18 DE ABRIL DE 1956 837
créscimo da produtividade e se acuda com assistência técnica especializada às plantações da província.
Os limitados meios de acção de que dispõe a Repartição Técnica de Agricultura da província não se compadecem com as necessidades existentes, no momento actual, da investigação e da assistência técnica.
A reconstituição e defesa dos solos, a selecção das variedades mais reprodutivas, a técnica cultural mais apropriada àquele meio são problemas que requerem experiência, tempo, despesas e estudo especializado, mas cujas soluções não se podem adiar.
Já por vezes me tenho referido na Assembleia Nacional às diversas causas a que se deve atribuir a queda da produção e da produtividade, pelo que me dispenso de repeti-las. Em todo o caso, referir-me-ei à falta pela parte do Estado, por ser de notável grandeza, em não ter facultado a agricultura assistência prestada por serviços agronómicos e de fitopatologia convenientemente montados e apetrechados. Devo no entanto, com a maior satisfação, fazer ressaltar a recente colaboração entre as empresas agrícolas europeias e os serviços oficiais do Estado, particularmente os de investigação científica.
Para isso terei de fazer breves referências a uma praga que atacou coqueirais da ilha do Príncipe e à benéfica intervenção do Estado, por intermédio da Junta das Missões Geográficas e de Investigações do Ultramar.
Vou, pois, referir-me ao caso alarmante provocado pela praga da cochonilha do coqueiro -Aspidiotus destructor-, que na ilha do Príncipe fez tão grande razia nos coqueirais que a produção da copra baixou para cerca de metade naquela ilha.
Pois bem, em presença deste estado calamitoso, o Estado e os agricultores uniram-se e, cada um dentro da sua esfera de acção, têm lutado contra aquela praga, e de maneira tão eficaz que se julga a levem de vencida dentro de alguns anos.
É-me grato registar que, sob os auspícios da missão cientifica de S. Tomé e Príncipe, que foi presidida pelo Eng. Prof. Ezequiel de Campos, e com o patrocínio da Junta das Missões Geográficas e de Investigações do Ultramar, a que preside o nosso ilustre colega Dr. Prof. Mendes Correia, houve oportunidade de o biologista daquela Junta Dr. Castel-Branco realizar uma missão de estudo na província, para se conhecer a praga e saber dominá-la.
Mas, Sr. Presidente, no mesmo tempo que tenho o prazer de registar este facto consolador, sinto também o dever de frisar, e com profunda mágoa, que a intervenção foi tardia.
A existência da praga foi notificada e comunicada aos serviços agrícolas da província em princípios do ano de 1954. A intervenção do biologista Sr. Dr. Cas-tel-Branco só teve lugar no 2.º semestre de 1955, quando já toda a ilha estava infectada.
Se a intervenção tivesse sido imediata sobre os primeiros focos, a praga tinha morrido à nascença e, consequentemente, tinha-se evitado que milhares de contos fossem perdidos para a economia particular e para o País.
Eu não podia deixar de fazer este reparo. Sr. Presidente.
A demora na intervenção causou profundos prejuízos!
Agora só há que remediar o mal, e à custa das empresas particulares, cujas plantações foram atingidas pela praga.
E desejo indicar, Sr. Presidente, qual foi o bom resultado da missão realizada pelo distinto funcionário da Junta das Missões Geográficas e de Investigações do Ultramar.
Conseguiu aquele biologista identificar a cochonilha - Aspidiotus destructor-, que se fixa nas folhas dos coqueiros, vivendo da seiva destas plantas.
Esta cochonilha, atacando os coqueiros da ilha do Príncipe, enfraqueceu aqueles que ofereceram maior resistência e matou os outros menos resistentes.
Dos coqueiros velhos, mais fracos pela idade, que foram atacados pela cochonilha ficaram apenas os troncos despidos, tendo morrido as árvores. Os coqueiros de pouca idade também não resistiram ao ataque, pois definharam e morreram. Só os coqueiros com mais vitalidade, de cinco ou seis anos, ofereceram maior resistência ao ataque, mas decaíram no seu aspecto vegetativo, ficaram amarelecidos e o fruto passou a cair antes de completar a sua formação.
No seu conjunto os coqueirais da ilha do Príncipe atingidos pela praga apresentam-se com zonas amarelas de maior ou menor extensão e com paus ao alto de velhos coqueiros mortos pela cochonilha. É realmente uma situação desoladora, que tive oportunidade de observar num documentário cinematográfico do Dr. Cas-tel-Branco. Não admira, pois, que na ilha do Príncipe tenha baixado para quase 50 por cento a produção da copra nas plantações atacadas.
Depois de identificada a doença, era necessário escolher o processo mais prático de a atacar.
Como é sabido, são numerosos os processos de luta contra os insectos. Estes são destruídos por outros insectos ou fungos, pelo emprego de insecticidas, pela apanha e destruição das posturas, pela reacção defensiva da planta, pela acção de fenómenos meteorológicos, etc.
O biologista Dr. Castel-Branco reconheceu impraticável o emprego de insecticidas e outros, e decidiu-se pela luta biológica, por meio de joaninhas -Cocinela eryptognata-, que foram adquiridas em Trindade e estão a dar óptimos resultados.
Aquele entomologista da Junta das Missões Geográficas e de Investigações do Ultramar, ao realizar as suas observações na ilha do Príncipe, entrou em contacto com o Imperial College of Tropical Agriculture do Commonwealth Institute of Biological Control para concretizar os seus estudos no reconhecimento do Aspidiotus destructor e assentar na maneira de combater este insecto e de adquirir e transportar para a ilha do Príncipe o insecto depradador -Cocinela eryptognata - fornecido pelo referido instituto biológico.
Temos hoje de reconhecer, Sr. Presidente, que foi coroada do melhor êxito a missão realizada pelo entomologista da Junta das Missões.
As joaninhas são criadas em recintos a abrigos especiais -insectários- e, depois de apanhadas em número aproximado a oitenta, para haver todas as probabilidades de reunir casais para se reproduzirem, são lançadas nos coqueiros atacados pela doença. Aí vivem à custa da cochonilha. limpando completamente as folhas das plantas.
Hoje, Sr. Presidente, reina a esperança de se recuperarem os coqueiros, que já aguentam o fruto devido à limpeza operada pelas joaninhas; e procura-se proceder à replantação das baixas verificadas e continuar na labuta constante e persistente de destruir a praga, à custa de encargos e cuidados das respectivas empresas agrícolas.
Sr. Presidente: o que acabo de expor diz-nos das vantagens que resultam da colaboração e entendimento entre o Estado e as empresas agrícolas da província de S. Tomé e Príncipe e mostra-nos a necessidade que há de cuidados e encargos financeiros por parte dos agricultores para manter as plantações e do auxílio e atenção que estes assuntos de técnica agrícola ao Estado devem merecer.