808 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 45
sente e à visita do Sr. Ministro da Defesa aos pontos flagelados por semelhante onda de selvajaria.
Conscientes e acertadas são algumas opiniões das nossas populações nativas, que, comentando a chegada do Sr. Ministro ao Norte, diziam, cheias de confiança, à sua maneira simples, que o Chefe Grande Militar ia dar ordens para escorraçar com a maior severidade os bandidos que vinham do Tanganhica fazer guerra às suas terras para matar as suas famílias, mulheres e seus filhos, que o seu Governo, o Governo Português, sempre tem protegido carinhosamente.
Palavras de sentido especial, que os nativos, com a maior naturalidade, deixam desprender dos seus lábios e que definem bem o seu portuguesismo e traduzem fielmente a sua firme opinião quanto ao momento actual.
Uma forte réstia de esperança no regresso da paz e tranquilidade às suas terras é suscitada pela visita do Sr. Ministro da Defesa ao Norte, fazendo renascer naquela gente boa, cuja lealdade é atestada por alguns séculos, a maior fé nos destinos de Moçambique.
Nenhumas dúvidas temos quanto à multiplicação do auxílio que será dado a Moçambique para a sua defesa, e prosperidade dos seus povos.
Do que temos dúvidas, e certa apreensão, é quanto à prontidão dos recursos, porque esta, como é óbvio, depende de vários factores.
Mas há que remover dificuldades, sejam elas de que carácter forem e custe o que custar, para que determinados elementos essenciais à defesa acusem a sua presença quando necessários.
Vozes: - Muito bem!
O Orador: - As demoras no exercício de determinadas acções, que compreendemos serem muitas vezes inevitáveis, não as compreendem as populações nativas, que delas fazem juízos errados e prejudiciais, chegando até a admitir superioridade da parte de quem nos hostiliza na nossa própria casa, o que pode gerar graves efeitos de ordem psicológica.
Este um grande mal que convém evitar quanto possível, para que a fé que até agora sempre tem existido nas gentes do Norte não desfaleça, mas antes, pelo contrário, se fortaleça cada vez mais.
Não deixar que o arrastar dos tempos possa conduzir a conclusões erradas sobre a nossa capacidade realizadora e de protecção é, sem dúvida, um grande triunfo, que conta bastante na psicologia dos povos africanos.
No panorama internacional, o tempo e as delongas podem contar favoravelmente, na medida em que quem hoje nos vem hostilizando venha a considerar a honestidade dos nossos propósitos e o humanismo de que se reveste a nossa política ultramarina; mas nos locais onde se sente o pese do inimigo, no nosso próprio espírito e na nossa própria carne, produz tremendos efeitos desmoralizadores, que podem conduzir a êxodos irreparáveis.
A tarefa não é, de nenhum modo, fácil, devido a razões que todos conhecemos, mas temos a certeza de que, após os recentes estudos efectuados pelo Sr. Ministro da Defesa e pelo seu gabinete nas próprias localidades afectadas, serão removidas teclas as dificuldades e melhorados os sistemas para melhor exito das nossas actuações.
Temos razões para crer que a acção das nossas forças armadas e administrativas, às quais eu aqui rendo as maiores homenagens, em nome de Moçambique, pelo seu bravo heroísmo, se fará sentir cada vez mais, para que alcancemos o triunfo que todos, pretos e brancos, desejamos.
Nós, os civilizados, sem olhar a cores de pele, irmanados sempre pela mesma fé e amor patriótico, temos fundados motivos para crer também nos maiores e mais benéficos resultados desta tão oportuna visita do Sr. Ministro da Defesa a Moçambique, na mais propícia fase para uma inspecção minuciosa que o momento impunha.
Não carecemos de mais nem de maior heroísmo, nem de vontades indómitas, que as temos a transbordar, e elas nos têm dado o maior ânimo para defendermos corajosamente as berras onde vivemos e onde continuaremos sempre, sejam quais forem as agruras por que tivermos de passar.
Carecemos, sim, de mais e melhores recursos, sem os quais os nossos bravos soldados e as milícias que todos os dias sabem morrer pela Pátria não poderão cumprir capazmente a tarefa heróica que lhes está confiada e à qual se têm devotado com estoicismo e com amor patriótico, sem temer o inimigo traiçoeiro, que nos espreita a cada passo.
Homens destemidos, para quem a perda da sua própria vida não conta, ali vêm defendendo com inexcedível valentia as terras e as gentes que se orgulham de ser sempre portuguesas.
Mais do que palavras de louvor e agradecimento, pedem eles maior auxílio material, que não poderá fazer-se esperar, pois sem esse pronto auxílio a sua missão pode correr o risco de um fracasso, frente a um inimigo portador de armas modernas, que lhe são confiadas por países inimigos da civilização e invejosos da situação que; ocupamos em África como povo civilizador.
Não cabe neste apontamento, como é óbvio, um relato sobre a actividade desenvolvida pelas nossas forças armadas em perseguição do inimigo, que tudo faz para se fortalecer à medida que o tempo vai avançando!
Mas tem cabimento, sem dúvida, uma palavra honesta que traduz o pensamento de quantos, pretos e brancos, mourejam por aquelas terras onde têm os seus filhos, os seus próprios netos e onde ficarão sempre trabalhando em prol de uma maior civilização e progresso.
E essa palavra, sincera, cheia de portuguesismo, proferida por quantos vivem o panorama actual do Norte de Moçambique, pretende significar uma mais dura acção, isenta de qualquer gesto paternalista, contra os elementos terroristas vindos do exterior, que estão causando as maiores desgraças em terras de Moçambique onde sempre existiu paz e sossego.
Paternalismo, sim, o mais carinhoso e a maior protecção para as nossas populações, que têm sido sempre fiéis e ajudam até a combater patriòticamente o terrorismo, reagindo admiravelmente contra os ataques traiçoeiros que o inimigo vem preparando.
Essa protecção e o maior amparo está sendo dispensado às populações nativas ruma obra de gigantescas proporções e de extraordinária grandeza social, em Cabo Delgado, com a criação de aldeamentos, onde as populações se sentem protegidas e auxiliadas, ali fazendo a sua vida sob a mão protectora do Governo, que tanto se tem preocupado com a sua segurança, progresso material e social.
Já aqui tive oportunidade de pormenorizadamente me referir a tão extraordinária obra de recuperação e segurança das massas nativas, o que honra o Governo-Geral e o Governo de Cabo Delgado e traduz a maior fé e confiança na gente de Moçambique, que persiste em ser sempre portuguesa.
Torna-se, pois, necessário auxiliar cada vez mais esta obra em todo o seu pormenor, porque ela representa, sem dúvida, a maior resposta que, como povo humanitário e civilizador, podemos dar aos países que vêm fomentando