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6 DE JANEIRO DE 1971 1243

Num meio social em que se pretenda, efectivamente, servir o bem comum, e, portanto, o homem na plenitude da sua dignidade, à justiça tem, necessariamente, de juntar-se a lei da caridade, que é o vínculo da perfeição nas relações humanas.
Será este o único fermento capaz de transfigurar o agregado social, libertando, asam, os seus membros de um gélido convívio meramente convencional, para os integrar numa verdadeira sociedade comunitária em que todos se sintam afectuosamente interligados por aquela fraterna solidariedade que a todos levará, a par da segurança colectiva, uma sã alegria de viver na paz das consciências.
Como já alguém escreveu, «embora a justiça, praticada com todo o rigor, possa extirpar os raízes das lutas sociais, não poderá nunca sozinha congraçar ânimos e unir corações. Todas as instituições criadas para consolidar a paz e promover a colaboração social têm de fundamentar a sua estabilidade principalmente no vínculo que une na almas, pois, se este falta, tornam-se ineficazes os melhores e mais bem organizados 'estatutos, que, então, só pela força podem ser mantidos. Por isso, só haverá verdadeira cooperação de todos para o bem comum quando as diversas partes da sociedade sentirem Intimamente que são membros de uma só e grande família, de modo que, se um membro sofre, todos os outros sofrem com ele».
Em suma: nesta conformidade, só ao homem animado pelo sentimento da cristã fraternidade, com as virtudes da bondade, da humildade, do altruísmo e, sobretudo, da temperança - que não ao egoísta, sempre insaciável na ilimitada satisfação das suas necessidades materiais -, se deverá atender numa coerente estruturação da comunidade nacional.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Notemos, por outro lado, que, além desta indispensável indagação sobre a natureza do homem, haverá ainda que ter sempre em conta, entre nós, toda a compleição, toda a fisionomia, toda a formação moral e espiritual do seu modelo lusíada.
Mas sobre esta particularidade aí temos a nossa história a elucidar-nos, com todos os seus fastos (de grandeza e infortúnio, de glória e até de apagada e vil tristeza), cuja sedimentação ao longo dos séculos havia de criar o cerne da Pátria e temperar o carácter do povo português, que a si próprio se impôs a evangelizadora missão de dilatar a Fé e o império.
Não, positivamente, o império dos bens e interesses materiais, mas o império da sua cultura europeia e, sobretudo, da própria civilização cristã, que, por inata vocação atlântica e ecuménica, levou aos quatro contos do Mundo.
Povo que, se bem conduzido pelos seus chefes, jamais consentiria que outro o substituísse ou se lhe avantajasse no cumprimento do seu nobre e promissor destino, pois, em verdade, nunca se poderá com acerto dizer que «são para mandados, mais que para mandar, os Portugueses».
Povo já desesperado de que, por ouvidos surdos à voz dos avós, se levantasse hoje as novo o esplendor de uma pátria de heróis e santos, como nos vêm lembrando os eloquentes e imperativas estrofes do Hino Nacional.
Srs. Deputados: Creio que foi toda esta .enunciada e complexa problemática, certamente aliada a outras especiosas razões aqui não catalogadas, que levaram o homem extraordinário, que a Providência em boa hora nos legou o perante cuja memória respeitosamente me curvo, não apenas a procurar a melhor forma de convivência entre os Portugueses, mas ainda a enveredar pelos rumos da verdadeira lusitanidade e erguer a Nação Portuguesa do caos ideológico, ou do racionalismo ateu, em que se debatia, para a elevar, com o sopro vivificante do cristianismo, a altura das suas responsabilidades históricas e messiânicas.
«Sei o que quero e para onde vou», proclamava há quarenta anos o eminente estadista, na revelação de uma vontade indomável, que só o ânimo e a fé de um cristão de Ourique lhe poderiam outorgar.
«Ao proselitismo comunista temos de opor um outro proselitismo, ou seremos vencidos», diria depois.
E assim concebeu, criou e estruturou uma nova ardem, política e social, plena de tradições nacionais e do mais acrisolado, idealismo cristão.
Era a democracia orgânica que surgia, consubstanciada no Estado Corporativo, servido e exaltado pela mística da revolução nacional - «Temos uma doutrina, somos uma força» -, que o seu prestigioso chefe desejava permanente, activa e operante, enquanto houvesse uma carência no lar dos Portugueses.
Ao socialismo marxista e ateu opôs, desse modo, com a maior oportunidade, o proselitismo revolucionário do Estado Social, tradicionalista e cristão.
«Andar (para Angola) rapidamente e em força» foi, por último, a sua palavra de ordem, numa hora. trágica para os destinos da Pátria, em que se corria o risco de perder todos os valores morais e espirituais, como os materiais, acumulados durante séculos com o ingente esforço dos antepassados.
Foi-nos, assim, indicado o caminho; penso que mal avisados andaremos se, empurrados por incómoda ventania, dele nos desviarmos.
Só poderemos, pois, «continuar e renovar», como luminosamente proclamou o Prof. Marcelo Caetano, num seu memorável e já histórico discurso.
E, se bem entendemos, «renovação» apenas deverá ter aqui o significado de completar e aperfeiçoar; nunca o de substituir ou desvirtuar.
O momento será também, por enquanto, propício, visto que a um génio viria a suceder outro génio, que igualmente pôs todo o seu talento ao serviço do País.
Porque os Portugueses, esses já fizeram a sua opção, ainda recentemente bem confirmada pelos numerosos sufrágios do último acto eleitoral.
Não haverá, assim, que voltar a trás, para tentar, novamente, quer no liberalismo qua tal, quer no socialismo de qualquer matiz (seja ele «reformista», «catedrático» ou «fabiano» ...), a solução dos problemas económicos e sociais que nos vão surgindo sempre pela vida fora. Temos aí o corporativismo, genialmente concebido e estruturado entre nós, que .pode responder de forma exaustiva a toda a mossa problemática política e sócio-económica, desde que dotado dos necessários meios e equipamento, que naturalmente lhe são próprios.
Só há, pois, que «vitalizar a acção corporativa», como judiciosamente ponderou o Sr. Presidente do Conselho, a qual, no entanto, desejamos ver expurgada de todos os elementos espúrios ou ineptos -humanos e outros - que a paralisam e, por seu mal, a vêm desvirtuando.

Vozes: -Muito bem!

O Orador: - É que o sistema corporativo, porque respeitai as liberdades fundamentais dos indivíduos, deixa o campo livre a iniciativa privada, alma mator de todo o progresso económico e humano, contendo, por outro lado, na sua estrutura, como é princípio da verdadeira democra-