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4916 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 244

cendo a ligação que antes existiu entre os dois rios, processando-se através do porto de Quelimane a navegação fluvial para o Zambeze, isto em 1908, tendo mesmo chegado a mandar elaborar uma planta do referido canal.
Desde tempos imemoriais o porto de Quelimane foi permanentemente utilizado, e em 24 de Janeiro de 1948 Vasco da Gama visitou-o, tendo-lhe chamado o rio dos Bons Sinais.
Por Quelimane se fazia a navegação fluvial que se dirigia ao Zambeze, servindo de porto e escala do rio do Outo, como outrora aquele era chamado, todos os escritores antigos se referindo à ligação permanente que existia entre os dois rios.
Ainda em 1898 e 1899, salvo erro, os maquinismos destinados à construção da fábrica da Senna Sugar, em Mopeia, nas margens do Zambeze, foram desembarcados em Quelimane e daqui levados em barcaças, através do Muto, até ao local da sua instalação.
Esta fábrica foi muitos anos depois transferida para o Luabo, a jusante do local primitivo, onde ainda se encontra.
Para confronto com as condições hidrográficas do Cuama e do Chinde, atrás referidas,, analisemos as do porto de Quelimane e respectiva barra.
Sabe-se que as sondas reduzidas mínimas da barra de Quelimane eram de 5,5 m em 1586, de 4,5 m em 1710, com periódicas variações de profundidade, mas que oscilaram sempre entre os 3 e 4 m, aproximadamente, até cerca de 1960, data em que a situação se tornou subitamente alarmante.
Ainda em 1907 Freire de Andrade referia que a barra de Quelimane podia dar entrada a navios com um calado de 20 pés em qualquer preia-mar, enquanto na mesma data a barra do Chinde apenas apresentava uma profundidade máxima de 13 pés e só em marés de águas vivas, permitindo o acesso a navios com calado um pouco inferior a essa profundidade.
Em 1910 ainda se verificava na barra a sonda mínima reduzida de 3,6 m.
Mas em princípios de 1960 a sonda mínima reduzida encontrada foi apenas de 1,8 m, indo-se modificando ao longo do ano até se estabilizar temporariamente nos 2,4 m.
Em Julho de 1965 a situação agravou-se mais na barra, e foi então encarregado o capitão-tenente engenheiro hidrógrafo Rosa Coutinho de estudar localmente o problema, o qual alterou a passagem sobre o banco da barra.
No início do ano em curso a sonda mínima reduzida na entrada da barra era apenas de 1,6 m, permitindo a entrada no porto de navios com um calado máximo de 5,5 m nas preia-mares de águas vivas e de 3,8 m nas preia-mares de águas mortas, o que equivale, para este último caso, a cerca de 11 pés de calado.
Quão longe se está das possibilidades existentes ainda em 1910, e que se mantiveram com certa estabilidade até cerca de 1960, em que podiam entrar em qualquer preia-mar navios até 20 pés de calado!
Então, pode perguntar-se por que razão as condições de acesso ao porto de Quelimane se deterioraram tão progressiva e rapidamente a partir de 1960?
Os técnicos referem que se verificou uma progressiva e sensível diminuição da potência hidráulica do rio, pela diminuição do seu volume de águas, o que provocou o seu rápido envelhecimento, caracterizado por assoreamento, meandrização e crescimento de bancos de lodo e ilhas, sendo tal fenómeno progressivo e acelerado pelo enfraquecimento das correntes de fluxo e refluxo.
Como atrás se referiu, o rio dos Bons Sinais foi já em tempos recuados um braço do Zambeze, deste recebendo volumes consideráveis de água que limpavam a barra e canal de acesso ao porto, mantendo-os profundos.
A partir de certa altura, ao que uns entendem devido ao alargamento, e aprofundamento do leito do rio, na época seca as águas deixaram de transbordar para os Bons Sinais, crescendo as dificuldades de ligação, agravadas muito mais tarde, segundo reza a tradição, por obras de tapagem dessa ligação para melhor aproveitamento de certos terrenos marginais na maior parte do ano.
Qualquer que tivesse sido o motivo, a verdade é que lentamente essa ligação foi desaparecendo, e só na época das chuvas ela se verificava, e mais tarde somente quando as cheias do rio eram grandes.
As últimas grandes cheias em que o Zambeze lançou águas para o rio dos Bons Sinais tiveram lugar nos anos de 1952 e 1958. Neste último ano estava muito adiantada a construção da barragem de Kariba, na Rodésia, mas não foi possível ainda que o grande lago artificialmente criado e já na fase de enchimento aproveitasse toda a sua capacidade, pelo que foram abertas as comportas.
Entretanto a obra completou-se, tendo Kariba começado a fornecer energia a partir de 1960, e desde então nunca mais o Zambeze teve cheias, o caudal foi em grande parte domado e regularizado, mais o será com a breve construção de Cabora Bassa, e nunca mais o rio dos Bons Sinais recebeu águas do Zambeze, nem receberá.
O rio dos Bons Sinais transformou-se, a partir de então, quase numa simples entrada de águas de maré, acrescida de uma "pequena e complicada bacia hidrográfica", e as correntes de vazante tornaram-se cada vez menos intensas, fazendo-se sentir mais os efeitos nefastos da acção da ondulação e da vaga e do transporte aluvionar costeiro no progressivo assoreamento e na crítica diminuição dos fundos do porto e da barra.
A situação do porto de Quelimane tornou-se assim, pelas causas apontadas, verdadeiramente trágica e carecida de uma solução hidrográfica de fundo, que possa aumentar as correntes de vazante, não bastando periódicas dragageas, que têm vindo ultimamente a ser executadas para resolver a situação.
É que, como refere Sousa Leitão, no trabalho citado sobre o porto de Quelimane:

Caso não seja artificialmente quebrada esta sequência, por obras de dragagem e correcção hidráulica, o porto tende a fechar em curto espaço de tempo, à semelhança do que aconteceu nos rios Save, Limpopo, Linde, etc, que outrora deram entrada a navios.

E como solução de fundo e definitiva, preconiza o mesmo autor a "abertura, a montante desse canal - canal norte da ilha Chuado Dembe, em frente quase do cais de Quelimane-, de uma caixa de marés (lagoa) suficientemente extensa, de modo- a obter cor-