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10 DE DEZEMBRO DE 1971 2855

zações de que o Porto carece continuam a ser apenas teimosas esperanças. Cito, de entre as obras camarárias, a solução da infausta Avenida da Ponte, o prolongamento da incompleta Rua da Constituição e ainda o parque da cidade.

E daquelas que estão a cargo da Junta Autónoma de Esteadas: a ligação da auto-estrada à via norte e a abertura da via do nordeste. E por aqui me fico, pois o que aponto já constitui grande tarefa. Mas o Porto carece de que ela se concretize sem delongas, e merece-o bem.

Ponho os olhos em Lisboa e vejo que foi possível, num extraordinário e espectacular esforço, meter ombros e realizar, em curto tempo, um conjunto de obras que parecia até há pouco inviável, ou votado a longa espera. E, iniciadas, prontas ou em conclusão até antes dos prazos —, elas aí estão. Honra seja feita ao dinamismo da presidência das Câmara Municipal de Lisboa e dos seus colaboradores. E termino com uma palavra de muito apreço o felicitações aos dedicados presidentes das Câmaras de Gaia, e escuso de o nomear porque está entre nós, de Matosinhos, Dr. Manuel Seabra, e de Gondomar, Dr. Lema Monteiro, pelo êxito destas jornadas e pelas atenções que dispensaram aos Deputados pelo distrito, pois atrevo-me a esperar que os meus ilustres colegas concordarão em que o faça também em seu nome.

Vozes: — Muito bem!

O orador foi cumprimentado.

O Sr. Agostinho Cardoso: — Sr. Presidente: Um forte impulso de admiração e solidariedade leva-me a acrescentar ao que já foi dito na Assembleia por alguns dos meus companheiros da visita a Moçambique este despretensioso testemunho de como entendi e vi a fisionomia da nossa maravilhosa província do Indico, sem esquecer os inconvenientes e limitações de uma observação que foi superficial e breve.

Quinze dias voando de distrito para distrito, desde Lourenço Marques a Cabo Delgado, Vila Cabral e Tete, não chegam, evidentemente, para amadurecer e solidificar opiniões, mas bastam para se ter percepção de factos, ambientes e problemas.

Impressiona, em primeiro lugar, o apego da gente moçambicana — gente de cor e gente branca — à sua terra.

E ainda o veemente desejo e esforço de progredir e civilizar, que lavra como incêndio por toda a parte.

E ver o crescimento explosivo do porto de Nacala e as suas perspectivas para a navegação de grande calado contrastando com a quietude idílica desse retalho *do passado que é a ilha de Moçambique; é olhar para a periferia da cidade da Beira, onde, -dominados os pântanos, aumentam dia a dia os bairros novos, de variada é formosíssima arquitectura moderna, e onde também moderníssimas e vastas instalações portuárias substituíram os casebres da antiga companhia majestática.

E compreender o que significam em amor à terra iniciativas como a dos Hotéis de Turismo de Quelimane e Porto Amélia, os bairros novos de Vila Pery, a estalagem e a piscina de Manica, o nível internacional do Parque da Gorongosa.

E recordar em pormenor a grandiosidade de Lourenço Marques, nas -suas estruturas urbanas, nos seus jardins, edifícios, parques, institutos e fábricas, Lourenço Marques, capital cuja posição excêntrica em relação ao território da província vai buscar origem em razões históricas e de geografia económica conhecidas. E este esforço para progredir e crescer, que nas mais distantes e pequenas terras se acentua desde os primeiros ataques da Frelimo, constitui o grande desafio de Moçambique ao terrorismo.

Crescer, e crescer para ficar sòlidamente na terra portuguesa de África!

Cabora Bassa é símbolo deste espírito e desta atitude colectiva. Impressiona aí a gigantesca maquinaria, o trepidar dos veículos, o movimento dos operários, os túneis rasgados na montanha árida, o desvio do rio caudaloso, a barragem que cresce e as estruturas urbanas rapidamente criadas, onde milhares de pessoas, adultos e crianças, têm uma actividade normal de cidade.

Em segundo lugar, medite-se sobre o volume e a medida das dimensões humanas, geopaisagísticas e económico-administrativas, com a consciência que ali se tem, como em Angola, da grandeza dessas dimensões e da necessidade de trabalhar à escala delas.

Depois, a unanimidade militante de opiniões, de lés a lés da província, de que o seu duplo problema axial reside na intensificação do povoamento por gente metropolitana e na promoção cada vez mais acelerada e extensiva das populações -subevoluídas, com o desígnio de as aproximar persistentemente do nível de civilização da população branca. E sobretudo de que esta promoção, em marcha, é condição essencial para ganhar a guerra e ganhar a paz.

Como pressuposto destas ideias básicas, verifica-se forte consciencialização -da necessidade de expandir metodicamente a produção dos sectores primário e secundário, com o seu circuito complementar de distribuição, desde a rede de transportes e suas vias à colocação nos mercados.

Isto para que Moçambique consiga estruturar — na hora da descentralização e da autonomia administrativas — uma economia própria e próspera, para além do conjunto, aliás tão importante e precioso, das suas organizações portuárias, que fazem da província o grande cais da África no Indico, recebendo as mercadorias importadas pelos países do interior africano e as que eles exportam através desses portos. Quer isto dizer que ali se luta, tanto quanto pude observar, pela expansão do sector agro-pecuário, que se apoie numa boa rede de estradas, vias férreas e transportes marítimos, que baste pouco a pouco para o abastecimento interno em muitos aspectos e venha a atingir valores expressivos na exportação para a metrópole e o estrangeiro.

E, ainda, pela exploração que se desenha de minérios e pedras preciosas e por uma indústria que cresce a olhos vistos e irá encontrar em Cabora Bassa um caudal imenso de energia basilar.

Impressionante, uma experiência fabril que vi no arrabalde de Lourenço Marques, em que se demonstrou a possibilidade de criar boa mão-de-obra especializada com pessoal autóctone, mediante aprendizagem, salários e nível de vida semelhantes aos dos operários europeus. Não se põem diferenças de raça — o que há são diferenças de civilização e de nível social a esbater e superar —, dizia-me um português de cor, numa síntese que traduz a generalidade do pensamento moçambicano.

Do contacto com o comandante-chefe e a brilhante élite de oficiais altamente especializados que o cercam, da visita à zona de guerra, desde a base de Mueda ao aldeamento estratégico do Chai, desde as exposições dos governadores de distrito ou dos comandos sectoriais ao convívio com oficiais e soldados, à passagem pelos hospitais de Nampula — a progressiva capital militar da província —, em tudo o que pude observar nos aldeamentos definitivamente estruturados de Vila Cabral ou no colonato de Nova Madeira, tudo quanto pude espreitar para além das informações oficiosas permitiu-me avaliar a obra que o Exército está realizando na província, a reforma de mentalidade a que a sua presença conduziu, a realidade de uma estratégia que assegurará a vitória neste tipo de guerra que nos movem.