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15 DE DEZEMBRO DE 1952 377

grafo porque da História só colheu e entremostrou o pávido e o reles da natureza humana.
Historiógrafo o Sr. Aquilino Ribeiro?
Mas então que vão chamar, de ora avante, a António Caetano do Amaral, a Herculano, a Gama Sarros, a Braamcamp Freire, a João Lúcio de Azevedo, a todos quantos, pugnaram por um critério estritamente objectivo no tratamento dos problemas históricos, sem restrições de pensamento, sem obediência a preconceitos, sem limitações nem vícios de escola ou de partido?
Onde está a crítica inibitória destes, empecilhos da objectividade?
Onde está a impecável sensatez que adverte, esclarece e chama s razão quem fie ajeita no monturo dos factos e deles apenas saboreia o que lhe quadra à grosseria de espírito e à incapacidade da fantasia lìmpidamente criadora?
Onde está o poder de evocação e a delicadeza de sensibilidade que denunciam o artista? O interesse novelesco da matéria historial pode efectivamente originar algumas obras belas e famosas, mas nessas pressupõe-se informação segura, reconhece-se o dom natural da finura de espírito com que se elegeu o tema, alteia-se o poder de evocação histórica e doura-se a exposição com a poalha fina do estilo.
Será preciso lembrar alguns nomes da literatura europeia contemporânea que deram a esse género, meio novelístico, meio histórico, algumas obras-primas que toda a gente conhece e leu?
Não é esse o tom nem a capacidade sensível do Sr. Aquilino Ribeiro. E também lhe falta a faculdade ou, melhor, o dom de compreensão no espaço e no tempo.
Ponhamos um exemplo. Nun'Alvares foi um dos próceres da revolução do Mestre de Avis, e, para além da sua auréola de santidade, a sua figura ergue-se na história nacional como uma inteligência esclarecida, um capitão industriado no melhor da arte militar do seu tempo, um polarizador dos anseios nacionais, um intemerato defensor da independência, um inconformista dos interesses criados, desprezador altivo das promessas e solicitações estranhas, de mal com os seus por amor do chão sagrado da Pátria.
As páginas, suavemente esmaecidas como tela gótica, da Crónica do Condestabre, e bem assim as páginas de sopro heróico da. Crónica fie D. João I, no-lo pintaram como quem foi em toda a sua pureza, dedicação e zelo pela causa da Pátria. Este é o Nun'Alvares a quem todo o escritor que preze a função social da sua arte deve apontar como exemplo e estímulo de bem servir.
Foi o seu nascimento sacrílego, como ainda pretende recordar o Sr. Aquilino Ribeiro?
O problema foi resolvido há .muitos anos, e a citação de um velho e ultrapassado artigo do Dr. Júlio Dantas devia ser acompanhada da resposta incontestada que lhe deu então o Dr. Mendes dos Remédios.
Pretenderia somente fazer acreditar que os filhos de convivência sacrílega nascem como toda a outra gente e podem chegar aonde os outros chegam? A referência não pagava a pena, porque toda a gente sabe isso muito bem.
Todavia, insinuar que Nun'Alvares, após o alardo da Vilariça, teve assomos de se passar a Castela é uma malfeitoria a falsidade literária, a que não se pode dão-se por agora, qualificativo mais candente.
O Sr. Aquilino Ribeiro não é capaz de compreender muitas coisas na ordem espiritual, porque a sua ignorância documental e a sua incapacidade de abarcar os planos históricos fundamentais não lhe permitem que elimine os seus preconceitos e não proporcionam ao seu rico vocabulário senão que revista os seus frágeis e fabulosos libelos. E isto que devem ensinar os mestres que têm consciência do seu dever social? Mestre de quê e de quem?
Eu tenho pena que um nome que nesta altura da vida poderia ser respeitável ao comum das gentes mereça apenas de todos nós a caridade de o deixar sobreviver literariamente.
Disse.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Presidente: - Continua em discussão na generalidade a proposta de lei relativa ao Plano de Fomento.
Tem a palavra o Sr. Deputado Dinis da Fonseca.

O Sr. Dinis da Fonseca: - Sr. Presidente: não era minha intenção intervir neste debute. Não o julgava necessário e sinto crescer com os anos a dificuldade e a responsabilidade que impõe esta tribuna.
Dado o justificado interesso que este assunto despertara desde logo mi Assembleia, era fácil vaticinar que ele seria abordado nesta tribuna com o brilho e a competência especializada que nos tem sido dado reconhecer e que de fornia alguma me posso arrobar a veleidade de possuir. (Não apoiados).
A esta razão acrescia uma outra, que era a de uma espécie de inibição pessoal, perante a escassez de tempo, para analisar com alguma profundeza os vários aspectos desta proposta e as extensas e doutas apreciações da Câmara Corporativa, entre as quais suponho possível incluir o suplemento ao Diário das Sessões n.º 169, contendo relato oficial da sessão pública da Câmara Corporativa, em que também doutamente se dissertou sobre o Plano de Fomento.
Nessa sessão afirmou o seu ilustre Presidente que o trabalho da Câmara Corporativa careço de ser feito sem precipitação, com o tempo suficiente para todos os que nele devem intervir poderem preparar e meditar a sua contribuição.
Creio que estas judiciosas palavras se podem aplicar também e justamente a esta Assembleia, porque não me parece que a responsabilidade de decidir, em consciência liem formada, seja menor do que a de esclarecer ou de sugerir.
Durante a discussão surgiram algumas dúvidas, o foi a meditação sobre elas que me levou a algumas conclusões, que constituem o objecto da modesta contribuição que trago a este debate.
Em primeiro lugar, julgo que a oportunidade e a continuidade que esta proposta oferece à política de reconstituição económica foram já suficiente e brilhantemente acentuadas nesta tribuna.
Km vários dos seus discursos e declarações oficiais o Senhor Presidente do Conselho marcara para a política de reconstituição económica três fases: a primeira, chamada de regeneração financeira, que decorreu de 1928 a 1934; a segunda, a fase de reconstituição económica, iniciada com a Lei n.º 1 914, que, como VV. Ex.ªs sabem, vigorou até 1950; e a terceira, que seria a fase de engrandecimento nacional, cuja promessa e definição podemos encontrar no discurso de 28 de Maio do 1936, nestes termos:

O mais intenso aproveitamento das possibilidades materiais da metrópole e de todo o Império e a valorização da gente portuguesa onde se encontre em terra nossa é, como natural consequência destas conquistas, a afirmação cada vez mais clara e vincada na posição internacional do nosso valor construtivo o da nossa acção civilizadora.