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DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 60 1244

cia, os meios indispensáveis à correcção de quaisquer anomalias ou inconvenientes que do uso ou abuso da livre iniciativa possam vir a resultar. Questão é que os seus destinatários (e somos todos nós) procedam ma sua conformalidades e dele queiram e saibam socorrer-se na dinamização do processo económico, como ma defesa dos seus próprios direitos e interesses.
Srs. Deputados: As palavras que acabo da proferir levam, directamente a algumas conclusões de ordem pratica, que não deixarei da enunciar, para melhor elucidação sobre o meu pensamento.
Assim, por exemplo:

a) Se em qualquer planeamento económico ou outro nos desviarmos deste ideário, isto é, se não tivermos em conta a natureza transcendente do homem;
b) Se, ainda que no louvável propósito de resolver determinado problema social, pedirmos a nacionalização de uma empresa privada;
c) Se, em vez de agirmos por nós próprios, nos limitarmos a solicitar a intervenção directa do Estado para, com os seus exclusivos meios, resolver os problemas de assistência ou previdência, enjeitando as nossas próprias obrigações de fraterna solidariedade;
d) Se endossarmos ao Estado, para este directamente e só por si o resolver, o problema da determinação e justo equilíbrio dos ordenados e salários dos trabalhadores;
e) Se admitirmos que as pendências entre empresas e trabalhadores se ajustem e liquidem por meio da greve e do lock-out;
f) Se pugnarmos por reformas do ensino (desde o .primário ao superior) ou de quaisquer outras, com menosprezo ou desvio do espírito que informa a nossa civilização;
g) Se, baseados na prosperidade da empresa em que servimos, pretendermos impor em nosso benefício ordenados ou salários compatíveis, embora, com as suas possibilidades momentâneas, mas sem atender à situação, tantas vezes angustiosa, daqueles que directa ou indirectamente contribuíram para essa prosperidade, e a quem também todos -empresários e trabalhadores - devemos solidariedade;
h) Se passarmos a usufruir assim de uma situação privilegiada e discriminatória em relação aos trabalhadores de outras actividades com a mesma categoria e de iguais aptidões;
i) Se nos batermos incessantemente por aumentos sucessivos de ordenados à mistura com muitas outras regalias e vantagens, muitas vezes com vista a satisfação de necessidades meramente voluptuárias, quando a juventude portuguesa se bate e morre generosa e heroicamente de armas na mão, sem outras regalias que não sejam a honra e o orgulho do seu sacrifício pela Pátria, e tudo em estranho e doloroso contraste com a celebrada promessa de «suor, sangue e lágrimas», que se fez numa poderosa nação também, nesse tempo, como nós agora, em estado de guerra;
j) Se reclamarmos das entidades responsáveis, ainda que na melhor intenção de resolver instantes problema da comunidade, o que sabemos ser humana e razoavelmente impossível, designadamente quando essa impossibilidade deriva de imperiosas exigências da defesa nacional;
l) Se, desmentindo as nobres e ancestrais virtudes de uma raça, nos demitirmos, por indolente apatia ou renegada vileza, do indeclinável dever de acautelar e transmitir aos vindouros, intacto ou, porventura, acrescentado, o património que nos veio das glórias do passado;

se tudo isto (ou ainda mais), digo, assim fizéssemos, é bem evidente que, revelando todo o nosso egoísmo, nos comportaríamos como verdadeiros socialistas e frios materialistas, e o equilíbrio de que há pouco falámos tenderia a fazer-se de modo inverso, com o inevitável empalidecimento do espírito e o incontestável proveito das escravizadoras solicitações da matéria.
Não esqueçamos, sobretudo, que se a alma humana necessita permanentemente de reais motivos ou estímulos para se fortalecer e aperfeiçoar, esses só o homem os pode encontrar -mas encontrá-los-á sempre- no próprio meio social em que vive, que é onde surgem todos aqueles problemas que preocupam e afligem os outros homens, e que deverão ser resolvidos com a sua fraternal presencia, segundo a citada lei da caridade.
Nenhum de nós desejará, por certo, que a Nação Portuguesa venha a correr o risco de se transformar, já não digo num cemitério, porque andamos todos para aí bem vivos, mas numa lúgubre multidão de sepulcros caiados, em que só as farisaicas aparências se pudessem salvar.
Meus Senhores: Talvez que estas minhas palavras se não possam considerar, com propriedade, uma válida intervenção parlamentar.

Vozes: -Não apoiado!

O Orador: - Pois que elas sejam então uma simples e sentida homenagem à memória do Presidente Salazar, eternamente credor (e aqui usarei a própria expressão do Prof. Marcelo Caetano) de «toda a admiração, toda a gratidão e toda a veneração que a sua excepcional personalidade e os serviços prestados à Pátria incondicionalmente nos merecem».

Vozes: -Muito bem!

O Orador: - E que as minhas palavras sirvam também para testemunhar ao seu legitimo sucessor na chefia do Governo não apenas a viva esperança, mas a consoladora certeza de que a Pátria em suas mãos será, ainda, mais engrandecida.

Vozes: -Muito bem!

O Orador: - E vou já terminar.
Um grande poeta nosso mandou um dia inscrever na casa que possuía, sobranceira ao mar, numa linda praia estremenha, este celebrado verso do primeiro épico lusíada:
Eis aqui onde a terra se acaba e o mar começa.

Ora, conta-se que um íncola dessa área, ao ler a inscrição, teria comentado:
Afinal, não nos deu novidade nenhuma, pois todos já cá sabíamos muito bem que é aqui que acaba a terra e começa o mar.

Não sei se este meu pobre arrazoado irá merecer a alguém idêntico comentário.
Mas talvez valha sempre a pena relembrar e ... insistir ...

Vozes: -Muito bem!

O orador foi cumprimentado.