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12 DE MARÇO DE 1953 833

em linguagem avisadamente directiva e esclarecedora se exprime o eminente Chefe do Governo, de contínuo acrescentando «que o Tesouro não tem um centavo que possa ser mal gasto».
Pois, Sr. Presidente, por mim creio, conscientemente creio, que não será nunca acto de desperdício canalizar um maior caudal das disponibilidades do Tesouro a favor da amplitude e intensificação das obras de carácter rural, quer se trate do saneamento das povoações, da eliminação total idas fontes de chafurdo, quer digam respeito a trabalhos de electrificação ou de alargamento da rede telefónica - felizmente trabalhos estes que, para nosso grande júbilo, são já considerados no notabilíssimo Plano de Fomento guiado pelo Governo Nacional, e que a Assembleia - discutiu e votou recentemente -, quer interfiram com a abertura e conservação de caminhos vicinais e de estradas.
Afirmando que só no ano de 1901 foi de 230 o número de quilómetros construídos e reparados em estradas municipais e caminhos, em parêntesis poderei aditar que creio haver ainda no nosso país mais de 7 000 povoações, muitas delas tendo entre 1000 e 2000 habitantes, que estão absolutamente sem comunicações rodoviárias ou outras de qualquer espécie.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Esta afirmativa monta a dizer que provavelmente um número superior a 1 milhão de portugueses sofre os danosos efeitos, bem compreensíveis, de uma situação mais do que de precariedade, de total inexistência de vias de comunicação.
A essa lamentável situação urge pôr cobro, e tal conseguir-se-á, ao que parece, logo que ao nosso Tesouro Público venha a ser possível o dispêndio, como é evidente ao longo do tempo, e, portanto, parcelarmente, ano a ano, da vultosa, cifra de mais de 1 500 000 contos.
Mas fazê-lo, proceder por este modo é não só vir um dia dar satisfação aos desejos instantes dos administradores locais, tão esforçados que todo o amparo e colaboração superiores merecem, é, sobretudo, continuar a dar devida satisfação às mais legítimas aspirações das mais diversas localidades, é dar testemunho do respeito que a eminente dignidade da pessoa humana a todos indistintamente merece, é contribuir para a valorização não só da economia regional, mas nacional, é, numa palavra, enriquecer a Pátria. Filho de uma modesta aldeia, Sr. Presidente, que se aconchega junto às faldas da serra da Gralheira, lá para as bandas da cidade de Viseu, cuja província é justamente tida como o velho solar da raça, oriundo de uma aldeia - dizia -, onde nasci, constituí família, resido e onde, querendo Deus, morrerei, não conheço melhor, mas conhecerei, decerto, tanto como muitos de VV. Ex.ªs, as característicos do meio ambiente que enquadra, a existência dos que vivem e labutam nas nossas pequenas vilas, nas nossas humildes povoações, nos nossos campos.
E, se admiro o estoicismo da sua vida, o ardor da sua fé, a pureza dos seus costumes, o seu apego ao trabalho, enfileiro ao lado daqueles que consideram o povo das aldeias como o suporte e factor da nossa estabilidiade política e social, assevero que nele reside as melhores reservas morais - sólida garantia do futuro da Nação - e possuo, outrossim, um saber de experiência feito que me habilita a declarar também por minha vez que o seu amor às mais belas tradições nacionais e o seu puro portuguesismo o têm mantido impermeável à voz de sereia dos falsos, profetas do nosso tempo ...

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Lá são quase todos por Salazar, que o mesmo é dizer - por Portugal.
E porque, Sr. Presidente, me falecem o engenho e a arte, quero, ao menos, recordar neste momento a justiça e a rara beleza das palavras de um alto dignitário da nossa igreja «o proclamar que onde «a alma de Portugal - crente e trabalhadora, simples e forte, fazendo admiravelmente a aliança do braço humano com a confiança na Providência. - se conservou mais fiel a sei própria foi no campo.
Não há decerto duas opiniões esclarecidas sobre o facto, tão manifesto ele é. E dizer que o campo é escola de virtudes, celeiro da Nação e viveiro e reserva de valores humanos é simplesmente consagrar a verdade.
Nele se cultiva a terra e o homem - no hábito e no amor ao trabalho, na sobriedade do alimento e do vestuário e do repouso e do recreio, na comunhão de esforços e de interesses e de riscos, na lealdade austera e sã do sentir e da palavra e das acções, na fé simples e prática e poderosa, na constância do recomeçar a sementeira com lágrimas, na satisfação jubilosa ou resignada das colheitas fartas ou pobres, na comunicativa alegria das festas do lar, na compartilhada provação dos lutos de todos por cada um e de cada um por todos, na simplicidade com que vivem e na confiança com que morrem.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - A escola de disciplina dos músculos e dos nervos dá no concreto de cada vida a medida do homem como utilidade social, quase sempre sem nome, é certo, mas com honra, que vale mais do que o nome sem honra ...

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Ali se tem do buscar, sem o empobrecer, a maior parte dos homens que tornaram realidade a nossa Marinha e os descobrimentos que fizeram a massa compacta e disciplinada do nosso Exército glorioso de tantas vitórias, e até muitos daqueles que iluminam o céu de Portugal e do Mundo na religião ou na ciência ou nas letras ou nas artes ou na política ou em outros pontos de comando e de larga projecção patriótica.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Todas as classes são beneméritas da Nação. Nenhuma, porém, se basta a si mesma. E cada uma é a melhor na sua espécie e função, porque aí insubstituível. Cada qual pode legitimamente ter o brio do seu progresso e o orgulho do seu valor. A nenhuma fica bem o desprezo de qualquer outra. Uma só, suprimidas as outras, pouco vale. Todas juntas, na harmonia do trabalho e da confiança- e da tranquilidade da ordem, fazem feliz uma pátria.
No entanto estas verdades não contradizem estoutra: em Portugal a classe que marca pelo número e como alicerce de todas e como expressão mais espontânea da alma nacional é a gente dos nossos campos.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Neste aspecto ela é o primeiro valor humano do País. O Estado faz obra digna de todo o louvor e da gratidão do País inteiro respeitando-a, acarinhando-lhe as pessoas, protegendo-lhe as actividades, proporcionando-lhe meios de progresso, reconhecendo-lhe o mérito público...».
Sr. Presidente e Srs. Deputados: não quero, não devo perturbar a grata sensação de deleite espiritual que a ressonância das palavras ponderosas e belas