208 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 175
clusão de novas obras no porto do Funchal no plano a executar.
Vozes: - Muito bem!
O Orador:-Os povos sofrem profundamente as influências ancestralidade e do meio. E esta gente da Madeira, que do litoral até aos recônditos montanhosos do interior conquistou e amanhou carinhosamente a terra, olha sempre para o mar como o campo infinito das suas esperanças o dos seus sonhos ...
Não se apagou anula no seu sangue de voz dos capitãos e navegantes, dos marinheiros o dos colonos que fizeram do primeiro descobrimento a mais bela e fulgurante jóia da coroa do Portugal.
Foi pelo mar que a ilha se povoou e colonizou. Através dele vieram a cana sacarina e as videiras afamadas, as plantas dos trópicos, as frutas exóticas, os primeiros elementos do vida o do riqueza, e quando se desenvolveu e prosperou foi no mar novamente que a ilha jovem e prudutiva encontrou o caminho do seu engrandecimento económico. Ficaram célebres, os seus vinhos de torna-viagem, o os que a visitaram desde recuados tempos nunca deixaram de celebrar o encanto surpreendente das suas paisagens naturais.
Que admira, pois, que os Madeirenses liguem a maior importância às comunicações marítimas e as considerem elemento fundamental de. progresso o do riqueza?
O porto do Funchal, tão directamente libado à expansão comercial e ultramarina dos Portugueses, teve sempre importante tráfego de navegação. Em 1938, último ano anterior à guerra, os navios que escalaram o funchal totalizaram 10462001 brutas, acompanhando assim do perto o porto de Lisboa, que nesse mesmo ano registou um movimento de l3 124 897.
As vantagens desse grande tráfego marítimo reflectiram-se em toda a economia insulana. Desenvolveu-se a indústria do turismo pela construção de alguns hotéis verdadeiramente modelares, facilitou-se a exportação de produtos locais, que. no turismo encontraram o veiculo natural da sua propaganda, como os vinhos, e bordados o as frutas, deu-se trabalho a numerosas classes ligadas ao mar ou ao movimento de visitantes, canalizou-se para a ilha um movimento do cambiais e de divisas que ajudavam a contrabalançar o que a Madeira tinha de pagar ao estrangeiro para prover à subsistência da sua, população.
A guerra trouxe pesadas perdas às frotas do todos os países e os anos que se seguiram ao seu termo foram de menos movimento na generalidade dos portos de todo o Mundo.
Mas a pouco e pouco foi-se activando a construção naval, aumentou o tráfego marítimo e a tonelagem mundial é já hoje superior em cerca de 25 por cento à existente em 1938. Os portos portugueses, que se ressentiram da diminuirão da frota mundial, logo acusaram a sua reconstituirão. E assim o porto de Lisboa no ano último registou já um movimento de 3 960 navios, com u deslocação de 11 713 713 842 t brutas.
O Funchal não tem acompanhado este movimento do recuperação. Assim, em 1951. os navios entrados naquele porto totalizaram apenas 4 868 417 t brutas, ou seja menos de metade do movimento anterior à guerra.
Este declínio da navegação não deixa de causar inquietações numa terra tão dependente do mar e de todas as actividades a este ligadas.
Não é difícil enunciar os motivos determinantes desta diminuição do movimento marítimo do Funchal!. Todos eles se filiam no deficiente apetrechamento do porto, que não permite à navegação abastecer-se do combustíveis líquidos nas suas viagens de longo curso,
E farto é tanto mais chocante para nós quanto perto da Madeira dois portos insulares como o nosso -os espanhóis de La Luz, em Lãs Palmas, e de Santa Cruz, em Tenerife- -. registam notável movimento marítimo de navios, muitos dos quais pertencentes a companhias, como a Mala Real Inglesa, a Blue Star Line, a Elder Dem e outras, que antes da guerra incluíam o Funchal nas suas rotas habituais.
As Canárias conseguiram efectivamente transformar-se num grande centro de navegado, dando-nos uma lição que devemos aceitar - não com desânimo. mas com o propósito firme de aproveitar na medida em que for útil e conveniente.
Têm evidentemente as Canárias uma extensão territorial maior do que a Madeira, maior população, maior produção agrícola e maior volume de exportação.
A cerca de 800 km2 de superfície do arquipélago da Madeira opõem as Canárias uma superfície de 7 542 km2. dos quais l 532 relativos à Grà-Canária e 2 057 a Tenerife.
Têm as Canárias o mais elevado coeficiente do natalidade da Espanha. O censo de l940 atribuía-lhes 680 000 habitantes, mas actualmente a população daquelas ilhas excede 820 000 habitantes.
Com a Madeira, as Canárias são ilhas férteis e produtivas, com condições excepcionais para a cultura de frutas e produtos hortícolas. A produção total do arquipélago espanhol de bananas foi em 1949 de 166 317 t, das quais a Espanha continental absorveu lO9 000 t e a Inglaterra 25 000. De tomates exportaram as Canárias naquele ano 133 000 t, das quais 122000 para a Grã-Bretanha.
Ligaram sempre os espanhóis grande importância à sua política portuária, tendo-lhe merecido particular interesse os portos insulares das Canárias, dada a sua função geográfica no caminho da navegação que demanda a América do Sul ou costeia, pelo Ocidente, o continente africano.
Têm as Canárias dois grandes portos: o de La Luz, em Lãs Palmas, na Grà-Canária, e o do Santa Cruz de Tenerife.
A importância desses portos insulares, naturais concorrentes e rivais dos portugueses do Funchal, na Madeira, e do S. Vicente, em Cabo Verde, pode ser avaliada pelo conhecimento do número de navios e sua tonelagem que. os demandam.
Em 1950 entraram no porto de Santa Cruz de Tenerife, excluindo os veleiros, 4 676 navios, deslocando 9 409 000 t brutas e 5 407 000 t liquidas.' E no porto de La Luz 4 996 navios, com 16 947 000 t brutas, excedendo assim em muito o movimento do porto de Lisboa.
Estas cifras são por si significativas e exprimem o desenvolvimento dos portos insulares espanhóis, um dos quais, o do La Luz, em 1950 registou o movimento de quase 5 000 navios, ou seja a média aproximada de mais de treze embarcações por dia.
Procuraram sempre os espanhóis atrair a navegação àqueles seus portos. No tempo da navegação a vapor fizeram de Lãs Palmas um grande, centro de abastecimento de carvão, o qual era fornecido às embarcações em regime de franquia. K em 1U13, mercê das facilidades concedidas à navegação, o porto do La Luz colocou-se na classe dos grandes portos mundiais, registando o movimento do 0717 navios, com a tonelagem bruta de 18 000 000.
Mas dentro em breve ia operar-se uma grande transformação no accionamento da navegação, e o carvão ceder o lugar aos combustíveis líquidos.
Logo as Canária procuraram adaptar os seus portos às novas condições e, mercê de um esforço perseverante, conseguiram manter e melhorar a posição anteriormente conquistada. E quando a frota mundial atingiu