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8 DE FEVEREIRO DE 1973 4555

Existiria perigo também em aderir a uma ideologia que não tivesse na sua base uma doutrina verdadeira e orgânica e em refugiar-se nela como se se tratasse de uma explicação cabal e suficiente de tudo, e de arranjar, de tal modo, para si mesmo, um novo ídolo, de que se aceita, por vezes sem disso dar-se conta, o carácter totalitário e constrangedor. E pensa-se encontrar nisso uma justificação para o próprio agir, mesmo que este seja violento, uma adequação para um desejo generoso de serviço; este permanece, mas deixa-se absorver numa ideologia que - muito embora proponha certas vias de libertação para o homem - acaba finalmente por o escravizar.
Se nos nossos dias se tornou possível falar de um retrocesso das ideologias, este pode ser um tempo favorável para uma abertura para a transcendência concreta do cristianismo; entretanto, pode ser também o perigo mais acentuado de se cair num novo positivismo: a técnica universalizada como forma dominante de actividade, como um modo avassalador de existir, mesmo como linguagem, sem que o problema do seu significado seja realmente posto.

Aqui termina a primeira citação.
Ela justificaria só por si um mundo de comentários.
Limitar-me-ei, de momento, apenas a um: quem, ao ouvir o que antecede, não poderá deixar de pensar no que tem sido de há oito séculos para cá a linha tradicional de ser e de devir da Nação Portuguesa?
Quem não poderá aqui encontrar a fonte perene de toda uma tradição nacional que rejeitou sempre quaisquer extremismos e, até, da prática de uma "democracia orgânica", qual é a do actual regime português, corporativo e social, baseado desde sempre na doutrina cristã. E, mais especificamente em nossos dias, na aplicação do progresso do País da doutrina social da Igreja como em notável discurso aos delegados do I. N. T. P. recordou ainda há pouco o Presidente Marcelo Caetano?
Passarei agora à segunda citação daqueles parágrafos em que Paulo VI se refere à sociedade política:

A dupla aspiração - à igualdade e à participação - procura promover um tipo de sociedade democrática. Diversos modelos foram propostos e alguns deles ensaiados; nenhum deles, porém, proporciona completa satisfação; e, por isso, a busca permanentemente aberta, entre as tendências ideológicas e pragmáticas. O cristão tem o dever de participar, também ele, nesta busca diligente, na organização e na vida da sociedade política. Ser social, o homem constrói o seu destino numa série de grupos particulares que exigem, como seu complemento e como condição necessária para o próprio desenvolvimento, uma sociedade mais ampla, de características universais, a sociedade política. Toda a actividade privada deve enquadrar-se nesta sociedade ampliada e toma, por isso mesmo, a dimensão do bem comum.
Isto, de per si, já diz bem qual a importância de uma educação para a vida em sociedade, em que, para além da informação sobre os direitos de cada um, seja recordado também o seu necessário correlativo: o reconhecimento dos deveres de cada um em relação aos outros. O sentido e a prática do dever são, por sua vez, condicionados pelo domínio de si mesmo, pela aceitação das responsabilidades e das limitações impostas ao exercício da liberdade do indivíduo ou do grupo.
A acção política - será necessário acentuar que se trata prevalecentemente de uma acção e não de uma ideologia? - deve ter como base de sustentação um esquema de sociedade, coerente nos meios concretos que escolhe e na sua inspiração, a qual deve alimentar-se numa concepção plena da vocação do homem e das suas diferentes expressões sociais. Não compete nem ao Estado, nem sequer aos partidos políticos que estivessem fechados sobre si mesmos, procurar impor uma ideologia, por meios que viessem a redundar em ditadura dos espíritos, a pior de todas. É, sim, aos grupos culturais e religiosos - salvaguardada a liberdade de adesão que eles pressupõem - que assiste o direito de, pelas suas vias próprias e de maneira desinteressada, desenvolver no corpo social essas convicções supremas, acerca da natureza, da origem e do fim do homem e da sociedade.
Neste ponto, é oportuno recordar o princípio proclamado recentemente no II Concílio do Vaticano: "A verdade não se impõe de outro modo senão pela sua própria força de verdade, que penetra nos espíritos, ao mesmo tempo suave e fortemente."

Terminarei agora com a terceira citação, referindo o trecho em que o Santo Padre trata dos meios de comunicação social:

Entre as mudanças maiores do nosso tempo, nós não queremos deixar de salientar a importância crescente que assumem os meios de comunicação social e o seu influxo na transformação das mentalidades, dos conhecimentos, das organizações e da própria sociedade. Eles têm sem dúvida muitos aspectos positivos: graças a eles, chegam até nós, quase instantaneamente, as informações do Mundo inteiro, criando um contacto que elimina as distâncias, elementos de unidade entre todos os homens, e facultando uma difusão mais extensa da formação e da cultura.
Entretanto, estes mesmos meios de comunicação social, pela sua própria acção, chegam a representar como que um novo poder. E como não interrogar-se, então, sobre os detentores reais de tal poder, sobre as finalidades que eles intentam, sobre os meios que eles adoptam e, enfim, sobre a repercussão da sua mesma acção, quanto ao exercício das liberdades individuais, tanto no domínio político e ideológico como na vida social, económica e cultural? Sobre os homens que detêm este poder pesa uma grave responsabilidade moral, pelo que respeita à verdade das informações que devem difundir, pelo que respeita às necessidades e às reacções que elas suscitam e, ainda, pelo que respeita aos valores que elas propõem.
Mais ainda: com a televisão é um modo original de conhecimento e uma nova civilização que se esboça - a da imagem.