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16 DE MARÇO DE 1973 4781

ser ensinada, de acordo com a vida que todos temos de viver, e não subordinada a conceitos históricos, muito respeitáveis, sem dúvida, mas que o modo de viver dos homens há muito tempo ultrapassou?
O Porto é mentira que seja a tal cidade de trezentos mil habitantes que nos impõem rigidamente delimitada por uma rua que, se no tempo de Mouzinho da Silveira separava alguma coisa, agora já não separa nada. Tantas casas há do lado de fora como do lado de dentro. Na mesma ordem de ideias, todas as cidades da Europa seriam ainda delimitadas por barbacãs medievais...
O Porto, em termos de verdade a que não podemos fugir, é uma região onde vivem tantos habitantes quantos os que vivem na região de Lisboa, e como tal tem de ser tratado. Porque nem sempre o tem sido, nem tantas vezes o é, é que se dá o desequilíbrio profundo que aqui venho, não digo já verberar, mas, pelo menos, pedir que, em nome da justiça, se faça desaparecer.
Sei que o tema que estou a tratar excede em muito o despretensioso de uma simples intervenção de antes da ordem do dia. Penso, no entanto, que o que nos fica de legislatura não me permite já o aviso prévio profundo e debatido que a importância do problema justificaria. Aviso prévio que teria de ser longamente preparado, com intervenção de todas as regiões, donde saísse moção tão imperativa quanto possível, que a todos obrigasse. Só assim serviria. Porque, que as populações já se não contenham com palavras, prova-o à saciedade a desertificação de grande parte do nosso interior, num movimento cujas consequências últimas ainda estamos longe de poder avaliar.

O Sr. Jorge Correia: - Muito bem!

O Orador: - Penso que, neste como em muitos outros casos, há que definir uma política rectilínea e dura, se necessário, e, custe o que custar e custe a quem custar, há que a seguir, por cima de todos os interesses e de todos os incómodos. É o bem da Nação que o exige!
Com estas palavras não quero senão introduzir uma série de problemas que aqui penso ainda trazer neste final de legislatura, se o alto critério de V. Exa., Sr. Presidente, mo permitir, todos tendentes a um mais justo equilíbrio das oportunidades que a Nação dá ou tem obrigação de dar a todos os portugueses.
Eu bem sei que, atento ao que vai acontecendo, o Governo se tem rodeado de órgãos vocacionados para atender às necessidades das diferentes regiões, com uma nota de merecida referência para as comissões regionais de planeamento. Mau grado todos os esforços feitos, são bem outras, e todos nós sabemos que o são, as molas reais que forjam a evolução da nossa comunidade.
Suponho que a acção tem de ser muito mais decidida e muito mais continuada. Não se vencem ondas com espadas, por muito duras que as espadas possam ser. Quando se quer, tem de se querer "sempre" e querer em "todas" as coisas. Peço licença para frisar bem as palavras "sempre" e "todas". Quando se capitula, seja perante o que for ou seja perante quem for, fica-se sem razão para impor sempre, e sempre acima de tudo, só o interesse da Nação. Que neste caso, suponho que ninguém o porá em dúvida, coincide exactamente com o equilíbrio económico-social de todas as regiões do País.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E agora, meus senhores, para tirar proveito do tempo que já nos escasseia, tenho de começar por algum dos muitos problemas que sinto a obrigação de aqui trazer. Começarei, parece-me curial, pelo que reputo mais importante de todos, pelo que, em minha opinião, é a verdadeira razão de todos os outros: o dreno de cérebros.
Larga tradição tem neste País. A corte, quando a havia, e mesmo quando, pelo menos em teoria, a não há, sempre constituiu chamadouro premente para quantos no Norte se distinguiram ou se distinguem. Hoje, nestes tempos de feroz materialismo, o chamadouro torna-se mais gritante nos altos salários que aqui, e só aqui, são concedidos, de uma forma geral, a todas as classes, mas com uma diferença muito mais acentuada, quanto a mim inconcebivelmente acentuada, no que respeita às classes dirigentes. Que, ainda por cima, aqui têm francas possibilidades de confortáveis acumulações, impossíveis ou quase impossíveis em todo o resto do País.
Não admira, assim, meus senhores, que quem quer que se distinga no Norte logo seja inebriado pelo canto de sereia que desta cidade lhe é dirigido e esteja, portanto e sempre, predisposto para trocar a região em que nasceu, porventura aprendeu e se fez homem, pela muito mais cómoda e sobretudo mais rendosa posição que de Lisboa lhe oferecem. E será mais um lisboeta, absoluta e compreensivelmente amarrado a interesses que são os de sua nova pátria, que, se não o referir, pelo menos pensará que a terra onde nasceu é uma terra atrasada e ingrata, que apenas serviu para rampa de lançamento do seu triunfo.
Se o valor deste homem for real, o que, felizmente, nem sempre acontece, o Norte terá ficado ainda mais pobre e Lisboa ainda mais rica.
Porque, meus senhores, para mim, hoje, mais do que nunca, a verdadeira riqueza das terras são os homens de que dispõem. Tudo o resto, hoje, se transforma, se vence ou se compra.
Falei até aqui apenas de homens. Falarei agora de empresas. Também de empresas, como de homens, o Norte foi sempre e ainda é fértil. De ambos, lá, por virtude própria da raça, a natalidade é grande.
Também as empresas nascem e penosamente crescem naquela terra de fragas onde a vida é dura e os homens têm de viver a quase 700 habitantes por quilómetro quadrado, contando com as pedras... Lutam e, eu não diria que triunfam, prefiro apenas dizer que alguns homens e algumas empresas se distinguem.
Lá não é fácil às empresas triunfar. Podem crescer até determinada dimensão, mas depois começam as dificuldades próprias do crescimento e aparece sempre ou quase sempre uma mão caridosa que daqui se estende para, por outros e com outros meios, quantas vezes meios que não estão ao alcance das empresas do Norte, não deixar morrer o que parecia condenado.
Nem lhes podemos querer mal, no fim de contas. Estão no seu pleno direito e, no fundo, só é benéfica a sua acção. Mas é mais uma pedra do colonialismo