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11 DE FEVEREIRO DE 1953 621

Não basta, n» entanto, reconhecer a existência dessa ordem superior; é necessário pô-la, de facto, ao serviço de cada indivíduo. É preciso, à semelhança do que Deus fez na sua obra redentora (e lembro ainda a mensagem de Pio XII), «é preciso estabelecer contado imediato com os homens, lançar a ponte sobre a distância que medeia entre a entidade auxiliadora e o necessitado e «harmonizar entre si a eficácia imutável da lei geral com as exigências próprias de cada indivíduo».

Essa ponte a que se refere Pio XII é, necessariamente, o serviço social, com o seu elevado sentido de compreensão humana, com a sua preocupação de criar as condições necessárias à realização da pessoa, com a sua preocupação de fomentar a harmonia social através da eliminação de tudo quanto possa dificultar as relações do homem com o homem desde os conflitos de interesses até aos conflitos de sentimentos, com a sua preocupação, enfim, de justiça social, procurando para cada um aquilo de que cada um necessita ou a que tem direito.

Por isso, tendo em vista, estes princípios e sempre dentro daquele plano em que me coloquei, de tratar o assunto apenas nas suas características gerais, vou pró- curar, a traços largos, apontar alguns aspectos que devem condicionar o trabalho social nas várias províncias ultramarinas.

Teremos de dividi-las em dois grandes grupos:

a) As que têm uma civilização própria, milenária: Índia e China;

b) As que receberam influência marcante da metrópole.

Comecemos por apreciar o problema social de Macau.

Sabemos que a cidade de Macau pode equiparar-se a qualquer cidade europeia em tudo quanto diga respeito às exigências da civilização moderna.

Numa população de cerca de 200 000 chineses há cerca de 3 000 portugueses. Pois bem, é esta minoria que dá a estrutura à província. Vive-se portuguêsmente em Macau. Mas viver como português não é só manter os costumes, falar a língua da mãe-pátria; é sobretudo, e acima de tudo, viver as nobilíssimas virtudes desta terra profundamente cristã. Assim, enquanto ao lado, na grande China, a população se encontra cindida em grupos que se hostilizam da maneira mais dura, aqui, no território português, as duas Chinas, vermelha e nacionalista, vivem discordantes embora, mas na paz e na harmonia. Virtude da terra que pisam?... Exemplo e virtudes da gente portuguesa, que não chega porventura a dar-se conta de todo o bem que faz nem da grandeza do seu exemplo.

A Misericórdia de Macau, que data de 1569, fundada por D. Belchior Carneiro, diz-nos como as bases da assistência macaísta são de profundas tradições cristãs e portuguesas.

Há já em Macau bairros para pobres com 1 254 casas, mas fazer a política, da habitação não é só construir. Construir é um meio; o verdadeiro objectivo só pode ser «tingido fazendo, afinal, a política, do lar.

Sabemos que a família aqui é uma força; sabemos que a rede de assistência está praticamente completa. Mas sabemos também que não deixa de ser necessária a coordenação e o melhor aproveitamento de todo esse armamento social. Sabemos ainda que, a par da riqueza dessa civilização de séculos, haverá também conceitos e concepções a rever e a adaptar às exigências da vida moderna. Assim, ainda se procede em Macau a distribuições de esmolas a indigentes, distribuições feitas pelas autoridades administrativas. Ao ler há dias um relatório da actividade assistêncial daquela província, feriram-me a atenção as múltiplas instituições asilares onde ainda, simultaneamente se albergam crianças e velhos ...
Pergunto, empenhados como estamos na realização dum plano du aperfeiçoamento e elevação social e moral das populações ultramarinas, não lerá aqui o serviço social o leu papel a desempenhar? Não poderá, na missão coordenadora que lhe compete, valorizar o que está feito e promover o preenchimento das lacunas- na rede de assistência social? Não será o serviço social familiar quem? poderá e deverá .fazer u verdadeira política da família como Deus a quer e Portugal a exige?

Não deverá procurar substituir-se os, asilos por instituições abertas, ou, à semelhança do que já se faz entre nós, evitar a asilagem, com todos os seus irremediáveis erros, substituindo-a por colocações em famílias ou subsídios de educação a pessoas que estejam em condições morais de os educar, sob vigilância do serviço social?

Vamos agora abrir outro tesouro de civilização milenária- a índia.

Quantos aspectos sociais revestirá esta terra quo, dir-se-ia, já viveu duas vidas! Aqui, como em Macau, haveria, que trabalhar sem quebrar um elo da cadeia dos costumes que os séculos fortaleceram. Logo a Escola Médico-Cirúrgica de existência secular nos fala das preocupações culturais e assistenciais da velha Goa. A secular Misericórdia e o seu velho hospital são testemunho de como sempre o bem-fazer esteve ligado à acção social da Igreja.

Aqui também a cristandade portuguesa opera o milagre da união e da paz, enquanto que no resto da Índia a- hostilidade é manifesta. No nosso território vivem fraternalmente indus, cristãos e mouros, que estudam e acamaradam indistintamente na escola e cujas famílias avizinham na maior solidariedade social no bairro ou em sítios isolados.

«Em Goa -dizia-me há dias alguém que conhece profundamente a Índia Portuguesa- a família é o Estado». Não tora problemas esta família que vivo assim estruturalmente unida, que abre a porta quando vai comer, como quem convida franca e liberalmente a participarem da refeição todos os que passam e precisam? Parecerá que não à primeira, vista, mas não porá problemas a situação da mulher que casa aos poucos anos, o que faz com que na grande Índia as viúvas se contem aos milhares?

Pela mãe que às refeições serve todos os membros da família e que come depois os restos, dos quais dá ainda e sempre as sobras aos pobres, não haverá nada que fazer socialmente? Não haverá neste ponto nada a reformar, a reforçar ou a defender?

Sabe-se que atenções tem merecido na Índia a assistência aos tuberculosos e aos louco. Mas a sua recuperação? A profilaxia dessas doenças? Não haverá que higienizar, disciplinar, cristianizar?

E passemos rapidamente pelas Africas - continental e insular.

Cabo Verde. - Este arquipélago sofrerá naturalmente de todos os problemas inerentes à sua situação geográfica, que é bem conhecida e que por isso não vale a pena referir. Mas, a agravá-los, está a falta de subsistências, terrivelmente condicionada pelo problema do clima e apenas compensada pela emigração. Se não cai água do céu, caem lágrimas dos olhos dos cabo-verdianos. O problema é de sempre.