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646 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 202

da Europa, num dos mais altos andares deste arranha-céus da riqueza.
Não deixemos, porém, de observar que nos andares mais caros, até ao 14.º, estão apenas os países privilegiados da indústria, os da Europa do cavalo-vapor, e ainda as nações agrícolas de clima marítimo. Daí para cima só habitam os desprotegidos do século. Contudo, será conveniente não olvidar que se trata de um prédio de relativo conforto.
E assim é que na notável obra americana já citada, e que apoia inteiramente o que fica dito, se considera Portugal entre os países de médio nível de existência, quando tomadas em conta as condições típicas da sua economia.
Consideremos agora e apenas, para melhor remate desta análise e mais perfeita verificação das causas gerais desta seriação económico-social dos países europeus, o que se refere a alguns aspectos da produção agrícola.
Para não cansar a atenção de VV. Ex.ªs apenas citarei, quanto à produção de alguns géneros fundamentais, tão-somente os rendimentos por hectare referentes ao trigo e à batata - o primeiro, produto duma cultura de sequeiro, normalmente de carácter extensivo, e o segundo, em muitas regiões agrícolas da Europa obtido com um grau de intensidade cultural mais ou menos elevado.
Em relação à primeira cultura, considera Reithinger que os países que apresentam médias de produção compreendidas entre 15 e 20 q por hectare, médias consideradas satisfatórias, são apenas os das regiões marítimo-setentrional e continental ocidental, abrangendo ainda a Alemanha, a Checoslováquia, a Áustria e a Itália, esta última nação, decerto, com uma média nitidamente influenciada pelo clima da região setentrional desse país. Todas as restantes nações, incluindo Portugal, apresentam valores compreendidos entre 8 e 15 q, médias muito semelhantes às que se observam na cultura cerealífera de sequeiro em todos os países das margens do Mediterrâneo, e essas médias são ainda muito próximas das referentes às regiões cerealíferas europeias caracterizadas pela queda de chuvas durante o Verão e de Invernos frios.
Como vemos, continuamos a ter, nos domínios da produção cerealífera, os mesmos companheiros.
Em relação à batata, como se trata duma cultura com o carácter dominantemente intensivo em muitas regiões de Portugal, onde dominam influências atlânticas, e restringindo-se o seu cultivo às terras mais favoráveis, não admira que as médias de produção registadas nos coloquem num nível muito próximo do correspondente aos países agrícolas mais progressivos.
Quanto ao emprego de fertilizantes, Reithinger situa-nos entre os países que adubam satisfatoriamente as suas terras no que se refere a adubos fosfatados; quanto aos azotados e potássicos, estamos ainda em posição semelhante à dos nossos habituais companheiros. E se desejássemos ir mais além neste género de pesquisa, no domínio do agrário, e considerarmos a própria estrutura agrícola no que se refere ao número de patrões, empresários familiares e assalariados, e por motivos óbvios fizéssemos este estudo apenas em referência aos países situados para cá da «cortina de ferro», chegaríamos também à mesma relatividade de situações.
E qual o porquê desta série significante de coincidências?
Foi na era do cavalo-vapor que se verificou neste continente diferenciação mais sensível nos domínios do agrário e do industrial. A simples localização para as bandas de enrugamentos antigos das majestosas florestas de criptogâmicas vasculares do período permo-carbónico e seguintes foi, na realidade, passados biliões de anos, o factor dominante desta distinção. E foi, assim, tão-sòmente o facto de o homem haver descoberto a maneira prática de utilizar a energia do sol, potencializada nos restos dessas antigas florestas, que determinou os limites que separam hoje os países industriais e os agrícolas, o que, por outra forma de exprimir, podemos dizer os evoluídos dos subevoluídos da Europa.
O extenso mar Mediterrâneo, que em épocas muito remotas assistiu u vinda do homem de paragens orientais, foi depois espelho de grandes civilizações e viu nascer e iluminar por todo o sempre, à sombra de uma cruz, todo o renascimento da vida humana, esse mar, ia dizendo, continuará a constituir, no contemporâneo, espelho de ancestrais virtudes.
Nas suas margens soalhentas debruçam-se, hoje, apenas velhos países, mas onde a tradição do duro labor da terra poderá constituir, ainda, fonte inesgotável de novas criações. É aí, também, nessa parcela do Ocidente, que se acantonam as populações, demogràficamente das mais saudáveis, embora também das mais castigadas pelo egoísmo distributivo do século.
Digamos, pois, que neste Velho Mundo a Europa agrária, na qual estamos tão intimamente integrados, é parcela caracterizada por um solo velho, muito gasto - é um facto - pelo uso, mas sustentáculo, desde tempos remotos, de populações numerosas e sofredoras e dotadas de elevada potencialidade civilizadora. E isto que fica dito define bem, em síntese, a verdadeira paisagem da nossa existência, e explica, até certo ponto, como se gerou o subevoluído europeu.
Não é difícil, também, encontrar em elementos dominantes do clima as causas que consolidaram esta diferenciação económico-social.
Na realidade, a zona do subdesenvolvido europeu tem chuvas anuais suficientes para uma agricultura intensiva, por vezes mesmo superiores, em altura pluviométrica anual, às dos países do Ocidente e Norte europeus de clima marítimo; quedas pluviais, porém, muito diminutas durante os meses de Estio nuns, noutros concentradas nesta estação, o que determina a quase impossibilidade, na falha do regadio, do aproveitamento contínuo e eficaz da terra, especialmente na produção dos alimentos de carácter energético.
Só mantém, de facto, contínua actividade vegetativa e frutificante o elemento lenhoso - a árvore e o arbusto-, actividade apenas ciclicamente interrompida nos períodos naturais de repouso. E isto quanto aos. aspectos de maior realce, consequentes deste factor dominante - o clima. E como o regime de chuvas se reflecte, por outro lado, por forma bem marcada na vida dos cursos de água, não é difícil ver onde se apresenta também a principal causa da falta notória de energia hidroeléctrica nos países sujeitos ao regime periódico de pronunciada estiagem. E a agravar esta falha sabe--se, como já lembrei, que as florestas virgens dos tempos geológicos não deixaram, para estas bandas, ricos despojos de carvões fósseis.
Assim, só a cisão nuclear e tudo o mais que se lhe seguir nos domínios das ciências físicas e das respectivas aplicações técnicas poderá, em dia mais ou menos próximo, modificar as bases em que o problema tem sido posto.
Como consequência do que fica dito, compreende-se bem que a representação geográfica do económico-social europeu não poderá divergir muito da cartografia pluvial do Velho Mundo, corrigida pelos factores heliotérmicos.
Isto não obsta a que na extensa zona agrária europeia surjam, aqui e acolá, mercê de condições climáticas especiais e ligados a elas, aspectos pedoló-