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29 DE MARÇO DE 1973 4849

Reforçadas substancialmente as liberalidades com que o Sr. Joaquim Pena Mechó - porventura mais português que muitos dos nascidos em Portugal - se dispôs a colaborar para a solução do problema habitacional dos ocupantes das barracas do vale de Algés, e com participação agora acrescida nos trabalhos e serviços por parte do Fundo de Fomento da Habitação e do Instituto da Família e Acção Social, creio que Miraflores não destoará do nome a que ganhou jus pelas benemerências a que se prestou.
Recordando as palavras do presidente do conselho 4e administração da referida empresa:

Sei que hoje é um dia de grande alegria para todos os que estamos aqui a consolidar um acto [...] desejado desde há longos anos. Sabemos a repercussão moral e social do que significa esta escritura que acabámos de assinar e o precedente que abre esta entrega que fazemos de 48 000 contos para contribuir a resolver o problema das barracas que envolvem a cidade de Lisboa. Desde 1963 que temos combatido, com todo o ardor, para que esta situação se regularizasse, do que teria resultado que 500 famílias dos Bairros de Santas Martas e do Pereiro teriam sido socialmente promovidas e alcançado uma vida humana e digna.

Recordando tais palavras, meditemos a lição que delas se colhe:

A desumanidade e ingratidão de alguns em quem confiámos, com grande infelicidade nossa, dificultaram este momento, durante quase onze anos, com prejuízo para todos. As difamações e as intrigas de que fomos vítimas muitos sofrimentos e preocupações nos deram. Nunca nos abandonou, porém, a fé no triunfo da verdade e a justiça dos homens. Mais do que os nossos sofrimentos, sentimos os daqueles que, pela malvadez, foram tão injustamente condenados a tantos anos de frio, incomodidade e miséria.

Assim vai o mundo quando falecem de todo os mais elementares princípios morais.
Mas Algés não é apenas o seu vale; vem beijar as salsas ondas no tempo em que foi cuidada estância balnear de lisboetas.
Não dispensava outras distracções; a própria praça de touros aí está a atestar, no desconforto paisagístico das suas paredes em ruínas, as distracções dessa Lisboa do passado.
E mais além, junto à linha do Estoril e à Marginal, erguem-se, abarracadas, outras construções, a pôr uma nota de mau gosto no panorama, nomeadamente desfrutado por turistas.
Impõe-se valorizar toda a zona adjacente ao rio.
Lisboa e o Tejo casaram-se outrora, no entrelaçar da terra e águas, no viver das suas aventuras marítimas e do seu comércio, na azáfama e pitoresco da sua vida ribeirinha.
Mas, posteriormente, a capital parecia querer voltar as costas ao seu rio, como que envergonhada, a embrenhar-se por esses vales interiores .entre colinas, a fugir ao seu destino: o rio e o mar, que lhe deram largos fundamentos para existir.
Razão tinha Afonso Lopes Vieira, esse poeta enamorado do "verde pino" e do prateado das águas, ao clamar contra esse atentado da natureza, o divórcio entre Lisboa e o rio. Ou, mais tarde, essoutro Tomás Ribeiro Colaço, homem de sensibilidade e de gosto, filho de uma família de artistas, ele próprio artista da palavra, prosador dos melhores e poeta, a gritar que Lisboa estava a trair o Tejo.
Mas a cidade e o rio parecem querer voltar a encontrar-se, assim no-lo prometeram, em tempos, o Sr. Ministro das Obras Públicas e o precedente "homem grande" da Câmara Municipal lisboeta, ao cuidarem do futuro arranjo urbanístico da zona da Praça do Comércio ao Cais do Sodré.
Que a cidade volte a mirar-se no Tejo, a recolher-se no prateado - que já foi mais... - das suas águas, que o sonho se torne realidade e a reconciliação venha breve - o voto de um deputado por Lisboa.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Mas, para isso, quanto mais não haverá que melhorar?
Entre Algés e o Terreiro que foi "do Paço", ergue-se a meio caminho, bem perto já da Praça de Afonso de Albuquerque e da estação fluvial de Belém, essa figura avantajada, adamastórica, desconforme e horrenda, soturna, ocre (dos primeiros temas da revolução industrial portuguesa): os edifícios da Central (termoeléctrica) Tejo.
Por quanto tempo mais aí permanecerão, até ser desmontada, que a sua provecta idade há muito o mereceu?
E já que fomos de longada até Belém, prossigamos a jornada e vejamos o que esteticamente deforma essoutro canto da Praça, dita "do Império" e melhor se lhe chamara porventura "de Vasco da Gama", igualmente zona nobre da cidade em sua abertura para o rio.
Trata-se de um depósito de novas e velhas viaturas, muitas delas abandonadas, reformadas, ferrugentas, que cumpriram a sua missão ao serviço das obras públicas do empreendedor Ministério respectivo.
Já depois que estas palavras alinhávamos e passadas à máquina nos chegaram, começaram obras de substituição de um inestético tapume de madeira algo carcomida e desbotada por um mais apresentável muro de tijolo. Do mal o menos. Mas o problema do uso da inadequada utilização e destino de terrenos nessoutra praça nobre de Lisboa fronteira aos Jerónimos e ao Museu de Marinha persiste.
Não seria possível encontrar local algo mais retirado da vista de quem circula ou passa pela estrada marginal e zona ribeirinha, ou utiliza - sobrelevado em vistas - os cosmopolitas transportes da linha do Estoril?
Creio que sim, e à superior consideração e boa vontade bastas vezes demonstrada por S. Exa. o Sr. Ministro das Obras Públicas, no atendimento de casos levantados, me acolho à espera de resolução. Assim seja.

O Sr. Presidente: - Vamos passar à

Ordem do dia

Continuação do debate do aviso prévio sobre a indústria do turismo no desenvolvimento económico e social do ultramar.
Tem a palavra o Sr. Deputado Delfino Ribeiro.