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25 DE ABRIL DE 1973
vez que a autonomia administrativa é bem que nenhum madeirense desejaria perder.
Mas voltemos à análise da conjuntura económica da Madeira. Concretizando melhor, podemos dizer que, no fundo, tudo se resume no desfasamento entre o motor essencial do desenvolvimento do arquipélago, que é o turismo, agora na fase de expansão hoteleira, e as infra-estruturas sócio-económicas, urbanísticas, especificamente turísticas e de transportes, que têm de alimentar esse turismo e as necessidades da população.
Pretende-se não perder o comboio, em ordem a chegar a tempo —sob o ponto de vista sócio-económico de acompanhar a expansão turística que se não deseja travar e que, aliás, caminha equilibradamente.
Acrescente-se, e é óbvio, que a promoção das infra-estruturas do desenvolvimento sócio-económico constitui o grande antídoto para a emigração, despovoadora dos campos que ficam por cultivar, arrebatando mão-de-obra especializada e dissociando a família. Se a emigração, com o turismo, tem conseguido colmatar a balança comercial madeirense, é incontestável que o emigrante tende a fixar-se no estrangeiro e a chamar a família —quando não a esquece— para junto de si.
O turismo e as actividades que lhe são subsidiárias, como as unidades fabris antigas ou que vão surgindo, dirigidas ao consumo interno ou à exportação (indústria de confecção de vestuário, alimentação, manufactura de vimes, marcenaria, etc.) e os artesanatos (bordados, flores, artefactos turísticos) ao lado da expansão agro-pecuária e comercial—, todos estes, e outros factores de desenvolvimento, acabarão por reduzir essa emigração, utilizando uma mão-de-obra abundante, promovendo empregos mais bem remunerados, desencadeando um movimento populacional no sentido da zona sul da ilha — a zona turística urbanizável, onde também aumentará o sector terciário.
Será possível, assim, fazer baixar a percentagem populacional do sector primário (50 % actualmente) para um número que permita melhor rendimento do operário agrícola especializado e do pequeno agricultor na zona rural, já que a capitação do rendimento do distrito não vai ainda além de 10 contos anuais.
Debrucemo-nos agora, ràpidamente, sobre vários aspectos sectoriais:
Agricultura: desenha-se aí nítida situação de crise — palavra que assusta certos dirigentes— nas três principais culturas clássicas com grande expressão económica: a banana, a cana-sácarina e a vinha.
O problema das bananas, tantas vezes debatido, resume-se na impotência de comercializar e absorver no continente os volumes a exportar, após a concorrência da banana do ultramar, e na impotência ainda de reduzir a enorme diferença entre o que se paga por unidade ao agricultor e o que paga o consumidor em Lisboa — seguindo e estruturando o respectivo circuito comercial.
Perante esta impotência, que me parece irreversível, há que reconverter uma parte da cultura da banana noutra produção e encontrar uma forma de colaborante comercialização entre os mercados produtores, madeirense e ultramarino, até porque este último necessita de conquistar os mercados estrangeiros, já que
a sua produção ultrapassa em muito a capacidade de absorção do continente.
Na cana sacarina a situação é mais grave. Degrada-se a sua qualidade progressivamente, não sendo rentável o conjunto de operações em vista a melhorá-la; o seu custo, o mais alto do mundo, é, todavia, insuficiente para o agricultor. A conjugação destes dois factores e o custo dos transportes tornam a sua exploração de pouco interesse industrial —ia a dizer deficitário— para uma fábrica que envelhece e para a qual as perspectivas industriais não permitem considerar vantajosa a sua modernização.
Alto o custo do açúcar, cuja produção é, aliás, cada vez menor em relação ao total do consumo, e que, importado na totalidade, poderia ser vendido mais barato ao público, que o paga mais caro do que no continente; inviável a utilização da cana-sacarina exclusivamente para álcool, a exportar em parte para o continente; acumulou-se um fundo de compensação proveniente, em parte, de lucros no açúcar importado, e que ultrapassa os 50 000 contos. Não esqueçamos que essa verba pertence à Madeira.
Fica de pé, com boas perspectivas, a indústria de aguardente e a de mel, para as quais, admitindo mesmo uma certa expansão, é necessária apenas uma pequena área de cultura sacarina.
Os terrenos de cana-sacarina acabarão por ter de ser convertidos, em grande parte, noutras culturas.
O problema da vinha é diametralmente oposto aos precedentes. Trata-se de uma crise de desenvolvimento. A produção de vinho da Madeira é insuficiente para o consumo dos mercados que podem ser conquistados com o apoio do Fundo de Fomento de Exportação.
Mas impõe-se a reconversão acelerada dos actuais «produtores directos» em castas nobres, limitando a produção daqueles ao consumo local.
Tal reconversão está a fazer-se, mas receamos que a ritmo insuficiente em relação aos prementes condicionalismos internacionais, os quais exigem uma adaptação rápida e de vária ordem na produção e na exportação, esta última a ser coordenada sem que deva esquecer-se a organização comunitária dos viticultores.
A expansão conduzida da viticultura pode responder, em parte, à necessária reconversão dos terrenos de cana-sacarina e de banana e pesar positivamente na balança comercial da Madeira.
Mas é sobretudo na horto-floricultura, ria produção de «primores», de vegetais citrinos e outros frutos — resistentes à invasão concorrencial do continente e do estrangeiro — que deve desenhar-se a reconversão das culturas, com diversificação de produtos. E ainda nas forragens, que a longa e insuficiente actuação dos velhos campos experimentais existentes não conseguiu estandardizar e expandir, mas que podem vir a apoiar fortemente o desenvolvimento da pecuária, onde começa a desenhar-se uma interessante experiência cooperativista no Norte da ilha e onde a inseminação artificial vem apresentando resultados excepcionalmente bons. Há zonas da ilha com culturas deficitárias em socalcos pouco acessíveis, substituíveis por prados de pastagens.
A floricultura, ao lado de grandes explorações industrializadas que vão surgindo, podia dar lugar a um artesanato generalizado, como seu complemento, de certo modo semelhante ao que foi o artesanato do