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4 DE MARÇO DE 1952 411

A preparação das forças aéreas para a luta sobre o mar, de um modo geral, e, em especial, para a acção anti-submarina requer um alto nível de especialização, que, para ser atingido, exige dos oficiais não apenas formação naval escolar, mas efectivo e prático conhecimento dos métodos e tácticas navais de ataque e defesa, diurnos e nocturnos, dos navios de superfície e dos submarinos - tácticas e métodos estes sempre em evolução, que mais se acentua no decorrer da campanha, pela vívida experiência que proporciona - e uma familiarização com o mar e os diversos tipos de unidades de guerra e mercantes que permita a apreciação e julgamento quase instintivos das situações que possam apresentar-se e a determinação ou estima prontas de todos os elementos necessários à acção a desenvolver.
Modernamente é princípio aceite que à protecção anti-submarina só resulta eficaz quando realizada por navios e aviões, como partes do mesmo todo indivisível, no qual cada elemento tenha plena confiança e aproveite do trabalho dos restantes.
Não basta, pois, que os oficiais das forças de aviação de cooperação naval sejam recrutados de entre os oriundos da Escola Naval - e segundo o relatório da proposta de lei nem todos o seriam: é necessário que eles, já aviadores, façam a sua aprendizagem naval nos navios de superfície, orientada no sentido da sua função específica, e estagiem ou contactem com os próprios submarinos, para conhecimento das suas práticas de defesa e ataque, a fim de, como pilotos ou simples observadores, poderem dar uma colaboração verdadeiramente eficaz aos seus camaradas de superfície ou realizarem mesmo, quando agindo isoladamente, acção anti-submarina (para só falar desta) de facto eficiente; e também que, como aviadores, realizem frequentes exercícios com os próprios navios, em que se reproduzam com a realidade possível as condições em que terão de actuar quando em luta.
Tudo isto exige a preparação e aproveitamento harmónicos e oportunos dos meios navais e aéreos e um ajustamento de actividades no mar e no ar, desde o tempo de paz, que não me parece fácil conseguir na prática, uma vez que, além da preparação e da utilização, a administração das forças aéreas de cooperação naval e das forças navais propriamente ditas não seja comum.
Em tempo de guerra a necessidade de ter concentrada essa tríplice função no departamento orgânico responsável pela condução das operações afigura-se-me ainda mais premente, porque durante ele a coordenação dos diversos elementos necessários à aquisição e aprontamento dos meios e à, coordenação das actividades dos próprios meios no campo da luta tem de atingir o mais elevado grau, para que a acção operacional seja realizada com eficiência e a responsabilidade da sua condução não possa ser repartida. De outro modo, isto é, cabendo a administração de parte dos meios a entidade diferente da que os utiliza, é inevitável a tendência para uma e outra se atribuírem reciprocamente a responsabilidade dos insucessos ou insuficiências que se verifiquem.
Continuando integradas na estrutura orgânica da marinha, as forças aéreas de cooperação naval, como as forças navais propriamente ditas, não deixariam de estar ligadas às restantes forças, através da coordenação que ao Ministro da Defesa Nacional cabe fazer de todas elas.
Por outro lado, a experiência realizada pelas nações onde o sistema da concentração total foi adoptado e depois abandonado e por aquelas que, não o tendo posto de parte ainda, se preparam para fazê-lo, segundo informações fidedignas que chegam até nós, permite, concluir que dificuldades e inconvenientes sérios terão sido encontra, dos na prática do seu funcionamento, pois nenhum país se dispõe a sofrer as perturbações que sempre resultam de alterações profundas na sua estrutura militar sem que para tanto tenha fortes razões.
E se, na verdade, não é prudente em matéria de organização militar, como noutros campos, guiarmo-nos em definitivo pelo que se faz neste ou naquele país, tudo aconselha a não desprezar a experiência alheia quando a não tenhamos nossa.
Examinemos como nalguns países evolucionou o problema:

INGLATERRA.- Em 1918 foi criada a Royal Air Force (B.A.F.) como força armada independente, passando a marinha a ter simplesmente sob autoridade operacional as aeronaves embarcadas.
Mas em 1939 já o anuário da aviação Jane's All The World's Aireraft apresenta a aeronáutica naval (Fleet Air Arm) com vida e organismos administrativos próprios. A essa data a base de Lee-ou Soleut, que era, a sede do grupo n.º 10 da R.A.F. e escola de cooperação naval, era já base da marinha, que, além dela, possuía então mais três bases terrestres.
A mesma publicação referente a 1945-1946 põe em evidência o incremento da aviação naval, e, a propósito da nomeação como almirante (Ar) - a primeira desta classe - do vice-almirante Boyd para a chefia das bases da aviação naval, refere textualmente:

This change at the top of the naval air arm was the first indication outwardly of an inner revolution of basic ideas in the Navy. The new ideas concern weapons, aircraft, ships and above all personnel.

Pode também citar-se, como prova de que a aviação naval, contrariamente ao que muitos pensam, não é apenas constituída pêlos aviões que operam de bordo dos porta-aviões, a indicação dada logo a seguir à passagem transcrita de que o Seafire III - avião da marinha - fez a sua aparição operacional na última grande guerra a partir de bases terrestres.
A última edição do Jane's AU The World's Aircraft, de 1951/1952, porém, quando comparada com as edições anteriores, é que dá ideia do enorme desenvolvimento da aviação naval inglesa, que hoje tem a designação de «Naval Aviation». Refere ela que esta tem seis almirantes a dirigi-la, possui sete bases terrestres de primeira linha e treino, quatro bases de manutenção, igualmente em terra, duas estações de instrução e três arsenais de reparações.
Como se está longe já da situação de 1939! Mas a evolução continua, porque o Almirantado não cessa de pugnar pela integração completa na marinha do certa aviação do Coastal Command.