644 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 202
para que dentro da possível brevidade possam minorar-se as preocupações sérias e graves de muitos chefes de família, cuja modelar administração não é suficiente para harmonizar os seu limitados recursos com os encargos que pesam sobre os seus ombros.
E quereria que esta presença significasse também o desejo de que a Nação, amparada por essa reeducação das mentalidades, por melhor formação prática e por justas e equitativas compensações, venha a sentir-se envolvida nesta obra renovadora do nível de vida português e ponha ao serviço do País a sua inteligência e saber, os seus braços humildes, numa palavra, toda a sua potencialidade de acção. Só assim contribuirá eficazmente para a sua felicidade e para um prestigio que não admita de futuro quaisquer confusões sobre o grau de desenvolvimento de Portugal.
Disse.
Vozes: - Muito bem, muito bem!
A oradora foi muito cumprimentada.
O Sr. André Navarro: - Sr. Presidente: não desejo alongar demasiado a minha intervenção no debate em causa. E resolvi assim proceder por ter reconhecido, desde o primeiro momento em que o assunto foi posto a consideração da Comissão de Economia desta Assembleia política, que o tema proposto para discussão pelo ilustre homem público engenheiro Daniel Barbosa, antigo Ministro da Economia, que, neste país desempenhou assinalado papel de relevo em período agudo a nossa vida económica, se prestaria, no momento que decorre, a erradas interpretações e que, como conclusão da análise feita, resultaria pouco se ter acrescentado para o esclarecimento daquela assembleia de que nos fala o ilustre Deputado e que disse se poderia reunir em pequeno salão; como também, e isso seria o mais grave, poder vir a alimentar, com perigosas ilusões, aquela multidão que bem arrumadinha mal poderia cobrir sa modesta área molhada do actual porto de Leixões».
Assim, possivelmente também não cometerei grande erro dizendo, ao começar as minhas considerações, que o slogan que o Deputado Daniel Barbosa não quis decerto lançar, mas que a tal multidão concentrada no porto de Leixões pôs a correr - os 3.000$ de vencimento -, já teria agora dado a volta ao Mundo, se tivéssemos colocado ombro a ombro todos aqueles que o difundem, entusiasmados e aquecidos pelas 3000 calorias do sustento. E, como acontece sempre que uma multidão desconhecedora de complexos problemas é posta, sem a devida preparação, perante questões de tão melindrosa análise, pouco ficará de útil deste debate. E assim, a grande maioria não leu, ou esqueceu rapidamente se o leu, o muito de sensato que aqui nos disse o Deputado Daniel Barbosa e olvidou, decerto, entre outros, a justeza do período que corta cerce todas as ilusões da conquista do «eldorado a curto prazo», que outros já têm prometido sem mesmo adivinharem como o podem cumprir.
Por isso convirá repetir a fala do Deputado avisante, quando disse: «toda a tentativa simplista do aumento do poder de compra por um aumento de vencimentos ou ide salários sem a contrapartida do aumento das quantidades produzidas e da estabilidade e não mesmo do embaratecimento - do custo de produção serviria só para acarretar novos agravamentos do custo da nossa vida ou levar quando muito a manter, com maiores ou menores modificações, as dificuldades actuais; até porque a reacção normal da produção, perante um maior interesse da procura, poderia traduzir-se numa contracção conducente a uma elevação de preços. Iríamos então e muito mal a pior.
Sr. Presidente e Srs. Deputados:
Quando o engenheiro Daniel Barbosa nos definiu, do alto desta (tribuna, o nível da nossa existência como povo integrado nesta velha Europa e os riscos e perigos maiores e menores que (resultariam do seu grau, que considerou baixo, já essa multidão anónima, que constitui o admirável e civilizado povo que deu mundos ao Mundo, tinha começado a sei- activamente trabalhada - permitam-me a expressão - por campanha conduzida segundo a técnica comunista, avisando-a de idênticos perigos e dando-lhe como miragem um mesmo eldorado, obtido, porém, por via mais radical, ao sabor da doutrina marxista.
Não desejo, contudo, ajudar a divulgai o joio na seara, mas digo, e apenas como prevenção, que a economia já hoje é habilmente manejada, com números e 'estatísticas, ao sabor dos mais diversos ideais, por técnicos bem preparados desse imperial país que trabalha afincadamente para dominar o Mundo, arregimentando aliados nos mais variados e, digamos, por vezes inesperados sectores de uma população.
São, assim, de um recente manifesto político pré-eleitoral as seguintes palavras dos doutrinadores do Partido Comunista, referindo-se às classes menos abastadas da população:
As pequenas economias diminuem de ano para ano nas caixas económicas, como o provam as estatísticas oficiais.
Como vemos, as estatísticas prestam-se para tirar conclusões opostas; que o diga, se não é assim, o ilustre Deputado Dr. Bustorff da Silva.
E, mais adiante, lá aparece no referido pasquim, como solução dos técnicos comunistas para os males que afligem os menos afortunados deste país, a já falida panaceia da reforma agrária dos latifúndios alentejanos, baseada numa simples econo-geometria. E, assim, aconselham, além desse amplo partimento agrário que rapidamente eleve o nível de vida da nossa gente, «uma melhoria substancial dos salários e ordenados das classes trabalhadoras, de forma a assegurar a estas um maior poder de compra».
Como vemos, Srs. Deputados, estaria aqui nestas tão fáceis medidas, segundo os mentores comunistas, a verdadeira chave do complexo problema de conseguir per capita a média das 3000 calorias de sustento ...
Mas adiante, e, como disse logo que subi a esta tribuna, apenas me proponho fazer agora breves considerações, digo melhor, repetir considerações já feitas, tendo só em vista, não esgotar, como é compreensível, um assunto que é todo o problema da vida nacional, mas tão somente citar alguns dados que possam vir a esclarecer melhor os espíritos perturbados por tantas miragens e ilusões.
Dirão, talvez, alguns dos que fazem parte da reunião do salão já citado que serão mais uns números para apoiar o desenho de uma paisagem económico-social que não será fotografia exacta das realidades. A esses direi apenas: permitam-me que neste mundo de convencionalismos variados eu seja hoje aqui nesta tribuna um simples representante do homem da rua, desprovido de paixões, indiferente a todas as vaidades humanas, sem ambições de mando, e que procura apenas compreender as principais causas da maleita que atinge todos os menos afortunados do século, observando tudo o que nos rodeia com espírito de ecologista, ligando a população ao ambiente em que vive, e, assim, ajudar a restabelecer aquele clima de estudo que permita que se continue a trabalhar, neste país, seriamente, como se tem feito nestes últimos trinta anos, a bem da Nação.