Nesta qualidade a sua presença ficou desde logo assinalada pelas intervenções pertinentes, pela sedução do seu porte e elegância de maneiras, pelo rasgo cavalheiresco das suas atitudes, pela serena e clara exposição das matérias em debate, pela viva eloquência sem afectação.
Muitas vezes Ministro, sobraçou diversas pastas - a das Obras Públicas, Estrangeiros, Reino, Fazenda -, e essa actividade sucessiva deu-lhe na realidade um conhecimento vastíssimo dos problemas gerais da política nacional.
A aplicação e interesse que pôs sempre no estudo das questões relativas a cada uma dessas pastas, a sua intervenção directa nalguns dos assuntos mais importantes da economia nacional, a sua clara visão dos problemas gerais da educação e a sua múltipla actividade como parlamentar proporcionaram-lhe ocasião de se afirmar como autêntico homem de Estado. De sorte que, quando Presidente do Ministério, pôde efectivamente dominar com segurança os assuntos de política geral e desempenhar com largos conhecimentos o papel de seu coordenador e sistematizador.
Anselmo de Andrade, que foi um grande nome da nossa terra, escreveu acerca de Hintze Ribeiro estas belas palavras:

O orador era na verdade extraordinário, mas não podia ajuizar com exactidão dos merecimentos de Hintze Ribeiro quem só o tivesse admirado na tribuna e o não visse presidir a um Conselho de Ministros. Ai é que ele era verdadeiramente grande. Todos os assuntos lhe eram familiares. Por mais sabidos que fossem pelos titulares das pastas... eram ali novamente versados... expondo-os Hintze Ribeiro com a clareza máxima de todos os seus discursos...

Espírito duma finura muito grande, Hintze Ribeiro era um intelectual de razão clara, que se exprimia sempre com lucidez e casticidade, qualidades naturais, mas afeiçoadas também pelo espírito jurídico que é de sua natureza preciso e severamente lógico e ao mesmo tempo servidas pela sua educação humanística sóbria e não improvisada.
Os seus discursos parlamentares, os seus estudos jurídicos e as suas propostas de reforma aí estão a atestar o voo do seu pensamento e a serenidade dos seus juízos, em que se denuncia um espírito que não perde de vista as realidades da vida.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Ao lado de tudo isto possuía Hintze Ribeiro um alto sentido da dignidade política, que se manifestava sempre no brilho e inteireza com que respondia aos ataques dos seus adversários, revestindo as suas palavras de uma cortesia e de uma urbanidade de tom e maneiras que só encontravam apoio na razão esclarecida pelos costumes e as leis.
Porém, esse sentido da dignidade ressaltava, sobretudo, no inconformável repúdio com todas as tentativas de composição ou compromisso que pusessem em dúvida a sua sincera afectidade às instituições políticas, ao apegado respeito ao soberano e às tradições de gentileza da própria Nação.
Homem honrado como os que em algum tempo o foram no exercício do Poder e do Governo, permiti, senhores, que relembre apenas uma nota de forte conteúdo emocional: morreu pobre e sem nenhuma coisa supérflua na sua casa modesta.
Mas a honradez não é só isto, porque é, sobretudo, uma atitude moral com que a gente conforma a vida toda; sacrifícios e dores, solicitações e empenhos nada valem perante a consciência que quer ser imaculada e pura.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Numa época em que tantos homens, e alguns de talento superior, se deixaram contaminar na inteligência e no coração por temor e ambição e cavaram o descrédito das instituições que diziam servir e o seu próprio descrédito, Hintze Ribeiro foi alguém que sempre soube ser fiel às suas ideias e ao chefe que as incarnava com soberana galhardia.
A política não conseguiu limitar-lhe o interesse da Nação.
Sr. Presidente: permiti que ao terminar eu relembre as palavras de Garrett:

Os indivíduos morrem e depois da morto vem a justiça e começa a imortalidade das famas honradas.

Disse.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Presidente: - Para rematar este assunto, quero apresentar as minhas felicitações ao Sr. Deputado Paulo Cancela de Abreu, cuja iniciativa, além do acto de justiça que representou, nos permitiu ouvir aqui hoje os ilustres oradores que nos deram alguns traços salientes de António Cândido e Hintze Ribeiro.

Vozes: - Muito bem!

O Sr. Presidente: - Apresento, em nome da Câmara, aos Srs. Deputados João Ameal e Lopes de Almeida as calorosas felicitações da Assembleia pelo brilho e pelo encanto das suas palavras, pela seriedade com que trataram os seus personagens e sobretudo porque procuraram extrair da vida e da doutrina dos homenageados lições e ensinamentos para o momento político que passa.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Sr. Presidente: - Vamos passar a outros assuntos.

O Sr. Mascarenhas Gaivão: - Sr. Presidente: em primeiro lugar desejo fazer sentir a V. Ex.ª e ao Governo o profundo pesar que a perda do saudoso Chefe do Estado causou em Moçambique. São testemunho desse pesar os inúmeros telegramas que, na minha qualidade de Deputado, tenho recebido, com o pedido de não deixar de, deste lugar, fazer eco dos sentimentos de todos os bons portugueses de Moçambique, europeus ou nativos. Faço propositadamente esta distinção, exactamente porque, entre os telegramas que recebi, alguns provinham das associações nativas africanas, no meio de cuja população o saudoso Chefe do Estado deixou bem marcada a sua passagem quando da sua triunfal viagem à colónia.

Vozes.: - Muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente: ainda há poucos dias tive a honra de subir a esta tribuna para chamar a atenção de V. Ex.ª para um assunto que reputei, e