238 DIÁRIO DAS SESSÕES N.° 176
Há outros elementos a considerar, mas este é o essencial. é o determinante.
Dentro deste critério, que julgo inteiramente exacto, vejamos a política a seguir em matéria de electricidade. Quanto aos aproveitamentos em curso nada haverá que dizer. Começaram-se e agora é forçoso acabá-los. O problema surge quanto às novas centrais a construir. Num ponto parece que todos estamos de acordo. O Douro é indiscutível. É este que detém a prioridade quanto às novas obras a realizar. E pergunta-se então: deverá preterir-se o Douro nacional ou o internacional?
Por onde se deve começar? A Câmara Corporativa pôs o problema, estabeleceu as premissa, que está o certas, mas não tira delas as conclusões devidas. Hesita e parece inclinar-se para a solução errada.
É ilógica esta sua atitude e senão vejamos. A Câmara Corporativa, diz-nos nos seus doutos pareceres saber que o Douro internacional é impressionante de força e de beleza e o seu aproveitamento dará. pelo menos, 2 biliões de kilowatts -hora nas salas duas ou três centrais. E confessa saber ainda que a energia ali produzida será a mais barata de todas as que já produzimos ou poderemos ainda vir a produzir.
Calcula o preço médio dos custos das centrais actualmente em laboração em cerca de $22 a $23 o kilowatt nas barras e avalia o custo da energia do Douro internacional em $11 ou $12 o mesmo kilowatt. Há. assim, uma diferença de custo a favor do Douro internacional de mais de $10, o que é importantíssimo.
Mas, sabendo tudo isto, deveria, logicamente e sem hesitações, pronunciar-se e decidir-se pelo Douro Internacional, no troco de Paradela a Tormes e Bemposta, visto ter concluído ser ele a nossa maior e melhor fonte de energia eléctrica». Mas não hesita e a caba por prever a implantação de uma central em Carrapatelo. no Douro nacional, de construção mais cara de volume energética inferior a quase um terço, com o custo de produção nas barras de 22 a 23 o kilowatt!
É extraordinário!
E isto ainda com as agravantes que vou enumerar. A extensão da barragem em Carrapatelo terá o dobro, pelo menos. daquelas que as centrais no Douro internacional exigiriam, se não tosse possível dispersá-las, como de facto é. dado o enorme desnível ali existente, que permite o seu aproveitamento a tio de água.
No Douro nacional terá necessariamente de construir-se uma albufeira, o que acarreia despegas e prejuízos de vulto pois ficarão submersos vastos tractos de terreno de grande valor agrícola enquanto que no Douro internacional ela é inteiramente dispensável. Mas ainda que fosse necessária - e não me repugna aceita-lo - para melhor regularização do aproveitamento, não haveria a submersão de terras cultivadas, porque ali só existem, na sua estreita garganta, penhascos arrogantes de impressionante e selvática beleza.
No Douro nacional seria ainda indispensável regularizar a corrente caudalosa do rio nas épocas das grandes cheias, o que traria um grande aumento de despesas. Enquanto que no Douro internacional as águas já se encontram regularizadas pelo sistema de Ricobayo, definitivamente corrigido quando se concluir o aproveitamento de Tornes, em terras de Espanha.
A energia de Carrapatelo será superada pelas exigências dos consumos dentro de dois anos, pois os seus 410 milhões de kilowatts previstos serão insuficientes para as satisfazer, ao passo que no Douro internacional os seus 2 biliões cobririam fartamente todas as exigências.
Ainda e finalmente, os aproveitamentos no Douro nacional tornariam indispensável montar uma central térmica de apoio para corrigir as possíveis deficiências resultantes das irregularidades dos anos hidrológicos.
No Douro internacional essa central térmica dispensa-se, uma vez que o seu caudal mínimo, nas épocas de estiagem, é de 123 m por segundo, e poupa-nos os escassos carvões de que dispomos.
Mas donde provirá esta hesitação da Câmara Corporativa?
Em primeiro lugar ela resulta da falta de estudos prévios quanto ao Douro internacional. Felizmente que o óbice, se o era, está definitivamente resolvido e arrumado. A missão americana encarregada de fazer o estudo do Douro acaba de o entregar e nele se pronuncia aberta e decididamente pelo aproveitamento do Douro internacional.
A Câmara hesitou, a Assembleia não hesitará, estou certo disso, em se decidir, e o Governo, espero-o, ainda muito menos. Só assim teremos energia sem restrições e energia barata, uma vez que ela concluiu poder-se colocar a energia produzida pelo Douro internacional em Ermesinde, a 200km de distância e a 811 o kilowarr. Nas barras será de 819, pouco mais ou menos.
A Segunda causa invocada era o custo do transporte.
O Douro internacional fica a 200 km de Ermesinde e Carrapatelo a [...], isto é, a dois terços menos. O custo das duas linhas, a 150000V. do Douro internacional a Ermesinde seria de 120:000.000$.
A esta importância será, porém necessário abater o custo da linha que se teria de construir, de Carrapatelo a Ermesinde. A diferença, segundo os cálculos dos pareceres, seria apenas de 90:0000.000$. Ora, sendo assim, a diferença de custos entre os dois aproveitamentos é de $10.
O lucro do Douro internacional, com os seus 2 biliões de kilowatts, seia de 200:000.000$, num só ano, por virtude daquela diferença de $10. Este lucro, nesse ano, chega para cobrir a diferença, pagar a linha é ainda sobra muito dinheiro. E julgo não ser necessário dizer mais nada para se optar pelo Douro internacional, embora se pudesse acrescentar que esta preferencia eliminaria o perigo da paralisação da indústria do fabrico de adubos, [...] pelo processo electrolitico, nas fábricas de [...] e Estarreja, o que [...] do producto e prejudicaria enormemente a economia agrária, que os tem de absorver em larga escala.
Uma palavra mais quanto á industria do ferro.
A Câmara Corporativa entende que a sua localização óptima deverá ser nas inclinações do Porto. Não concordo. Ela reconhece, apesar disso que, situando-a em Moncorvo, a situação melhorava quanto a transportes porque «sendo igual o peso a transportar se oferecia um tráfego compensado que levaria carvão para cima e ferro para baixo, em quantidades sensivelmente iguais em vez do transporte de minério para o Porto com o dobro do peso».
Apesar disso, escolhe o Porto. É certo que ela não se pronuncia quanto aos processos a empregar para a fabricação de ferro, propondo a montagem de uma estação-piloto para os ensaios. Parece a este respeito não pode já haver dúvidas.
O forno Krupp-Rena é o que está naturalmente indicado, uma vez que se trata de minérios silicosos muito usado lá fora nestas circunstâncias e até bem próximo daqui, em Espanha. Poupar-se-á com ele o carvão que nos falta, e cujas reservas se extinguirão dentro de quarenta e seis anos, segundo os seus cálculos, substituindo-o pela energia ali a dois passos.
Em minha, opinião a localização óptima será no Douro, junto da estacão do Pocinho, a 30 km em linha recta de Moncorvo, por várias razões, além das proximidades dos jazigos e da fonte de energia eléctrica. Ela seria um interessante elemento de colonização interna do Alto Douro e não haveria diminuição de rendimento;