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960 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 104

Suponho, Sr. Presidente, que nas cidades, onde a injustiça é mais flagrante e porque nelas a fiscalização é mais activa, o decreto não é necessário. Nas outras localidades parece-me também justo que, ao fixar-se a hora de Verão, se difira por igual período a hora do encerramento desses estabelecimentos, não só pelos motivos óbvios que ocorrem naturalmente, mas ainda por outro que me atrevo a apresentar à consideração de VV. Ex.ªs e do Governo.
Há nos meios agrícolas aqueles trabalhadores que vivem independentemente da sua família. É o que na minha localidade, e não sei se o termo é usado noutras, se chamam os e malteses».
Essa gente durante todo o dia não pode comer senão pão e conduto; e a única refeição quente que podia tomar era na taberna local, ao regressar à noite do trabalho. Simplesmente, no Verão, em que às 22 horas ainda é dia, o trabalhador, quando chega à localidade, encontra fechada a taberna e vê-se impossibilitado de tomar a única refeição quente durante o dia de trabalho.
Parece-me, Sr. Presidente, que, atendendo a esta circunstância e à importância excepcional que tem a produção vinícola no nosso país, e ainda ao aspecto pouco animador do mercado internacional do vinho, temos de olhar para o mercado interno, lembrando-nos de que o vinho nestes últimos anos não tem dado preocupações aos governantes e à economia nacional, devido ao trabalho inteligente e exaustivo da Junta Nacional do Vinho e ainda à circunstância de não ter havido nestes últimos anos duas colheitas grandes consecutivas.
Espero, pois, que estas minhas considerações apoiando estes contribuintes modestos, mas numerosíssimos - creio que são mais de 30:000 -, e ainda o interesse geral que representa a viticultura consigam que o Governo atenda, pelo menos em parte, as reclamações apresentadas sobre este assunto.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem!

O orador foi cumprimentado.

O Sr. Mendes Correia: - Sr. Presidente: não é necessário sublinhar nesta Assembleia a transcendência do significado nacional e espiritual de um facto a que a imprensa deu ontem um justo relevo. Aliás é um acontecimento que tem em si próprio a precisa eloquência para nos encher a todos de legítima satisfação e de verdadeiro desvanecimento patriótico. Refiro-me à mensagem enviada pelo arcebispo de Calcutá, monsenhor Périer, ao Sr. Patriarca das Índias, D. José da Gosta Nunes, «m nome da hierarquia e do povo católico da Índia, ao encerrar-se a Conferência dos Bispos Católicos da Península Industânica, mensagem em que se relata a aprovação pela Conferência, na sua sessão inaugural, de uma moção na qual se presta homenagem à acção espiritual e missionária levada a efeito pelos sacerdotes portugueses na Índia, implantando e desenvolvendo ali a igreja católica e promovendo mesmo a formação de um clero de origem indiana, cuja acção cristã tem sido notável.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Creio que toda a Câmara se regozija com essa mensagem, na qual o arcebispo de Calcutá pede ao patriarca das índias para transmitir também o Reconhecimento dos prelados católicos de toda a Índia ao Governo e à nação portuguesa.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Senhores: o mais forte alicerce do Estado português da Índia é de natureza espiritual, está na fraternidade de sentimentos e aspirações que se estabeleceu entre portugueses da metrópole e os naturais dessas regiões, em que se desenvolveu uma civilização elevada, que o universalismo da nossa política ultramarina e do nosso sentir profundo conseguiu fundir com o que há de mais alto, de mais luminoso e de mais belo na nossa própria civilização.
O chamado imperialismo de Afonso de Albuquerque foi tolerante e afectuoso com os verdadeiros indianos, respeitador e defensor dos «seus direitos, mas severo e enérgico para com os potentados intrusos que a sua espada invencível subjugou. Tão estreitamente se fundiram na acção portuguesa no Oriente o patriotismo luso e a fé cristã que no recente Colóquio de (Estudos Luso-Brasileiros de Washington afirmei ser a mesma coisa falar-se de cultura portuguesa ou de cultura luso-
-cristã ao tratar da expansão cultural portuguesa no Mundo. Por papiá cristão ainda hoje é a língua portuguesa conhecida em muitos pontos do Oriente.
Também em Washington se proclamou ser a afectividade um dos traços psicológicos fundamentais da cultura portuguesa. E essa base psicológica de simpatia, de fraternidade, de compreensão emotiva, que serve de raiz e de timbre indestrutíveis à soberania lusa no Estado da Índia Portuguesa.
Nenhum indiano de origem se sente no Portugal metropolitano como um estranho, e isto porque está de facto em sua própria casa, se sente aqui, no meio de nós, como um irmão, como um membro da grande família portuguesa. Tendo visitado já países estrangeiros de além-mar, em que há núcleos mais ou menos numerosos de indianos, verifiquei sempre com alegria que eles sentem nos representantes consulares de Portugal como nos outros portugueses uma solidariedade e um apoio que contrasta frequentemente com sentimentos diversos de outros grupos populacionais.
Esta minha observação pôde ser confirmada por todos os que tenham visitado os mesmos países, onde, infelizmente, existem discriminações raciais contrárias ao sentimento português de fraternidade cristã.
Apoiados.
Tendo manifestado a minha satisfação pelo acontecimento ocorrido com a reunião do episcopado católico da índia, não quero deixar de me referir ainda a outro facto, que é para todos os portugueses motivo de regozijo, pelo que traduz, embora num campo distinto do religioso.
Desejo aludir ao extraordinário êxito obtido pela Sociedade Coral e Folclórica dos Goeses de Bombaim no festival que organizou nesta cidade indiana em benefício dos sinistrados da catástrofe sísmica do Assão e das inundações de Caxemira, no começo do corrente ano, assim como noutras exibições através da grande nação que é a Nova Índia.
Dirigido e organizado pelo distinto artista e professor Sr. Antsher Lobo, com a colaboração valiosa de sua esposa, soprano de merecimento, e de muitos jovens goeses cristãos dos dois sexos residentes em Bombaim, o labor daquela (Sociedade, fundada em 1941, é, sem dúvida, duma projecção política que merece o caloroso aplauso de todos nós. Li as descrições e os comentários da imprensa e das mais notáveis personalidades de Bombaim e vi fotografias impressionantes de beleza e interesse artístico e folclórico.
O vice-reitor da Universidade de Bombaim, Sr. Wadia, escreveu, por exemplo, que as melodias e cantos populares que ouviu lhe evocaram diferentes origens nacionais e tendem à unificação de culturas no sentido duma «cultura universal comum».