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184 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 174

gem; é preciso que vejamos essa vida tal qual é, não apenas no seu pitoresco, porventura na sua rudeza franca e sadia, mas também no seu baixo nível económico e mental ,na espessa ignorância dos suas massas, no atraso da sua vida gregária, que provocam a rotina, a incúria a incompreensão a desconfiança, a inadaptação e a impermeabilidade a tudo quanto implique renovar métodos e processos.
Pelo que me é dado saber, pelo observação directa nas províncias, do Norte e em parte das Beiras e pelo que chega ao meu conhecimento sobre o viver das massas agrárias nas províncias ao sul do Tejo, chego à conclusão- triste conclusão, de resto- de que a mentalidade média do agricultor português é baixíssima e o mesmo problema de educação agrária se põe em Trás-os-Montes e no Minho e no Alentejo e no Algarve.
O que salva o agricultor português nas províncias do Norte e nas Beiras, o que preserva a sua alma e a afasta dos grandes pecados do nosso tempo é a fé, a sua viva fé, que o humílimo pároco da sua aldeia, com uma nocivo muito exacta do seu apostolado, com perseverança, tantas vezes com heroísmo, mantém e defende. Ë o seu amigo, o seu conselheiro, resolve-lhe as dificuldades, acompanha-o nos seus desgostos, está presente nas, suas alegrias. O pároco da aldeia na sua roupeta negra, quantas vezes no fio é a grande e também a única figura que se agiganta entre as massas dos nossos rurais. Desprovido do único elemento espiritual que dá sentido humano à sua existência quase primitiva, o nosso rural das províncias da metade Norte do País teria há muito já aceitado as soluções- extremistas paru desforra da sua miséria.
É urgente, meus senhores, que se dê às populações dos nossos campos a escola que saiba criar lavradores, que possa dar sentido agrário à vida dos agricultores portugueses, que permeabilize a sua mentalidade, de forma a poderem secundar o esforço dos dirigentes na campanha que se me afigura indispensável de valorização agrária nacional.
Não é possível desenvolver através dos nossas campos, como já se tem tentado fazer com aplauso dos mais lúcidos, qualquer acção séria no sentido de levar aos nossos lavradores o conhecimento de certos métodos, de certos cuidados, de ensinamentos enfim de ordem prática, sem lhes criar desde a meninice ou, pelo menos, desde a juventude a receptividade necessária. E tal objectivo só pode atingir-se por meio da escola primária rural, isto é, pela escola que ensina não só a ler, escrever e contar, mas também os rudimentos essenciais da lavoura, que ensina não só a amar a Deus e a Pátria, mas também a terra que lhe dá o pão, a árvore que lhe dá o fruto.
Em geral o lavrador português, à parte certas regiões muito restritas, de resto, não sabe cultivar a terra- lembro, por exemplo, Alcobaça, onde os monges do seu grande mosteiro deixaram fama não só de grandes letrados, mas também de excelentes e experimentados lavradores-, não sabe podar, não sabe enxertar, não sabe regar, não sabe adubar, não sabe lavrar, não sabe semear.
Faz tudo isto pêlos métodos mais antiquados e rotineiros, sem conhecer os mais elementares rudimentos técnicos de textos estes serviços que são essenciais.
A sua incapacidade e ignorância revela-se ainda na escolha quase sempre má das plantas, das sementes e até da cultura mais adequada às suas terras; e no que diz respeito a adubações, a sua ignorância é total. Daqui resulta que as colheitas são deficientes, e só os anos extraordinariamente propícios à germinação ,e ao desenvolvimento das plantas lhe trazem colheitas compensadoras.
É indispensável, quanto a mim, a criação da escola primária rural, porque ao lavrador não basta possuir a prenda inestimável de poder soletrar os dizeres de uma tabuleta ou desenhar o seu nome, precisa de conhecer os rudimentos da sua profissão, s valor económico da sua actividade, o alto sentido, do seu labor.
A escola primária rural há-de, portanto, diferir da escola primário urbana, há-de diferir nos programas e nos métodos, couto há-de diferir também quanto aos agentes de ensino.
Não é esta oportunidade, creio eu, para desenvolver pormenorizadamente todo um programa de ensino primário rural; basta que fique a ideia fundamental de que educar e dar sentido agrário às grandes massas dos nossos agricultores constitui, quanto a mini, um dos primeiros problemas a resolver dentro do quadro das nossas actividades económico-agrícolas.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - É um trabalho árduo, porventura desanimador, nos primeiros contactos com a realidade, trabalho lento, para anos, talvez para gerações, mas trabalho útil e indispensável, se queremos encarar com realismo os problemas nacionais.
Não se faça como se tem feito até aqui, verdadeiros contra-sensos em matéria de tão grande importância, como seja a criação de escolas comerciais e industriais em regiões onde praticamente não existe indústria, mas que são eminentemente agrícolas.
No meu distrito, o de Vila Real, há uma destas escolas na capital e outra em Chaves, com frequências, em qualquer delas, da ordem dos 400 alunos, que aprendem contabilidade, matemática, francês, direito comercial, caligrafia, serralharia mecânica, carpintaria, etc.; só não aprendem esta coisa comezinha e útil -numa região onde, além de meia dúzia de oficinas de reparação de automóveis, dos ferreiros e carpinteiros que bastam, de duas fábricas de cerâmica e mais duas ou três de curtumes e de rechauchutagem, há apenas campos para cultivar- podar uma árvore.
Mas ao Estado não basta, Sr. Presidente, fomentar a educação das massas rurais, importa também levar até elas os ensinamentos úteis, a orientação fecunda da sua actividade, o conhecimento das soluções técnicas mais adequadas e mais eficientes por meio de uma assistência barata e fácil. Não basta que os nossos rurais adquiram a necessária mentalidade agrária; é preciso o conselho prático, a indicação útil, a renovação de processos, o abandono da rotina, e tudo isto só lhe pode ser levado pelo técnico competente que o acompanhe, que lhe resolva problemas, que cuide das suas árvores, das suas vinhas, das suas sementeiras, como o médico veterinário, que cuide dos seus animais.
A assistência técnica à lavoura julgo constituir um dos mais importantes problemas da nossa economia agrária e, no entanto, parece-me não ter sido ainda considerada devidamente.
Os estabelecimentos de investigação, que existem, onde trabalham homens de comprovada competência e alto valor científico, são, sem dúvida, indispensáveis para o estudo de problemas agrológicos e têm dado boa conta de si, mas o problema, Sr. Presidente, é outro quanto a mim, porque o que mais importa, no ponto de vista em que estou encarando a lavoura dentro do Plano de Fomento, são os problemas técnicos imediatos, aqueles problemas que resultam do aparecimento de doenças, de uma poda mal feita, de um regadio defeituoso, de mil pequenas grandes catástrofes que surpreendem o lavrador mesmo atento, mesmo cuidadoso, sem que saiba remediar o mal, atalhá-lo ou de qualquer forma salvá-lo; são aqueles problemas que resultam de uma inadequada escolha de cultura, porque a terra é imprópria ou imprópria é a semente de