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840 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 207

Em presença destas informações, e já concluído o Hospital-Faculdade e a primeira fase das instalações desportivas, tenho a certeza de que a Assembleia se congratulará ao reconhecer o muito que o Governo já fez para que, num breve futuro, a Cidade Universitária da capital seja um facto. Torno a repetir: muito já se fez, mas muito se vai fazer ainda até fins de 1958.
No entanto, Sr. Presidente e Srs. Deputados, o Governo não pode nem deve considerar concluída a sua tarefa neste sector. Estou certo de que será seu intento iniciar, logo que o achar oportuno, a construção da reitoria e da Faculdade de Ciências. Mas as precárias condições em que se encontram estes dois departamentos da Universidade Clássica de Lisboa não permitem que se prolongue por muito mais tempo ainda n actual estado de coisas. Espero que pelo menos em 1958, ou o mais tardar em 1959, se iniciem as referidas construções.
Sr. Presidente: é já quase um lugar-comum afirmar-se que não pode haver hoje desenvolvimento económico sem ser acompanhado por um grande número de cientistas e técnicos devidamente preparados. O Governo reconhece este facto e ainda há bem pouco tempo o provou quando submeteu à apreciação desta Assembleia o projecto de lei para a criação dum instituto nacional de investigação.
O Sr. Ministro da Educação Nacional muitas vezes se tem referido nos seus discursos e preâmbulos de decretos à necessidade de o País poluir cientistas e técnicos convenientemente preparados. Além disso, já vários Srs. Deputados nesta Assembleia destacaram a falta que hoje se nota nos países mais desenvolvidos, sob o ponto de vista material, de cientistas que permitam manter em marcha e em bom funcionamento a utensilagem moderna dos meios de produção.
Enquanto outrora, nos tempos estáveis da velha máquina a vapor e em que dominava o materialismo, o número de cientistas necessário era reduzido e reduzidos também os conhecimentos indispensáveis que estes deviam possuir, hoje o panorama é totalmente diferente.
Cientistas e técnicos devem hoje ter uma formação cultural bem diferente da de outrora, para que o seu labor seja fecundo. Assim, deverão possuir uma forte preparação matemática, na qual os métodos da álgebra abstracta são um dos seus firmes esteios. A preparação física deverá ser intensa, devendo adquirir profundos conhecimentos da tal física moderna que levou o cientista, por tanto se debruçar sobre os problemas da matéria, a abandonar o materialismo.
Em resumo, só com profunda cultura de base físico-matemática é que os futuros cientistas poderão explorar os novos sectores que estão revolucionando o Mundo, dos quais destaco somente a electrónica e a energia nuclear; o primeiro permite a automatização, o segundo poderá fornecer à humanidade tanta energia que esta talvez nunca venha a faltar.
Sr. Presidente: o outro ponto que quero focar é a necessidade premente, hoje mais do que nunca, de nas nossas Universidades se cultivar a investigação científica. E costume classificarem-se as ciências em puras e aplicadas. Mais correctamente deveria dizer-se: a ciência s uma, do seu cultivo é que nascem as aplicações. Como se poderia apontar com vários exemplos, só há verdadeiro progresso científico se se promover a investigação em ciências puras.
Ora a preparação dos futuros cientistas e investigadores é tarefa que incumbe às nossas Faculdades de Ciências. Por isso, elas deverão estar preparadas convenientemente para essa missão.
Infelizmente, como já lautas visses apontei, a organização das nossas Faculdades de Ciências necessita de uma remodelação completa para que elas possam cumprir. Mas na parte que diz respeito à Faculdade de Ciências de Lisboa sobrepõem-se ainda, além disso, as deficiências das suas instalações. Estas são de tal natureza que a falta de espaço e de laboratórios adequados impede que o ensino prático laboratorial atinja o limiar necessário para uma boa assimilação dos conhecimentos.
Para o demonstrar, aponto os seguintes números: encontram-se inscritos no presente ano nos vários cursos de Física cerca de 800 alunos. Se se exigir a cada um destes alunos quatro horas de trabalhos práticos semanais, serão 3200 alunos-horas de laboratório por semana. Como semanalmente o número de horas em que o laboratório se encontra em laboração não pode exceder quarenta e quatro horas, corresponde, no caso mais favorável de uma igual repartição, que nunca se realiza, a unia população de, aproximadamente, 70 alunos.
Ora, como se dispõe unicamente de duas salas para a realização dos trabalhos e como em cada uma não se podem nem devem meter mais de 18 alunos, poder-se-á fazer uma ideia das deficiências do ensino prático provocadas unicamente por falta de espaço. Isto é, esta falta, mesmo que mais nada faltasse, nem pessoal nem material, impediria por si só de dar ao ensino prático a eficiência prevista na já velha e desactualizada organização das Faculdades de Ciências.
O que se disse para a Física poder-se-ia repetir para a Química e para as restantes secções da Faculdade.
Um outro ponto que desejo destacar para mostrar a necessidade imperiosa de quanto antes se tratar de instalar a Faculdade de Ciências em edifício conveniente é o problema da sua biblioteca. Esta tem um grande movimento, muito e muito superior ao das bibliotecas das outras Faculdades. Basta registar que em 1955 o número de volumes consultados atingiu 30 824.
Devido e o incremento do seu movimento não ser acompanhado de um aumento proporcional de espaço e pessoal - basta dizer que o actual pessoal é o mesmo que era em 1919 (um conservador e um ajudante) -, notam-se, como é natural, graves deficiências. Mantém-se, apesar de tudo, um serviço eficiente e intensíssimo de leituras, graças à competência e extraordinária dedicação e zelo do seu conservador, que conta actualmente cinquenta anos de exemplar serviço. No entanto, por inacreditável que pareça, nem existe um catálogo geral onomástico nem um ideográfico. Apenas existe um obsoleto catálogo por secções. Encontram-se centenas de volumes por catalogar e há milhares de livros e revistas sobre bancos e cadeiras ou simplesmente alinhados no chão. Centenas de espécies vão-se deteriorando, por carência e deficiência de limpeza.
Chamo, em particular, a atenção do Sr. Ministro da Educação Nacional para este problema. Torna-se indispensável aumentar desde já o pessoal da biblioteca para se poder proceder à elaboração dos catálogos essenciais e simultaneamente proceder-se a uma arrumação de espécies no pouco espaço que ainda se encontra livre.
Sr. Presidente: vou terminar, chamando a atenção do Governo para as deficiências apontadas. Como estas só poderão ser suprimidas com a construção dum novo edifício para a Faculdade de Ciências, espero que as dificuldades técnicas e orçamentais sejam removidas para que no mais curto espaço de tempo se inicie a sua construção.
Construído este, a sua localização nas proximidades das Faculdades de Direito, Letras e Medicina - e pena é não se poder acrescentar a esta lista uma Faculdade de Teologia permitirá aqueles contactos tão proveitosos entre estudantes de Faculdades diferentes. Este convívio não só atenuará os defeitos inerentes à especialização como evitará possíveis deformações duma cultura pu-