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4782 DIÁRIO DAS SESSÕES N.° 237

industrial que fica incrustada no nosso tecido, mais desequilíbrio que se forja.
Já não falo das empresas em que o Estado tem domínio e que, por simples ukase, são comandadas de Lisboa.
Mas agora a tendência avançou. Mesmo quem tem muito dinheiro, para que possa continuar a ter ou para que possa um dia ter mais, tem de emigrar. - É recente, é dos nossos dias. Até aqui não era preciso. A banca, a proba e sólida banca do Porto, foi sempre um dos nossos orgulhos e, apesar de tudo, a verdadeira fonte de energia industrial do Norte.
Que vemos agora? Que lentamente, quase sem se dar por isso, a partir de medidas que classificaríamos de conventuais, pouco a pouco, quase pessoa a pessoa, a decisão dos grandes bancos do Norte, sua riqueza e seu legítimo orgulho, como digo, vem passando para Lisboa.
Tudo quanto nesta terra tem, ou quer ter, ou precisa de ter âmbito nacional é condição sine qua non - porquê nunca pudemos compreender- que tenha a sua sede em Lisboa. No Porto, admitem-nos quando muito, com um ou outro nome, invertebradas delegações que, podemos dizer sempre, nunca passam de simples caixas de correio. Decisão, nenhuma.
Não queria dar exemplos, tão geral e tão sangrento sentimos o problema. No entanto a flagrante oportunidade obriga-nos a trazer aqui um exemplo, que não é senão um entre todos os outros.
Vai ser criado muito em breve o Centro Técnico do Metal, cuja utilidade ninguém neste País por certo discutirá. Que diz o artigo 1.°, não podia sequer ser o 2.°!, dos seus projectados estatutos? Textualmente que "o Centro Técnico do Metal terá a sua sede em Lisboa". Sic!
A maior parte e os mais pobres dos empresários e dos operários metalúrgicos deste País, apesar da evolução brutal em contrário dos últimos anos, estão ainda no Norte. Por outro lado, perante a opção Europa que escolhemos e no embate das novas condições, são sem dúvida as pequenas e pobres empresas do Norte as que mais precisam de auxílio, aliás, estou certo, as únicas para quem poderá ser útil o auxílio que o novo organismo, nos primeiros tempos, poderá prestar. As grandes unidades do Sul, criadas ao abrigo do poder económico que aqui se concentra e, a seu tempo, da confortável protecção do condicionamento industrial, essas todas terão ou terão obrigação de ter quadros e laboratórios que o novo instituto ainda levará o seu tempo a atingir.
Pois, apesar de tudo, acha-se indiscutível, diria melhor sacramental, que no artigo 1.° dos estatutos fique bem consagrado que o Centro Técnico tem de ter a sua sede em Lisboa.
Como exemplo, supondo que será elucidativo e colherá. A que leva, para já, mais esta imposição? Pois a que, em rigor e a menos de descentralização que de início nos parece excessiva, sejam transferidos imediatamente para Lisboa as sedes, os técnicos e os laboratórios do Centro de Cooperação dos Industriais de Máquinas-Ferramentas (Cimaf), do Centro dos Industriais de Máquinas Têxteis (Cimatex) e da Associação Portuguesa de Fundição, instituições que já custaram muito esforço aos industriais do Norte e das quais as duas primeiras são representativas de actividades industriais unicamente exercidas no Norte.
Nada me admirará - antes, perdoem-me o desabafo, tenho a certeza - , que, seguindo sempre a mesma linha e apesar da geografia da produção, o artigo 1.° dos estatutos do futuro Centro Técnico das Indústrias Têxteis há-de impor também que a sua sede seja em Lisboa. Por escandaloso que seja!
Em Lisboa se concentram já exclusivamente os investigadores do Instituto Nacional de Investigação Industrial, os do Laboratório Nacional de Engenharia Civil, os dos laboratórios militares, que sei eu?, todos quantos a Nação paga na sua ciência. Só pergunto: só Lisboa os merecerá ou, pior, só Lisboa os precisará?
Porquê Lisboa e só Lisboa, sempre só Lisboa neste País? Continuo a perguntar-me e a perguntar a quantos me possam fazer compreender: será assim que se desenvolverá Portugal?
Os resultados infelizmente não darão muita razão a quem me queira convencer de que é. Sinceramente, não me parece que seja concentrando em Lisboa todos os poderes de decisão e todos os cérebros que reputamos válidos, como temos concentrado e, mais e mais, continuamos a procurar concentrar, que faremos o País que queremos e temos obrigação de legar aos nossos filhos.
Por tudo, e ainda porque, querendo ser sincero até ao fim, tenho de dizer que, na deslocação para Lisboa, se haverá muita coisa que se ganha, há incontestavelmente também muita coisa que se perde. Que faça o balanço quem o souber fazer!
O que não acho justo é que quem queira ser promovido tenha de escolher entre o migrar para aqui como os outros e o orgulho, se não a necessidade, de permanecer na terra onde nasceu, tendo de aceitar, todavia, neste caso, o comando de alguém que vive em Lisboa.
Que resultado final dará tudo isto? Pois, por força, que os que teimam em viver no Norte passam a ser e a sentir como subalternos que realmente são, sempre atentos às ordens ou às veleidades de quem não conhece intrinsecamente os seus problemas, todos os dias à espera que, numa rápida visita de inspecção, sejam deitados abaixo todos os sonhos que conseguiram sonhar ou todos os estudos que maduramente foram pensados.
E cada vez maior será uma distância que a submissão ou o receio nunca mais permitirão colmatar. Mais e mais será assim. Economias de escala, influência governamental, melhores quadros e mais dinheiro ou o seu comando concorrerão em cascata para que o Norte, outrora livre e independente, se apague como região dinamizadora do País que sempre foi, para ser apenas zona de bom pessoal subalterno que executa bem e sem pestanejar as ordens recebidas de Lisboa.
Restar-nos-ão, é verdade, como último reduto, as profissões liberais - de sua natureza, e, pelo menos, em princípio, menos submetidas ao poder centralizador - e também, tenho a certeza, algumas unidades económicas que, à força de valor pessoal e de sacrifícios sem fim, se consigam manter independentes dos dinheiros e dos poderes de Lisboa.
Mas o que poderão essas poucas unidades contra toda a força económica que aqui se concentra? Força económica que tantas vezes se funda, ou pelo menos no passado se fundou, num melhor entendimento com o