O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

5 DE ABRIL DE 1973 4917

rentes de vazante que mantenham profundas as zonas do fundeadouro e do cais", e também as da barra, acrescentamos nós.
Mas então, se a solução de fundo reside na obtenção de correntes de vazante mais fortes, aumentando deste modo a potência hidráulica do rio, uma outra solução se afigura mais eficiente, e essa seria a da reabertura do canal do Muto, permitindo novamente a ligação do rio dos Bons Sinais com o Zambeze, fazendo de Quelimane o grande porto oceânico que estabeleça a ligação fluvial com todo o vale do Zambeze, Tete e zonas adjacentes, solução essa, repete-se, que não é nova e foi sugerida, planeada e quase começou a ser executada pelo Governador-Geral Freire de Andrade, no início deste século.
Razões várias se podem aduzir a favor desta solução para resolver o problema da navegabilidade do Zambeze e construção do porto respectivo:
a) Quelimane é uma cidade que presentemente tem à volta de 20 000 habitantes ligados às actividades implantadas, o movimento do seu porto é intenso, embora circunscrito à cabotagem, sendo o terceiro em movimento de todos os portos de Moçambique até há poucos anos, só ultimamente ultrapassado pelo de Nacala, que lhe ocupou o lugar, pelas obras neste realizadas e esplêndidas condições naturais que possui. Todavia, a sua importância e significado na economia da região obrigam a que ele se mantenha, e o conjunto de todas as obras públicas e privadas construídas na cidade elevam-se a muitos milhões de contos, havendo que pensar-se nos prejuízos elevadíssimos resultantes se não forem realizadas obras muito dispendiosas que resolvam adequadamente os problemas do porto e barra.
As pessoas de Quelimane não suportariam que à sua cidade viesse progressivamente a suceder o mesmo que a Inhambane e à ilha de Moçambique, para falar só em casos recentes e actuais, e, dada a dimensão e importância da cidade, não se vê que espécie de actividades substitutivas pudessem encontrar-se para suprir o progressivo desaparecimento do porto;
b) Porque as obras de correcção hidráulica necessárias para voltar a dar ao porto de Quelimane as condições anteriores são de custo muito elevado, há que pensar-se em assegurar o aumento de movimentação de cargas através dele, para se retirar delas a indispensável compensação.
Isso não parece difícil de conseguir, desde que não sejam feitos esforços para canalizar erradamente a outros portos cargas que tradicionalmente são manuseadas neste, e se possibilite a movimentação de cargas que naturalmente o podem procurar, como sejam vários produtos do vizinho Malawi, da zona fronteira a Milange, designadamente exportações de chá, tabaco, etc., e importação de mercadorias várias.
Quanto ao chá, o porto natural de saída de todo o produzido em Moçambique e no país vizinho é o de Quelimane, podendo vir a localizar-se aqui a actividade de empacotamento e preparação dos lotes prontos a serem enviados para os mercados mundiais, com relevante interesse económico, o que presentemente não é possível pela repartição das exportações entre a Beira, Quelimane e Nacala, nem o será nunca enquanto esta repartição se mantiver.
Ainda recentemente produtores do Malawi pediram para movimentar pelo porto de Quelimane, por razões de maior proximidade e economia nos transportes, 800 t semanais de mercadorias, nos dois sentidos, encalhando a pretensão com diversas oposições e obstáculos, mas parecendo a caminho de solução, dado que foi publicado o recente Decreto n.° 109/73, de 16 de Março, o qual fixou o imposto do selo devido pelas mercadorias em trânsito directo e indirecto pelo porto de Quelimane, destinadas ao Malawi ou dali procedentes, com transporte pela via rodoviária a cargo dos caminhos de ferro, trânsito esse que nunca foi possível fazer-se por obstáculos que sempre se têm levantado.
Não é difícil, assim, conseguir-se em pouco tempo um aumento de cargas que justifique as obras necessárias;
c) Todavia, se as obras de correcção hidráulica incluírem a abertura do canal do Muto e a movimentação em Quelimane das cargas provenientes e destinadas a Tete e vale do Zambeze, é indiscutível que o aumento de tráfego resultante seria extraordinário e rápido e justificaria amplamente as despesas a fazer.
Acresce que não seria necessário realizar a obra do alargamento de uma extensa lagoa que servisse de caixa de marés, única que se afigura poder resolver as dificuldades das correntes fracas de vazante e os problemas do porto e barra, e o seu custo elevado aproveitar-se-ia para a realização das obras de abertura do canal.
São elementos que tornam vantajosa a preferência pela reabertura do canal do Muto.
Por outro lado, dificilmente se poderá justificar economicamente a existência de dois grandes portos, um em Quelimane e outro no delta do Zambeze, mas como o primeiro não pode ser abandonado e tem de ser melhorado, dados os enormes interesses económicos já radicados, a solução que se preconiza resolveria da melhor maneira a dificuldade, se outras vantagens não houvesse;
d) Quelimane é a testa de ponte de ligações rodoviárias com todo o distrito da Zambézia, possuindo estrada asfaltada de saída até muito além da ligação do projectado eixo rodoviário centro-nordeste, a iniciar brevemente, e por ele ficará ligada aos distritos do Sul e Norte do Estado, sendo igualmente testa de ponte de um caminho de ferro de 150 km de extensão, na direcção do interior.
A escolha de um novo porto no delta do Zambeze, do qual não saem ligações rodoviárias para o interior sem condições de utilização, obrigaria à execução de todo um vasto plano rodoviário, caríssimo, atenta a natureza alagadiça dos terrenos por onde teria de passar, e com numerosas obras de arte, por serem inúmeros os rios a atravessar.
Portanto, a opção delta do Zambeze implicaria novas e enormes despesas em outros sectores, e para mais absolutamente indispensáveis, com o encarecimento global do custo das obras;
e) Mas fazer um porto implica também a construção de um novo centro urbano, com tudo o que requer, edifícios públicos e privados, captação e fornecimento de água, energia, esgotos, obras públicas diversas de urbanização, criar serviços, e quanto custa isso, a levar em conta no custo total da implantação de um porto no delta?