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220 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 176

subsidiárias que o serviam. Acresce que particularmente em Portugal, uma mentalidade indiferente ou pouca actualizada nos fins e necessidades da educação física quase a colocou no âmbito das coisas dispensáveis ou até nefastas.

Alimentou-se neste aspecto, durante larga» décadas, o propósito antinatural de, na educação geral, se contrariar a expansão instintiva e espontânea do jovem pelo exercício físico.

Só quando se desenharam os primeiros influxos de uma nova pedagogia, sob o princípio do corpus validum sub animo forti e se orientou o exercício físico no aperfeiçoamento e disciplina do esforço físico-psíquico, se notou definitivamente que na educação intelectual e moral da pessoa humana se tem de cuidar previamente du corpo, como alicerce e instrumento para o pleno desabrochar de todas as restantes faculdades.

Viveu-se durante largos amos na ignorância desta realidade, e era o próprio Estado que, com omissão voluntária ou disfarçada indiferença, permitia e fomentava que a educação se orientasse no sentido dum intelectualismo absorvente que tendia para o eclipse da personalidade física, e até moral, do indivíduo.

Mas se o Estado ignorava ou esquecia esta faceta importante na educação, é justo salientar que de outros sectores, talvez menos avisados, (nasciam, em esforço meritório, acções que visavam satisfazer as (necessidades da valorização física.

Foram, por um lado, as associações ou colectividades desportivas que tomaram a iniciativa duma cultura física que, embora descontrolada ou insuficientemente praticada, tinha a virtude de aglutinar à sua volta os

Sue, movidos pelo prazer da competição ou pelo gosto a exibição, iam encontrar o complemento duma Tida social cada vez mais absorvente.

Por outro lado, os órgãos da defesa nacional, cônscios das exigências crescentes que a guerra moderna impunha, buscavam na educação física o processo de valorizar o soldado, tornando-o mais apto e mais resistente para o combate.

Se descontarmos dispersas e inoperantes tentativas legislativas da parte do Estado para enquadrar a educação física no plano geral duma educação unitária nacional, é indiscutivelmente às colectividades particulares, ao Exército e à Marinha que 'ficamos devendo a iniciativa e continuidade duma acção educativa que nem por ser parcial e incompleta deixa de merecer respeito pelo .serviço prestado â Nação.

2. Sem considerar a prioridade, que cabe à Casa Pia de Lisboa, de há mais de cem anos (1838) dispensar atenção à educação física no plano de formação dos seus educandos, e a inclusão em 1894 doa exercícios ginásticos no ensino primário, é nos começos deste século (1905) que se revela pela primeira, vez, em moldes concretos e oficiais, a intenção de reparar a unilateralidade da educação. Salientava-se, ao introduzir-se a educação física nos .programas do ensino secundário, que «a fadiga cerebral, que estudos aturados e a longa permanência nas aulas acarreta inevitavelmente, tem a sua correcção na ginástica, nos jogos, nos trabalhos manuais», e notava-se que o (desenvolvimento do organismo que estes exercícios provocam vai exercer benéfico influxo na formação moral dos estudantes, e alguns deles, como os jogos, têm uma função moral e educativa que era forçoso aproveitar».

A falta de ambiente e instalações apropriadas e, mais do que isto, a escassez de educadores com razoável nível de preparação técnica tornaram ineficaz esta tentativa, ainda que mais tarde (1918) nela se viesse a insistir ao proclamar-se a conveniência de ministrar aos aluai os, a par de um determinado conjunto de conhecimentos, um progressivo desenvolvimento intelectivo do espírito, o desenvolvimento normal do corpo, a educação do sentimento e da vontades.

A insistência, bem patente nestes diplomas, de cuidar da cultura física levantou simultaneamente o problema do recrutamento dos professores.

Após a primeira tentativa falhada da, criação de escolas superiores de educação física junto das Universidades de Lisboa e Coimbra (1911), e que nunca chegaram a funcionar, gastaram-se dez anos e votos solenes e desejos fervorosos, vindos de sectores diferenciados (Guerra, Marinha e Instrução Pública) no sentido da constituição de uma escola normal de educação física, até que assistimos ao nascimento, em 1931, com (aspecto provisório, de um curso normal de educação física.

Este curso, que funcionava na Faculdade de Medicina, na Escola Normal Superior e na Escola do Magistério Primário de Benéfica, enfermava dos mesmos defeitos, se não mais acentuados, dos que se tinham instituído em 1911. Os futuros educadores, entregues, u orientação de unia multiplicidade de professores e estabelecimentos que se ignoravam, sem a frequência de disciplinas práticas, nunca poderiam cooperar numa obra de formação com unidade doutrinária conveniente.

Para obviar a estas deficiências e para harmonizar o curso normal de Educação Física com os restantes cursos, foi integrado, dois anos mais tarde, aquele na Escola Normal Superior.

No entanto, a insuficiências continuaram. A par de uma acção formativa dispersa, entre o exagero das chamadas ciências subsidiárias, nota-se expressivamente a falta de uma prática pedagógica e de uma metodologia da .ginástica dos jogos e doa desportos, pedras angulares na preparação dos agentes deste ramo de educação.

E nestas condições se foram formando os agentes de ensino até que novo arranjo nas escolas normais tornou ainda mais acentuadamente precária a sua preparação.

Reincidiu-se no erro originário de, ao dissolver, em 1930, as escolas normais superiores, se dispersar o ensino da cultura teórica pelas secções pedagógicas das Faculdades de Letras e o da aplicação prática pêlos Liceus Normais de Lisboa e Coimbra.

3. Enquanto se tentava por esta forma apetrechar o País com os indispensáveis professores, desenvolvia-se paralelamente um movimento de enquadramento da educação física nos diversos graus e estabelecimentos do Ministério da Instrução.

É assim que, a fim de acompanhar o progresso notado nas nações mais cultas, se aprovou, em 1922, o regulamento das provas interescolares de educação física, nas quais se instituiu a Festa Nacional, a realizar anualmente, com a disputa de um trofeu.

Apesar do pensamento louvável que inspirava, esta tentativa, como muitas outras, não teve continuidade.

Foi o que sucedeu também ao defender-se, em 1924, a introdução da educação física nas escolas elementares e ao considerar-se «absolutamente indispensável o desenvolvimento físico dos alunos das escolas do ensino técnico industrial e comercial», notando-se o «definhamento evidente da população do nosso país» e preconizando-se a «necessária correcção física às atitudes prolongadas a que obrigam as profissões industriais e comerciais».

Mais um diploma inteligentemente delineado, onde não se esquecia o papel do médico e do professor de Educação Física como complemento racional de uma profícua acção educativa que ficou sem execução.

E, sob o influxo de princípios que não encontraram reflexo prático, estabeleceu-se ainda em 1926 que «os desportos devidamente orientados e conduzidos visam