O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

2850 DIÁRIO DAS SESSÕES N.° 142

mente o condicionalismo existente nos hospitais que determinou a subversão dos seus internos?

O Orador: — Para responder à pergunta de V. Ex.ª era preciso que o Sr. Presidente me autorizasse a exceder a hora, parque demora bastante tempo ,a esclarecer esse ponto.

Se o Sr. Presidente dá licença . . .

O Sr. Cunha Araújo: — Com certeza que não, mas . . .

O Sr. Presidente: — V. Ex.ª põe uma questão que só pode ser resolvida pela Assembleia, expressamente convocada para apreciar alterações ao Regimento.

Eu tenho de cumprir a lei que VV. Ex.as me impuseram, e, portanto, não posso conceder a V. Ex.ª mais do que trinta minutos.

O Orador: — Eu queria dizer a V. Ex.ª só isto, sem prejuízo dos desenvolvimentos que o caso requer: é muitíssimo mais complicado do que aquilo que aparece, e, sobretudo, do que aquilo que foi dito ao público pelas instâncias oficiais.

A causa . . .

O Sr. Cunha Araújo: — Aceito a explicação de V. Ex.ª No entanto, eu, talvez parque frequente meios diferentes, tenho conhecimento de que as coisas se não passam exactamente assim.

O Orador: — É justamente por isso. Porque V. Ex.ª . . .

O Sr. Cunha Araújo: — Talvez eu esteja mal informado ... Mas era por isso que me queria informar . . .

O Orador: — Não! E porque V. Ex.ª frequenta meios diferentes. Nunca precisou dos hospitais . . .

Risos.

A causa verdadeira é ou não a 'consequência das insuficiências administrativas, da falta de tecnologia médico--sanitária, da ausência de uma política de saúde unitária e coerente?

Pode atirar-se para cima de três centenas de internos a responsabilidade dos erros, deficiências e desleixes inveterados, que também cabem aos escalões superiores da administração e da política?

O Sr. Salazar Leite: — V. Ex.ª dá-me licença?

O Orador: — Tenha a bondade.

O Sr. Salazar Leite: — Tenho estado, evidentemente, com todo o 'cuidado a seguir as palavras que V. Ex.ª acaba de pronunciar. Embora o meu desejo fosse ficar simplesmente escutando, não posso deixar de fazer algumas pequenas referências.

Se bem compreendi — se não compreendi peço desculpa da minha insuficiência —, o Sr. Deputado Miller Guerra não desculpa as pessoas que tomaram a atitude, de que todos estamos senhores dela, mas procura desculpá-las, ou procura, pelo menos, amenizar um pouco a sua culpa referindo-se aos erros do passado, que não foram convenientemente corrigidos e que levaram a uma explosão, quando se proporcionou a altura dessa explosão. Foi assim, Sr. Prof. Miller Guerra?

O Orador: — Foi mais ou menos isso, mas não empreguei a palavra «desculpa», nem se trata de uma desculpa pròpriamente, porque o caso não se passa no plano das desculpas, passa-se, sim, no da observação e valorização de factos. Ora . . .

O Sr. Salazar Leite: — V. Ex.a dá-me licença?

O Orador: — Eu estava a responder . . .

O Sr. Salazar Leite: — Mas é que eu não tinha chegado a fazer uma pergunta . . .

O Orador: — Então peço desculpa e faça favor de fazer a sua pergunta.

O Sr. Salazar Leite: — Estou de acordo com V. Ex.ª . . .

O Orador: — óptimo!

O Sr. Salazar Leite: — Estou de acordo com V. Ex.ª cem por cento em relação ás possibilidades de erros do passado.

O Orador: — É do presente! É do presente, Sr. Doutor!

O Sr. Salazar Leite: — Do presente, se quiser . . .

O Orador: — Não é «se quiser». É que os erros existem no presente e não só do passado.

O Sr. Salazar Leite: — Eu estou a dizer «se quiser». Mas o que não concebo, de modo algum, é que numa altura em que algo de positivo se vinha a procurar realizar, no sentido de dar satisfação aos desejos dos interessados, fosse exactamente este o momento escolhido para tomar uma atitude que, no final de contas, era uma falta a um compromisso.

Vozes: — Apoiado!

O Sr. Salazar Leite: — Outro ponto que me parece extraordinàriamente importante: V. Ex.ª referiu-se ao «campo de concentração» do banco do Hospital de S. José.

O Sr. Casal-Ribeiro: — Sabe lá o que é . . .

O Sr. Salazar Leite: — Será V. Ex.a capaz de me dizer se não foi nesse campo de concentração que se formaram os mais altos valores da medicina portuguesa? Pois não foi esse campo de concentração que serviu de base a toda a nossa história do passado médico? E preciso não nos esquecermos disto, quando tomamos atitudes, Sr. Doutor Miller Guerra.

Vozes: — Muito bem!

O Orador: — Sr. Presidente: Se me dá licença, volto a dizer que as respostas às perguntas que acabaram de ser postas demoram tempo, pois envolvem coisas que precisam de ser esclarecidas. Começando por esta última, diz V. Ex.ª — aliás, é corrente dizer-se da medicina do passado, não do presente, naquela em que V. Ex.ª e eu fomos educados — que o banco do Hospital de S. José era uma grande escola. Hoje, em 1971, com as condições de campo de concentração que lá existem, com a discordância radical que há entre a medicina que lá se pratica — a que se oferece à população — e aquela que se pratica nos centros evoluídos, não é uma escola. Devia sê-lo, mas não é!